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Itair Machado provoca Atlético, 'atualiza' dívidas do Cruzeiro e minimiza fato de reforços milionários estarem na reserva

Segundo vice-presidente de futebol, auditoria mostrará que Cruzeiro está entre os quatro clubes do país com maior dívida

Redação
Para Itair, salários em dia e gestão de grupo de Mano Menezes tem feito Cruzeiro brigar por títulos - Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press
Em janeiro, ao assumir o Cruzeiro, a gestão de Wagner Pires de Sá revelou que a dívida do clube em ações na Fifa era de R$ 50 milhões. Passados sete meses, o cenário é tratado como mais grave. Segundo o vice-presidente de futebol Itair Machado, o passivo gerado por reclamações de agremiações, atletas e agentes chega a R$ 90 milhões. 

Em entrevista à Rádio Itatiaia nessa quinta-feira à noite, Machado foi mais longe e adiantou que uma auditoria apontará o Cruzeiro como um dos quatro clubes que mais devem no país, referindo-se à dívida geral herdada do mandato de Gilvan de Pinho Tavares.

Apesar desse cenário trágico do ponto de vista financeiro, em campo o time vai bem. Foi campeão mineiro, avançou às semifinais da Copa do Brasil e abriu vantagem sobre o Flamengo nas oitavas de final da Copa Libertadores. No Campeonato Brasileiro, claramente deixado em segundo plano, o clube ocupa a oitava colocação. Para Itair Machado, o segredo tem sido manter os salários dos jogadores em dia e contar com a gestão de grupo eficiente do técnico Mano Menezes. “O Cruzeiro tem treinador de verdade”.

À Itatiaia, Itair Machado disse que conseguiu segurar as principais estrelas do elenco graças às receitas advindas dos direitos de transmissão. Por outro lado, não conseguiu investir alto em um reforço no meio do ano por conta do crescimento insuficiente no número de sócios adimplentes.
O planejamento inicial era chegar aos 100 mil associados. Hoje, apenas 51 mil estariam pagando em dia. “Financeiramente, não foi possível fazer a contratação”.

Por fim, o vice de futebol minimizou o desempenho discreto de jogadores contratados por quantias vultosas no começo da temporada, casos do atacante David (R$ 10 milhões), do volante Bruno Silva (R$ 6 milhões) e do meia argentino Mancuello (R$ 5,8 milhões).

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista de Itair à Rádio Itatiaia:

Auditoria no clube prometida durante a campanha eleitoral

Itair Machado - Auditoria, da mesma maneira que você está me perguntando, eu pergunto lá todo dia também. Porque eu acho que é uma obrigação do clube que o torcedor nosso saiba a verdade da parte financeira do clube. Até para o torcedor envolver mais, ir mais a campo, comprar mais os produtos. Porque isso envolve o torcedor. Então, o Cruzeiro, eu conversei isso com o presidente hoje, nós temos três anos aí, até acho que três anos é pouco, pelo valor que vai ser a dívida divulgada. Acho que vai demorar uns cinco anos para a gente fazer um projeto. Temos um projeto aí que não podemos falar agora, mas que, se der certo, a possibilidade de zerar a dívida do Cruzeiro é muito grande já dentro desses três anos do presidente Wagner. Mas é realmente de dificuldade (o cenário atual). A gente acredita que, semana que vem, o presidente vai marcar uma coletiva na Toca e vai estar explicando para o torcedor. O problema maior é que a gente fica esperando o momento. 

Provocação à torcida do Atlético

Ao destacar participação da torcida cruzeirense nas partida contra Flamengo, no Maracanã, pela Copa Libertadores, e Santos, no Mineirão, pela Copa do Brasil, o vice-presidente de futebol provocou torcedores do Atlético. Itair relembrou que, em um dos clássicos de 2017, disputado no Independência, um alto-falante emitiu sons para abafar os cantos dos cruzeirenses.

Itair Machado - Nós não precisamos colocar som no nosso estádio para mostrar a força da torcida.
Nossa torcida vai sozinha, ela canta automático, ela empurra o time. 

Por que não anunciou contratação prometida do meio do ano

Itair Machado - A contratação viria com os 100 mil sócios-torcedores. E uma das coisas que a gente propôs foi falar a verdade para o torcedor. E a situação financeira do país não permitiu que o Cruzeiro, até o momento, atingisse os 100 mil. O Cruzeiro tem hoje, em dia, 51 mil (sócios). Dois mil estão atrasados há mais de três meses, então, a nossa contabilidade não considera como sócio-torcedor. A gente só divulga os que estão em dia. Então, em dia, são 51 mil. A gente saiu, se não me engano, de 30 mil (adimplentes). Então, financeiramente, não foi possível fazer a contratação.

Permanência de Arrascaeta no clube

Itair Machado - Com certeza, até o fim do ano, sim. Para levá-lo agora, tem que pagar a multa, e a multa é muito alta. 

Reunião com agentes do Dedé na Toca

Itair Machado - Isso também vai muito do atleta.
Hoje tive reunião com os dois procuradores do Dedé e deixei claro para eles que o Cruzeiro não vende o Dedé, a não ser que atleta queira ir embora. Você não pode ficar com ninguém que esteja insatisfeito. E que se o atleta quer ir embora e seja um valor que atenda o clube, qualquer jogador vai embora.

