Fred Melo Paiva
None

La canhota de Dios

postado em 01/06/2013 09:02

E agora, o que faço eu com o meu ateísmo? Ele caiu no Horto, morreu. A contragosto, eu me rendo: Deus existe. O barbudão lá em cima, o sósia do Karl Marx – eu boto uma fé: Ele está no meio de nós. Daqui pra frente, quando alguém vier me dizer que somos poeira das estrelas, que o mundo nasceu no big bang, perguntarei: mas e aquele pênalti? E aquela perna esquerda aos 48min do segundo tempo? Foi Deus, foi tudo Deus – a perna esquerda de Deus.

Muito se fala de la mano de Dios, com a qual Maradona vingou a derrota para os ingleses nas Ilhas Malvinas. Na quinta-feira, nessa mítica quinta-feira, soubemos que Deus bate com as duas – sua perna esquerda salvou a pátria, nos redimiu de todas as nossas mazelas e devolveu à Massa a chance de chegar ao paraíso. La canhota de Dios veio finalmente fazer justiça, a justiça divina: ninguém nesse mundo merece mais que o atleticano. Eu não tenho mais dúvida: chegou a hora de resgatar os pontos acumulados no nosso plano de fidelidade.

A sociedade homenageia seus heróis erguendo bustos e estátuas. O mínimo a fazer é arrancar o pirulito da Praça Sete e em seu lugar instalar uma grande perna esquerda, como aqueles pedaços de corpos que ficam na sala de ex-votos da Basílica de Aparecida. Apenas uma perna – uma perna cabeluda diante da qual rezaríamos pelas causas impossíveis.

Quando eu chuto bola com o meu filho pequeno, e somos obrigados a escolher nossos nomes de goleiros, ele sempre opta pelo Victor (levou tempo para esquecer o Aranha, com seu nome de super-herói). Gosta da sonoridade do R, aquela do Caixa, na hora da defesa: Victorrrrrrrrrrrrrr. Então, ele me pergunta como é a musiquinha do Victor. Driblo o palavrão, dando à luz o cântico que ele adora: “Pata que pariu, é o melhor goleiro do Brasil, Victor!!!”

Chorei junto com o Kalil na imagem que ficará para a história: o presidente emocionado, enxugando as lágrimas e cantando com a Massa – “Pata que pariu, é o melhor goleiro do Brasil!” O que o Victor fez naquele pênalti foi chutar pra lá a nossa crônica falta de sorte, a cabeça de burro enterrada no nosso quintal, a injustiça que nos persegue. Sua perna esquerda chutou também a bunda de José Roberto Wright e José de Assis Aragão. Em seu voo de Bruce Lee, nos libertou finalmente da derrota para o Flamengo na Copa União, da bola que o juiz não viu entrar contra o Coritiba na semifinal de 1985, do pênalti não marcado aos 40min do segundo tempo na decisão de 1999. Aquilo não era uma perna – era um taco de beisebol a rebater a bola de ferro amarrada no pé do atleticano. Libertas quae sera tamen! Ou seja, a Libertadores será nossa também!

Faltam quatro jogos. Se Deus é por nós, quem será contra nós? Temos uma parada providencial neste mês de junho. Bernard vai calibrar o pé na selecinha. Leonardo Silva vai ganhar ritmo. R10 prometerá o título a dona Miguelina. Cuca poderá lavar a camiseta de Nossa Senhora que ele não tira faz uns três meses. Até que chegue julho, nós, atleticanos, trabalharemos pensando em Atlético. Faremos amor com nossas esposas pensando em Atlético. Chutaremos bola com nossos filhos e seremos todos a perna esquerda do Victor, La canhota de Dios.

Tags: atleticomg