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TIRO LIVRE

Fogo amigo

A esticadinha na zona da Libertadores pode até ser providencial, contudo, não resolve todos os problemas alvinegros

postado em 27/10/2017 12:00 / atualizado em 27/10/2017 09:20

Bruno Cantini / Atlético

Você já se imaginou torcendo pelo sucesso de seu maior adversário? Já se viu diante da possibilidade de desejar que seu arquirrival se dê bem? Já pensou em ficar feliz com vitórias alheias? Já se sentiu bem por ajudar um oponente? Não, isso não é apenas um exercício de altruísmo e sim a situação no mínimo inusitada que ficou reservada para a reta final do Campeonato Brasileiro. De alguma forma, quiseram os deuses do futebol que, no apagar das luzes de 2017, o Atlético dependesse de seus rivais históricos para encerrar a temporada com, pelo menos, um objetivo alcançado: a conquista da vaga na Copa Libertadores.

Matematicamente falando, o alvinegro depende apenas de si para se garantir no torneio sul-americano pela sexta vez seguida. Restando oito rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro, e portanto com 24 pontos a disputar, o Galo, teoricamente, tem margem suficiente para subir, com seus próprios pés, os degraus que o levarão à competição interclubes mais importante das Américas. Até porque, nessa caminhada haverá confrontos diretos, contra Botafogo, Santos e Vasco, que ajudariam na contagem.

Mas da teoria para a prática há um parêntese importante: esperar 100% de aproveitamento do Galo a esta altura do campeonato não soa muito factível. Noves fora a irregularidade da equipe ao longo do ano, ainda entrarão em campo fatores físicos e emocionais que ajudam a comprometer tal perspectiva. Friamente analisando, é possível, porém, pouco provável.

Dentro desse ponto de vista, um empurrãozinho extra dos adversários viria em bom momento. E ao atleticano não custa deixar velhos ressentimentos de lado. O cálculo é simples. Em tese, são seis as vagas do Brasileiro para a Libertadores: os quatro primeiros vão diretamente para a fase de grupos e o quinto e o sexto colocados caem na eliminatória, chamada pré-Libertadores. Com o Cruzeiro já garantido como campeão da Copa do Brasil integrando o G-6 como agora (está em quinto lugar), uma vaga a mais seria aberta, surgindo então o G-7.

O sétimo lugar, hoje, é do Flamengo, que disputa as quartas de final da Copa Sul-Americana com o Fluminense – largou na frente por uma vaga na semifinal, vencendo o jogo de ida por 1 a 0, na noite de quarta-feira – e, caso chegue ao título também leva uma vaga na Libertadores. Num efeito dominó, o G-7, por consequência, se tornaria G-8.

E aí entra mais um brasileiro para o atleticano acompanhar com fervor, torcendo pelo sucesso dele, embora não haja muito ingrediente de rivalidade envolvido: o Grêmio. Com um pé na final da Libertadores, o tricolor gaúcho também teria seu lugar na competição continental de 2018 assegurada se levantar a taça. E o G-8 se tornaria, então, G-9.

Atualmente em 10º, o Galo poderia estar, então, bem perto da meta. Mas não adianta deitar em berço esplêndido e aguardar pelo êxito de outrem. A esticadinha na zona da Libertadores pode até ser providencial, contudo, não resolve todos os problemas alvinegros. O compromisso de Cruzeiro, Flamengo e Grêmio é, por princípio, com eles próprios. Pouco se importam se alguém vai se beneficiar com o desempenho deles, e estão certíssimos. Por isso, antes de esperar qualquer ajuda externa, o Atlético precisa se preocupar em cumprir o papel dele. Talvez seja esse seu maior desafio.

Sobre milagres

Em 2013, o atleticano Victor cravou seu nome no rol dos goleiros que fizeram defesas milagrosas na Copa Libertadores ao rebater com o pé esquerdo aquele pênalti cobrado por Riascos, então atacante do mexicano Tijuana. Agora, um discípulo dele passa a integrar esse seleto grupo: Marcelo Grohe, sucessor de Victor no gol do Grêmio e que, com extraordinária intervenção em chute à queima-roupa de Ariel Nahuelpan, do Barcelona de Guayaquil, no Equador, na noite de quarta-feira, assombrou o mundo – o que não é mera força de expressão. Veículos de imprensa de várias partes do planeta destacaram o lance ontem. O jornal inglês The Sun até pegou emprestado de Maradona o termo “mão de Deus” para qualificar o grau de dificuldade. O também inglês Daily Mail invocou Gordon Banks e sua célebre defesa em cabeceio de Pelé, na Copa de 1970. Os argentinos Olé e La Nación a classificaram como a “defesa do ano”. Para o português Record, valeu como um gol. E os franceses do L’Equipe chamaram de “atuação incrível”. A defesa de Grohe já tem seu lugar na história do Grêmio (e por que não dizer, do futebol), mas como ela ficará marcada daqui pra frente vai depender do desfecho gremista na Libertadores – se sedimentar o caminho rumo à taça, como ocorreu com a de Victor no Atlético, ganhará status de lenda.

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