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TIRO LIVRE

Capitães da nova era

Haveria no atual grupo um jogador com o perfil ao qual estamos acostumados de capitão? Acredito que não. E talvez até por isso Tite tenha adotado tal estratégia. A famosa saída pela esquerda

postado em 10/11/2017 10:00 / atualizado em 10/11/2017 08:32

 Lucas Figueiredo/CBF

Se tem um posto no futebol que (ainda) carrega certo glamour é o de capitão. Como se a esse jogador coubesse um status diferenciado. A braçadeira geralmente esteve associada a um líder, um cara que tem, além de ascendência sobre o grupo, credibilidade no meio e respeito da opinião pública. Critérios que nos levam a grandes nomes na história, como o alemão Beckenbauer, o inglês Bobby Moore e o brasileiro Bellini – responsável por eternizar o gesto de erguer a taça da Copa do Mundo, em 1958. Mas o técnico Tite parece não ligar muito para tais convenções. A cartilha que o treinador da Seleção Brasileira segue, ao que tudo indica, é outra. Nela, em vez da busca por uma identidade para a função está a afirmação coletiva. E hoje ele dará mais um exemplo disso, ao estrear, no amistoso contra o Japão, Willian como capitão do escrete canarinho.

Com a intenção de formar um time com vários líderes, e não apenas um cabeça para desempenhar o papel de representá-lo em campo, Tite decidiu adotar um rodízio desde que assumiu a Seleção. E os escolhidos não se encaixam muito nesse padrão preestabelecido – e aí vem a calhar um questionamento: haveria no atual grupo um jogador com o perfil ao qual estamos acostumados de capitão? Acredito que não. E talvez até por isso, por não contar com um atleta que preencha a todos aqueles pré-requisitos virtuais, até porque tem nas mãos uma geração ainda jovem, Tite tenha adotado tal estratégia. A famosa saída pela esquerda.

Senão vejamos: o armador do Chelsea será o 14º capitão diferente da Seleção em 16 partidas da era Tite. Também já carregaram a lendária faixa no braço os zagueiros Miranda, Thiago Silva e Marquinhos; o lateral-direito Daniel Alves; os laterais-esquerdos Marcelo e Filipe Luís; os volantes Casemiro, Fernandinho e Paulinho; os armadores Renato Augusto e Philippe Coutinho; e o atacante Neymar, além de Robinho, no amistoso contra a Colômbia que contou apenas com atletas do futebol nacional. Miranda e Daniel Alves são os únicos reincidentes da lista, escolhidos em dois jogos, cada.

Willian é quase um 12º jogador do treinador, sempre presente nas convocações, porém sem a condição absoluta de titular. Hoje, por exemplo, ocupará a vaga deixada na equipe por Philippe Coutinho, em tratamento de lesão muscular. Aos 29 anos, está no exterior desde 2007, quando o ucraniano Shakhtar Donetsk o tirou do Corinthians logo em sua segunda temporada como profissional. Discreto, tímido, Willian parece ter temperamento bem distante do que se espera de um capitão, que por vezes precisa se impor em campo, diante da arbitragem e dos adversários, para defender os interesses de sua equipe. Mas como a escolha de Tite segue uma agenda democrática, não é de se surpreender que a ele seja destinada a braçadeira em Lille.

Até a Copa do Mundo da Rússia será assim: a cada jogo, Tite escolherá um capitão. Como ele tem optado pelo ineditismo, estão na fila, entre os jogadores convocados para os amistosos na Europa, o goleiro Alisson (por sinal, a única posição que ainda não teve capitão na Seleção de Tite), o lateral-direito Danilo, o zagueiro Jemerson os armadores Giuliano e Diego (que está machucado e possivelmente foi à Europa a passeio), os atacantes Douglas Costa, Diego Souza, Firmino, Gabriel Jesus e Taison.

Entre os titulares, Alisson e Gabriel Jesus são os potenciais candidatos para a próxima parada: Wembley, contra a Inglaterra, na terça-feira. Talvez a função de capitão, como tantos outros elementos no futebol, tenha perdido, com o passar dos anos, aquele encanto que a cercava. Embora ainda seja fonte de prestígio, é inegável que ela se encontra num patamar muito mais pragmático, e os nomes que a envergam apenas são sinais desta nova realidade. Talvez reste à braçadeira, e a nós, apenas o saudosismo de tempos que não voltam mais.

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