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Investigação confirma manipulação no Rio-2016, e boxe pode sair dos Jogos

Constatação é um duro golpe para a modalidade e ameaça ainda mais sua permanência nas Olimpíadas

01/10/2021 09:17
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Não há um número final de quantas lutas poderiam ter sido afetadas
foto: Adrian DENNIS/AFP

Não há um número final de quantas lutas poderiam ter sido afetadas

Várias lutas de boxe em disputa por medalhas na Olimpíada do Rio de 2016 foram manipuladas por árbitros e jurados "cúmplices e complacentes", revelou uma investigação independente encomendada pela Associação Internacional de Boxe (Aiba). A constatação é um duro golpe para a modalidade e ameaça ainda mais sua permanência nos Jogos. Existe forte pressão para que o boxe seja retirado e o próprio presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, já se mostrou favorável a isso.

Richard McLaren, chefe do trabalho feito a pedido da Aiba, disse em relatório que a primeira das três fases da investigação analisou a arbitragem e o julgamento no Rio, onde ocorreram decisões polêmicas em várias lutas. Mas respinga em Londres-2012 "As sementes disso foram plantadas anos antes, começando pelo menos desde os Jogos Olímpicos de 2000 até os eventos em torno de 2011 e Londres-2012", disse McLaren, em entrevista em Lausanne, na Suíça.

Não há um número final de quantas lutas poderiam ter sido afetadas. A investigação identificou "cerca de 11, talvez menos, e isso contando aqueles que sabemos que foram manipuladas, lutas problemáticas ou lutas suspeitas", disse McLaren, referindo-se à disputa por um lugar no pódio.

O relatório acrescentou que oficiais seniores da Aiba usaram seu poder para selecionar árbitros e juízes e transformaram a comissão, que deveria garantir que eles fossem designados de forma justa, em "um mero carimbo de borracha."

Segundo McLaren, os árbitros e jurados selecionados geralmente "sabiam o que estava acontecendo" ou então eram "incompetentes" e estavam dispostos a ignorar os sinais de manipulação, e os eventos classificatórios para a Olimpíada do Rio foram usados para filtrar árbitros e juízes honestos.

Árbitros e jurados foram informados sobre quem deveria vencer uma luta pela manhã antes de um dia de lutas na Olimpíada, inclusive em uma área "protegida de olhares indiscretos", continuou McLaren.

Durante a Olimpíada de 2016, dois resultados se destacaram: a derrota do irlandês Michael Conlan para o russo Vladimir Nikitin e a vitória do francês Tony Yoka sobre o britânico Joe Joyce. Depois que os juízes concederam a luta a Nikitin, Conlan mostrou-lhes o dedo médio e acusou a Rússia e a Aiba de corrupção.

A Aiba foi suspensa como órgão regulador olímpico do boxe em maio de 2019. A qualificação e a realização do torneio nos Jogos de Tóquio no verão foram organizadas por uma força-tarefa do Comitê Olímpico Internacional (COI).

A Aiba é liderada pelo empresário russo Umar Kremlev desde dezembro e diz que reformou a forma como as lutas são julgadas desde 2016, quando o ex-presidente Wu Ching-Kuo estava no comando. "A Aiba contratou o professor McLaren porque não temos nada a esconder", disse Kremlev em um comunicado. "Devemos agora examinar cuidadosamente o relatório e ver quais medidas são necessárias para garantir a justiça."

Nenhum dos árbitros ou jurados de 2016 estava em seus cargos para a Olimpíada deste ano em Tóquio, após todos terem sido suspensos pela Aiba.

Ameaça


Em fevereiro de 2018, Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, ameaçou retirar o boxe dos Jogos Olímpicos. Motivo: a indicação para que o casaque Gafur Rakhimov assumisse a presidência da Aiba interinamente, após Wu ter sido afastado em dezembro de 2017 por má gestão financeira.

Apesar de nunca ter sido processado, Rakhimov é apontado como o líder de uma organização criminosa chamada de "Os Ladrões". Ele também tem seu nome em investigações por roubo, lavagem de dinheiro, extorsão, suborno e tráfico de armas.

Histórico


Os problemas envolvendo resultados em lutas de boxe no mundo olímpico são antigos. Em 1988, o norte-americano Roy Jones Jr. perdeu o ouro em Seul para sul-coreano Park Si-Hun por decisão dividida dos jurados: 3 a 2. Na contagem dos golpes após os três rounds, o americano somou 86 contra 32 do asiático, que, constrangido após o resultado, chegou a levantar o braço de Jones no pódio.

Em 1999, em Houston, Estados Unidos, o peso pesado cubano Felix Savón se recusou a disputar a final do Mundial por não concordar com vários veredictos em lutas anteriores de seus compatriotas. O tricampeão olímpico se dirigiu ao ringue, com a bandeira de seu país, mas apenas deu uma volta, cantando o hino cubano e deixou o ginásio.

Essas polêmicas fizeram a Aiba mudar várias vezes a forma de indicar um vencedor por pontos. No início, o sistema era o mesmo do profissional: dez pontos para o vencedor do round e nove ou menos para o perdedor. Depois, passaram a contar os golpes que efetivamente atingissem o adversário, mas o sistema também não agradou. Em Londres-2012, as notas dos jurados passaram a ser apresentadas ao final de cada round. Já em Tóquio, voltou a ser utilizado o sistema de dez pontos para o vencedor o assalto.


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