Superesportes

BRASILEIRO 1971

Título do Brasileiro de 1971 chega a 45 anos e ainda emociona os heróis do Atlético

Campeões dizem que, para superar vários esquadrões, Galo jogou como família

Ivan Drummond
Beto Bom de Bola, Humberto Ramos, Ronaldo, Mussula, Dario e Renê Santana, filho de Telê - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press

Os favoritos ao título eram clubes do Rio de Janeiro e São PauloEramAo fim, uma equipe mineira roubou a festa e levantou o troféu de campeãoO Atlético, de Oldair, Ronaldo, Lôla, Dario e companhia, comandado por Telê Santana, um dos maiores treinadores da história desse esporte no país, atropelou no momento decisivoA conquista do Campeonato Nacional de futebol em sua primeira edição, em 1971, foi a consolidação da força de Minas Gerais nessa competição: em cinco anos, o estado festejava seu segundo título nacional, interrompendo o domínio Rio-São PauloA disputa sucedia o Torneio Roberto Gomes Pedrosa.



Não bastasse o desafio de ter de enfrentar feras como Pelé, Jairzinho, Ademir da Guia e Gerson, era uma época um tanto precária no estudo dos adversários, com sérias restrições“Não existia informação, vídeosTape, a gente só via dos jogos do Mineiro, na TV ItacolomiEntão, não sabíamos como qualquer adversário jogava nem mesmo qual a característica de um determinado jogadorO Maracanã era uma coisa do outro mundoA gente ficava maravilhado ao entrar lá”, relembra Beto, o “Bom de Bola”, em encontro promovido pelo Estado de Minas entre alguns dos heróis do título daquele 19 de dezembro.

A síntese de Beto mostra bem como era o mundo do futebol brasileiro em 1971
E o campeonato ia começarNem o mais otimista dos torcedores ou os jogadores atleticanos imaginavam que seriam campeões“Numa partida contra o Internacional, no Mineirão (17ª das 27 rodadas), é que tive a certeza de que a gente estava na briga pelo títuloComeçamos perdendo por 1 a 0, e viramos para 3 a 1”, conta o goleiro Mussula, que por muitos anos tinha sido titular do time, mas que se tornou reserva com a chegada de Renato.

“Fui eu quem marcou os três gols”, exagera folcloricamente Dario ao ver o amigo descrevendo a partidaEle, na verdade, fez um, com Pedrilho respondendo por doisSobre Mussula, garante que o fato de não ser mais o titular àquela altura não o torna menos importante na conquista“Ele era, junto com Oldair, os mais experientes do timeE nos ajudavam muito nas conversas.”

E Dario, artilheiro do torneio, com 15 gols, retorna no tempo, para lembrar a importância de Telê para o grupo“Eu, quando voltei da Copa do México, tricampeão do mundo, queria mesmo era participar de festas, aproveitarUm dia, o Telê me colocou na reserva
Fui falar com ele e reclamar, que ele não podia falar aquilo comigo, pois eu fazia golRespondeu-me que era eu quem tinha lhe entregue a camisa de titularAlgum tempo depois, num jogo, a gente perdia por 1 a 0Fui ao Telê e disse que tinha de entrarNesse instante, a torcida começou a gritar meu nomeEle me colocouFiz três gols e ganhamosDepois, fui até ele, para falar: viu, não disse que fazia golsAí, ele me respondeu: 'você tomou a camisa de volta'Ali, acho que nasceu o Dario que participou da conquista do título de 71.”

Vila Olímpica, no bairro Planalto, em BH, era o local de treinamento daquele time campeão - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press

SEGREDOS

Alguns detalhes fizeram daquele Atlético um time campeão, como conta Ronaldo“A gente tinha um conjunto muito bomO Dario era um diferencialMas tem um detalhe que quase ninguém sabe: a nossa uniãoÉramos como uma famíliaFazíamos tudo juntosNada nem ninguém queria ficar longe um do outro.”

E em campo havia também um lema entre todos os jogadores, segundo Ronaldo“Apertou, joga a bola pro DadáEle corria muitoTinha pernas longas e velocidadeNinguém pegavaA gente fazia muito gol assim.”

Dario ressalta que o time de 71 terminou o Nacional sem nenhum jogador expulso“Ninguém reclamava do juizAliás, essa era uma recomendação do TelêSó o Oldair, que era o capitão, é quem podia falar com o árbitroE a gente seguia isso à risca.”

Beto vai além“O Telê dizia pra gente sempre que ele era o treinador fora de campo, mas dentro, o técnico era o OldairEntão, o que ele falasse era lei e tínhamos de acatá-loSempre funcionou muito bem, pois as intervenções do Amauri eram sempre positivas e davam certo.”

Dario (direita) ressalta que o time de 71 terminou o Nacional sem nenhum jogador expulso - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press

Humberto Ramos está ao lado de Dario e escuta a narração do gol do título, quando ele recebe de Ronaldo, penetra pela esquerda da área adversária, vai ao fundo e cruza na segunda trave para Dadá cabecearÉ o gol do título“Isso me faz sempre recordar e lembro que tínhamos de praxe esse rodízio em campoA gente se deslocava muitoE quando chegava à linha de fundo, era só cruzar alto, no segundo pau, pois sabíamos que o Dadá estaria láEra uma jogada de rotina nossa.” Os dois se abraçam.

Ronaldo conta outro segredo do time“Quando tinha um córner pela esquerda, Oldair e Tião fingiam uma discussãoAí, o Tião saía gesticulandoO Oldair batia curto, junto à linha de fundoO Tião corria por trás do lateral e cruzava pra cabeçada do DadáNa verdade, enganávamos o adversárioForam muitos gols assim.”

Do triangular decisivo, lances tanto da vitória contra o São Paulo por 1 a 0, no Mineirão, gol de Oldair, cobrando falta na entrada da área, e do triunfo também por 1 a 0 sobre o Botafogo, no Maracanã, que confirmou o título, são relembrados por elesHá um misto de descontração e emoção entre os ex-jogadores, que se reencontraram na Vila OlímpicaAfinal, foram campeões brasileiros desbancando vários favoritos, para delírio de toda uma torcida que esteve no Maracanã e também dos tantos que assistiram à partida pela televisão, numa transmissão da TV ItacolomiE a campanha entrou para a história.