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INDEPENDÊNCIA

Associação denuncia que licença de operação do Estádio Independência está vencida

Documento que permite funcionamento do estádio era válido até 15 de março

João Vítor Marques Bruno Furtado
Mais do que o imbróglio relativo à ampliação da capacidade de público, o Independência tem funcionado, desde 16 de março, sem a licença de operação/certificado ambiental. É o que garante a Associação Comunitária dos Amigos do Entorno do Independência (AAMEIA), uma das organizações que representa a sociedade em questões ligadas ao estádio. O documento, conseguido com exclusividade pelo Superesportes, é datado de 15 de março de 2012, tem validade de cinco anos e foi assinado pelo ex-secretário municipal de meio ambiente, Vasco de Oliveira Araújo (leia acima).
Já o alvará/licença de localização e funcionamento está para vencer em 25 de abril (leia abaixo).

Registro do Independência confirma data de licença de operação vencendo em 15/03/2017. Documento ainda mostra que alvará/licença de localização e funcionamento está para vencer em 25/04/2017 (se estiver lendo pelo celular, gire o aparelho para ver a imagem com melhor definição) - Foto: Reprodução/Superesportes
Consultada, a prefeitura de Belo Horizonte, por meio da assessoria de comunicação, não quis oficializar posicionamento por meio de nota. Entretanto, o governo municipal garantiu à reportagem que a solicitação para renovação da licença de operação já foi iniciada há seis meses, sem esclarecer o autor do pedido.

Ainda de acordo com a PBH, nenhuma reunião foi realizada para discutir o tema, mas o estádio opera legalmente. O Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) recebeu 60 dias de prazo, após o vencimento do documento, para avaliar o caso.

Administrador do Independência, Helber Gurgel disse “não saber” sobre a situação da licença de operação. Procurado pela reportagem minutos depois, o diretor executivo da concessionária LuArenas, Bruno Balsimelli, afirmou que o estádio opera legalmente.

“Já está funcionando com a licença correta. Não tem nada incompleta. Somos uma empresa séria”, disse. “Se você quiser, vá até o Independência e pegue o documento com o Gurgel”, completou.

Alertado pela reportagem que Gurgel desconhecia a situação, Balsimelli pediu alguns minutos para se inteirar do caso. Em novo contato, o diretor executivo afirmou que não gostaria de gravar entrevista e se limitou a dizer: “Está tudo em ordem com a documentação”.

Na quarta-feira, Balsimelli prometeu conceder entrevista coletiva em Belo Horizonte para se pronunciar a respeito da licença de operação e da ampliação do estádio, que vem sendo contestada pelo governo de Minas Gerais e pelo América.

O clube é o proprietário do estádio e, por meio de um dos seus presidentes, Marco Antônio Batista, deixou claro que os procedimentos relativos à licença de operação não devem ser tomados pelo América.

Bruno Balsimelli garantiu que licença de operação do Independência está válida - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A. Press
O documento

O primeiro certificado de licença ambiental detalhava prerrogativas para o funcionamento do estádio. Entre elas, estão contrapartidas que deveriam ser dadas pela administração do Independência aos moradores de bairros próximos.

A principal condicionante diz da construção de um espaço de convivência para a comunidade sobre a área de vestiários do estádio. No local, seriam realizados cursos, projetos e até ensaios musicais. O prazo para a execução da obra expirou em 2014 e foi estendido até 2016.

Segundo associação, estádio recebeu eventos ilegalmente, uma vez que não tem licença operacional - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A. PressA nota número 2 do documento prevê que a LuArenas deve “Garantir à comunidade a utilização do espaço acabado para a realização de suas demandas sociais, inclusive com representação legal junto à administração do estádio”.

Já a nota número 4 do documento diz: “A construção do prédio de apoio tem por objetivo agregar benfeitorias ao Estádio reforçando a natureza de entretenimento, serviço e uso para a população do entorno, de forma a atrair a mesma para um convívio cotidiano e saudável além de oferecer serviços relevantes ao cidadão, não somente em dias de jogos”.

A LuArenas não construiu o espaço, mas alugou uma sala na avenida Petrolina, no bairro Sagrada Família, para atender às demandas até que a obra saísse do papel - o que ainda não ocorreu.

“A saleta não se presta à utilização de forma adequada pela comunidade. Foi tapa-buraco. Está totalmente abandonada. A chave fica em posse da arena”, diz Adelmo Marques, 64, diretor de relações institucionais da AAMEIA.

Maquete do projeto original contém a prometida 'área de convivência' acima dos vestiários do estádio - Foto: Reprodução
A associação também reclama da dissolução, pelo governo estadual, da Comissão Facilitadora da Participação da Sociedade Civil, que representava a comunidade local na relação com o Independência.

A CFPSC, sigla pela qual é conhecida, reúne líderes de quatro associações: Associação dos Amigos do Estádio Independência (AAMEIA), Associação dos Moradores e Empresários do Bairro Sagrada Família (AME-SF), Associação Comunitária Edgard Werneck do Bairro Horto (ACEWBH) e Associação Comunitária dos Amigos do Sagrada Família (ACOBASF).

Adelmo Marques defende que a licença de operação do Independência só poderia ser renovada após reunião com integrantes da CFPSC e de órgãos municipais e estaduais, como Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, BHTrans, Ministério Público Estadual, além de secretarias governamentais. Nos últimos seis meses, período em que, de acordo com a PBH, o processo de renovação começou, nenhuma reunião ocorreu. A reportagem não conseguiu posicionamento do MP.

Especialistas ouvidos pelo Superesportes confirmaram que o processo de licenciamento é longo e depende de audiências públicas. Todos os atos são publicados no Diário Oficial do Município (DOM). Logo, não haveria como se renovar a licença de operação por "imposição", por exemplo, da PBH.

Sala recebe reunião da CFPSC - que, de acordo com a AAMEIA, foi extinta pelo governo - Foto: Independência/Divulgação
Renovação

A LuArenas tinha o prazo de até 120 dias antes do vencimento da licença para solicitar a renovação. De acordo com a administradora, o documento já está em dia. A prefeitura de BH, entretanto, alega que a Comam ainda avaliará a situação do estádio no prazo de até 60 dias.

Enquanto isso, o estádio continua funcionando normalmente. Se a acusação da AAMEIA proceder e realmente não houver renovação, o Independência recebeu ilegalmente três eventos: os jogos América x Tricordiano e Atlético x URT, pelo Campeonato Mineiro de futebol, e a partida entre Cruzeiro e Juiz de Fora Imperadores, pela Copa Minas de Futebol Americano. O local também será palco de América x Villa Nova, neste domingo.