Fred Melo Paiva
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Cuca merece o mundo

"O Cuca só podia ser campeão no Atlético - ou o romance estaria capenga, carecendo de seu último ato"

postado em 23/11/2013 12:00

Cuca renovou com o Galo – e o atleticano, eternamente grato ao professor, renovou suas esperanças. Você olha pro lado e vê o Corinthians lançando mão de um Mano Menezes, o Fluminense apostando seu futuro num Dorival Júnior, o ingrato Palmeiras descartando o camarada que o recolocou na elite, um torcedor do Galo sentado no banco do Cruzeiro campeão. O ser humano tende a achar a grama do vizinho mais bonita. Mas, nesse caso, o que se vê na vizinhança é o mato crescendo.

Sem falar em Vanderlei Luxemburgo, que não vale uma ida ao Google para verificar se é com V ou com W, até porque não se pode confiar nem na sua certidão de nascimento. Onde será que o profexor implantará seu próximo “proxeto”? Luxa parece ter descoberto que é mais vantajoso perder campeonatos do que conquistá-los – em vez de medalhas banhadas em ouro vagabundo, vai acumulando rescisões contratuais de 18 quilates. A casa caindo e ele ali, reafirmando que vai cumprir o contrato até o fim, porque não é homem de abandonar a luta. Esse Luxa é um “xênio”.

Eu sonho ver o Alexi Stival (esse o nome do mestre Cuca) transformado em nosso Alex Ferguson – o escocês que dirigiu o Manchester United por 26 anos. Cuca é um doente por futebol: sabe quem joga e como joga a Série C; enxerga nos grotões da Série D o jovem que ninguém viu; da mesma forma, é capaz de identificar no craque que os outros não querem o seu jogador fundamental – foi assim com R10, Leonardo Silva, Fernandinho... Esse Cuca é um gênio.

E se fosse apenas por isso – por sua dedicação ao ofício que escolheu, por seu talento e seriedade –, o Galo já poderia renovar com Cuca pela próxima década. Mas, como nos velhos comerciais das facas Ginsu, não é só isso: comprando o Cuca, você leva ainda uma história de superação que coincide com a do próprio Atlético – essa história que faz o Galo ser diferente de tudo, essa mística que faz do seu torcedor um religioso fundamentalista que, embora não tenha a coleção de títulos de seu rival (obrei), comunga da sorte divina de ter nascido atleticano. Essa coisa que o cruzeirense, coitado, jamais irá entender.

O Cuca é diferente: ele sabe o que é ser atleticano. Sabe do que se trata esse estado de espírito que transcende o futebol e define o caráter. Cuca é atleticano faz um tempão: seus títulos bateram na trave; seu Fluminense escapou do rebaixamento sabe Deus como; sua fé resistiu mesmo diante da injustiça, naquele dia em que o Once Caldas experimentou seu sonho de uma noite de Verón.

A cada semana, uma imagem da Libertadores me parece a mais emocionante. Já foi o pênalti na trave do Baggio paraguaio. Já foi a perna esquerda de Deus. Faz cerca de um mês, no entanto, que a cena do Cuca desabando no gramado na hora do título me enche os olhos. Eu posso ver o encosto saindo das suas costas, naquele exorcismo coletivo que se deu em 25 de julho de 2013.

O Cuca só podia ser campeão no Atlético – ou o romance estaria capenga, carecendo de seu último ato. Agora, há poucos dias do Mundial, o atleticano sabe que está faltando um capítulo nesse épico monumental. Que ele seja tão emocionante, inacreditável e feliz quanto o final de uma novela qualquer. O Cuca merece. O R10, o Jô, o Luan, o Bernard lá do outro lado do mundo, o Belmiro, o Kalil, o Gropen. O atleticano, nem se fala.