Dívida do Cruzeiro na Fifa

Itair Machado - Hoje, a dívida do Cruzeiro que mais preocupa é a da Fifa. E a gente está arrumando a solução para isso. O Cruzeiro quer ter é time forte. Para jogador do Cruzeiro ir embora, tem que querer ir. Não vai partir da diretoria do Cruzeiro. Atualizado (o valor), chega hoje a R$ 90 milhões. Mas a gente acredita que, com R$ 60 milhões, você chega, faz acordo, liquida a dívida e resolve.

Acho que, quando sair a contabilidade (balanço financeiro de 2017 ainda não foi revisado pelo Conselho Deliberativo), o Cruzeiro vai estar entre os quatro que mais devem no Brasil.

Conseguir receita sem vender jogadores

Itair Machado - Depois que a gente viu a torcida atuando no jogo contra o Santos, a gente sabe que os torcedores querem ganhar os jogos. Eu acredito na força do Cruzeiro para ganhar dinheiro de outra maneira. Você não precisa desmanchar o elenco. De repente, trabalha outras opções. À época do Zezé, os números da televisão não eram o que são hoje. Então dá para você ir levando, equacionar em longo prazo. Hoje a dívida que mais preocupa é a da Fifa, mas estamos arrumando soluções para isso. O Cruzeiro quer time forte. Para o jogador ir embora, ele tem que querer ir. Não vai partir da diretoria do Cruzeiro vender os jogadores.

Saída de Hudson e rendimentos de Bruno Silva, David e Mancuello

Itair Machado - Acho que primeiro, o torcedor tem que entender quando ele cobra um determinado jogador, igual eles cobram muito a presença do Hudson no Cruzeiro. E por que não ficou com o Hudson e trouxe o Bruno Silva? Simplesmente porque o Hudson é primeiro volante. A gente já tinha o Romero e o Henrique. Com o Hudson, seriam três primeiros volantes. Você não precisa ter no grupo três primeiros volantes. E a gente trouxe o Bruno Silva porque a gente queria uma sombra para o Robinho. E quem tem sombra, o jogador que está ali, correndo risco, ele joga mais. Você não tenha dúvida. Se você tem o jogador e o outro está disputando posição...aconteceu agora de o Edílson ficar no banco no jogo lá em Santos para o Romero jogar na lateral. Você não acha que isso fez o Edílson voltar melhor? Isso mexe com o ego da gente, ser humano. Isso motiva uma briga por posição. 

E a questão do David, de que está rendendo ou não, porque a contusão, quando ele veio, o médico deu o aval para a contratação. Por isso ficou aquela novela: paga ou não o Vitória? A gente estava aguardando o departamento médico. Quando o DM deu o aval, nós fizemos o pagamento, foi dinheiro de parceiro, não envolve direito econômico, que é proibido, mas o Cruzeiro não gastou para trazer o jogador. E o Cruzeiro acredita muito nele. Ontem, vocês viram a personalidade dele, batendo pênalti. O torcedor gosta de saber os bastidores, a gente treinou no dia anterior e ele acertou todos os pênaltis. O Mano virou pra ele e disse: ‘quero ver tu bater com 50 mil pessoas no campo’. Ele falou: ‘pode me pôr que eu bato’. Aí, quando veio a disputa de pênaltis, o Mano substituiu, colocou ele no lugar do Arrascaeta, chamou ele no banco, olhou no olho dele e disse: ‘você vai entrar, decidir o jogo. Se não decidir, vai bater o pênalti e vai fazer’. Ele falou: ‘deixa que eu vou fazer’. Ele entrou e fez. Então, o jogador tem uma ajuda no grupo. Não quer dizer que o cara está ali, não está titular. Todos os jogadores que vieram, nós, da diretoria, principalmente eu, que sou vice-presidente, não contratamos um atleta sem o Mano dar o aval. O último atleta foi o Barcos, que o Mano levou uma semana para fazer análises, critério. Aí a gente chegou à conclusão que, como ele tinha jogado no Brasil, a adaptação dele foi automática. E foi. Chegou, parece que está no Cruzeiro há dez anos, inclusive dentro do grupo. Todo mundo adora o Barcos. E está ajudando muito a gente. 

Todas as contratações são baseadas pelo treinador. Se você faz trabalho sério como o Mano faz, que além de ser um grande treinador é um grande gestor, do dia a dia do futebol. Ajuda muito o elenco e o clube nisso. Se você tem grupo forte, dificilmente você vai ter que viver estabilidade de ter que trocar treinador. E se por acaso, Deus livre e guarde, a gente sair da competição, ou Libertadores ou Copa do Brasil, isso não tem que dizer que você tem que tirar o treinador. É mais fácil você sentar com ele, ver o que deu errado e planejar o outro ano, do que você começar tudo zerado com outro. Acredito em trabalho a longo prazo quando você tem treinador de verdade. E o Cruzeiro tem treinador de verdade. Então, todo elenco do Cruzeiro é espelhado no que o Mano quer, na parte tática. Quando pediu para trazer o Mancuello, ele virou e falou: ‘Itair, se você conseguir trazer esse cara, principalmente na Libertadores, os juízes respeitam, no vestiário a arbitragem chega, conhece o cara, ele já conversa, ele sabe o jeito do juiz, ele conhece os atletas de fora, ele explica para o grupo como os atletas jogam, como é característica. São coisas que o torcedor não vê. E a importância também que ele tem para o grupo.
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