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Ultramaratonista mineira bate recorde no Monte Vinson, na Antártida

Fernanda Maciel concluiu percurso que leva cerca de cinco a sete dias para ser realizado em 9h41m e bateu dois recordes mundiais

19/01/2023 09:21 / atualizado em 19/01/2023 09:29
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Fernanda fez o menor tempo da história na subida do Monte Vinson (6h40min) e o menor tempo na soma subida e descida sem auxílio de oxigênio
foto: Jordan Manoukian/Red Bull Content Pool

Fernanda fez o menor tempo da história na subida do Monte Vinson (6h40min) e o menor tempo na soma subida e descida sem auxílio de oxigênio

 
No continente marcado por baixas temperaturas ao longo do ano inteiro - onde o sol não nasce no inverno e não se põe no verão -, a mineira Fernanda Maciel, de 42 anos, superou as mais diversas condições climáticas para entrar para a história. Ela concluiu a subida e a descida do Monte Vinson, pico mais alto da Antártida, no menor tempo já registrado no mundo. O feito foi conquistado em 25 de dezembro, durante o verão antártico. 
 

Veja fotos da ultramaratona de Fernanda Maciel no Monte Vinson

 

A ultramaratonista precisou de 9h41m para cumprir o percurso no Vinson, ponto mais alto do continente - quase 5 mil metros acima do nível do mar. Geralmente, o trajeto leva de cinco a sete dias para ser percorrido. 

Com a façanha, a mineira bateu dois recordes mundiais. Segundo as plataformas especializadas Skyrunning e Fastest Known Time, Fernanda fez o menor tempo da história na subida (6h40min) e o menor tempo na soma subida e descida sem auxílio de oxigênio. 

No dia, os termômetros marcavam 36ºC negativos no topo da montanha, com ventos de 20 km/h. As baixas temperaturas foram o principal desafio para a atleta belo-horizontina. 

Morando em Chamonix, na França, Maciel conta com os glaciares dos Alpes para treinar suas corridas, onde o frio é constante. Todavia, as condições climáticas do Monte Vinson, mesmo no verão, a surpreenderam. 

"Estava super feliz por estar naquele lugar selvagem e remoto e também assustada com as temperaturas frias, pois não queria sofrer congelamentos nos dedos das mãos ou pés. Tive que confiar no meu material e também saber que não poderia parar nenhum minuto durante minha corrida no percurso ao topo do Monte Vinson. Sei que é uma experiência de corrida bem louca e difícil, mas adoro a ideia de poder realizar essa tentativa brutal", contou Fernanda após a conquista. 

No topo do mundo


Atleta desde os oito anos, estes não foram os primeiros grandes feitos dela. Em 2016, Fernanda já havia se tornado a primeira mulher a subir ao cume do Aconcágua, montanha mais alta da América do Sul, com 6.961 metros, em 14 horas - o padrão é um percurso com duração de 21 dias de escalada, entre subidas e descidas alternadas para aclimatação.  

Fernanda também já conquistou o ponto mais alto da África, o Monte Kilimanjaro, em sete horas, contra os habituais sete dias dos escaladores. O Kilimanjaro é um vulcão adormecido na Tanzânia, com 5.895 metros acima do nível do mar e cerca de 4.900 metros acima da base do planalto. 

A maratonista mineira já alcançou, ainda, o pico do Monte Elburos, ponto mais alto da Europa, em cinco horas - o habitual são cinco dias em média. O Elbrus está situado na parte ocidental do Cáucaso e é o pico mais alto das montanhas do Cáucaso. O vulcão adormecido sobe 5.642 m acima do nível do mar. 

Antes de enfrentar o desafio no Pólo Sul, Fernanda realizou uma série de treinamentos na França e ainda escapou de uma avalanche na reta final de preparação, na montanha Manaslu, no Himalaia, em setembro de 2022. 

Na Antártida pela primeira vez, ela fez o trajeto dois dias antes, em um ritmo mais lento, para conhecer o percurso e traçar as estratégias necessárias para a ultramaratona. Depois de um dia de descanso, Maciel partiu para o desafio. Apesar de todo o cuidado na preparação, durante a maratona Fernanda sofreu com imprevistos: seus óculos congelaram e os crampons (espécie de grampos de metal) de suas botas quebraram.

"Coloquei minhas luvas e óculos para proteger meus olhos. Meus óculos congelaram, mas de alguma forma consegui ver o caminho para o topo", disse a mineira, que ainda correu sem nenhum suporte de oxigênio extra.

A ultramaratonista também sofreu com falta de comida e de água ao longo do percurso, pois as baixas temperaturas congelaram suas reservas.

Corrida no Vinson


Fernanda Maciel iniciou a corrida às 11h30 (horário local), em um acampamento na base do Monte Vinson, a 2.100m acima do nível do mar. No momento, os termômetros indicavam 25°C negativos e ela carregava comida, água e algumas jaquetas às costas. Nenhuma parte do corpo poderia ficar em contato direto com o vento, pois poderia congelar. 
 
 

A primeira etapa do percurso contou com 9km e 650m de desnível positivo em direção ao 'Acampamento Baixo'. Na sequência, trocou o tênis de corrida pela bota de alpinismo com crampons, pegou o material de escalada e partiu para a parte mais íngreme do projeto, por mais de 1.200m. Depois, em trecho de angulação menor, mas tão complicado quanto o anterior, foi sprint final ao cume da montanha.

Seguindo as regras de segurança locais, a ultramaratonista correu conectada por uma corda ao guia de montanha e corredor Sam Hennessey e aproveitou o grande feito para homenagear Hilaree Nelson, colega alpinista que morreu após sofrer uma queda durante avalanche na montanha Manaslu, no Himalaia, em setembro de 2022.  

"Ela (Hilaree Nelson) tem me inspirado muito e me dado forças nos projetos em altas montanhas. Estou feliz por viver emoções e sensações incríveis que experiências como esta me oferecem. Eu amo a sensação de conquista e contemplação que só as montanhas tão altas me oferecem", contou a atleta.

Escalada pelo meio ambiente


Ao longo da vida, Fernanda dedicou-se ao esporte e ao meio ambiente. Quando jovem, foi capoeirista, praticou jiu-jítsu, ginástica artística e sempre adorou futebol. Mas foi durante a faculdade de direito que começou a se dedicar às corridas - único esporte que conseguia encaixar em sua rotina de estudos. 

No direito, Fernanda trabalhou como advogada ambiental, educadora ambiental e instrutora na ONG Outward Bound International. No início dos anos 2000, ela largou o emprego como advogada para perseguir seus sonhos ao ar livre. 

Desde então, vem trabalhando para cumprir seu objetivo de ajudar o planeta, divulgando a conscientização e levantando fundos para questões sociais e ambientais por meio das proezas no montanhismo.

Em 2020, ela completou a escalada de dois grandes clássicos do montanhismo mundial - o Gran Paradiso e o Matterhorn, nos Alpes - em menos de 24 horas, para chamar atenção para a degradação das geleiras nas montanhas.

Quando questionada sobre sua paixão pela preservação, Fernanda afirmou que, desde os 15 anos, sua missão é proteger o meio ambiente. 

Ela se prepara agora para sua grande ambição: correr para o topo do mundo, o Monte Everest, no Himalaia, com seus 8.849 metros acima do nível do mar e temperaturas oscilantes. 


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