Fred Melo Paiva
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COLUNA DE FRED MELO PAIVA

Você pode sair do Galo, mas o Galo não sai de você

'Porque, ao contrário do que ele possa imaginar, o Atlético não é um time de futebol, não é um emprego, não é ciclo que se acabe'

postado em 02/08/2014 14:00

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

Assim que terminou a entrevista coletiva na quarta-feira passada, Ronaldinho foi abraçar jogadores e funcionários da Cidade do Galo. Encontrou nos corredores o diretor de planejamento, Rodolfo Gropen. Advogado tributarista, que trabalha voluntariamente no Atlético (isso existe, e não é apenas ele), Gropen estava com o Kalil no avião que trouxe R10 de Porto Alegre a Belo Horizonte no fim de semana que antecedeu sua contratação. Ronaldinho dorme de boca aberta numa foto feita dentro do teco-teco (na minha concepção de Oscar Niemeyer a respeito da arquitetura dos aviões, se não for Boeing, é teco-teco).

“Doutor”, disse Ronaldinho ao rever Gropen, “eu entrei aqui pra ser jogador de futebol e tô saindo torcedor do Galo”. Assim como aconteceu antes com Marques e Tardelli – e sinto o mesmo com Bernard –, eu tenho pena do ídolo que vai embora do Atlético. Porque, ao contrário do que ele possa imaginar, o Atlético não é um time de futebol, não é um emprego, não é ciclo que se acabe. Aqui é Galo, porra! E, como certas separações amorosas que insistem em dar errado, não há contrato que rescinda aquele incontrolável desejo de dar mais um beijo na boca, uma última bimbadinha – e mais uma, e mais uma. Até que ambas as partes concordem com a falência daquele divórcio.

Tardelli foi pro Catar e, vitimado pelo fuso-horário, não mais dormia, obrigado a ver qualquer Atlético x Caldense que estivesse acontecendo do outro lado do mundo. Obrigado, sim, porque não tinha escolha. Imagino dom Diego em sua cama, a esposa naquela demanda reprimida de mil e uma noites, e ele: “Hoje eu não posso, tem jogo do Galo”.

Marques veio, viu e perdeu. À exceção das duplas com Guilherme e Valdir Bigode, de Doriva e Valdir Todinho, de Taffarel e Veloso, foi estrela solitária em meio a uma profusão de pernas de pau. Ainda assim, é aquela coisa: “Clube Atlético Mineiro, uma vez até morrer”. E embora paulista de Guarulhos, criado no Corinthians, por estas plagas está até hoje. A carreira de deputado é só uma desculpa pra ficar perto do Galão do Massa.

Dario dorme e acorda com a camisa do Atlético. Seu armário deve se limitar a uma gaveta.

Há alguns anos, Cerezo foi convidado pra uma Sessão em Branco e Preto na sede do Atlético. O filme em cartaz mostrava a conquista do tetracampeonato mineiro de 1981. O cara foi campeão do mundo, ganhou tudo e teve todas as glórias – mas foi com imagens de um reles Estadual que ele chorou, assim como chorou no fim do jogo quando, vestindo a camisa do Cruzeiro, ganhou do Galo no Mineirão.

Éder é atleticano roxo, Marcelo Oliveira também. Cincunegui, exilado no Uruguai, não esquece seu Galo querido. Nelinho torce secretamente para o Atlético, posso apostar.

Reinaldo é atleticano até o tutano do joelho. Fez questão de ver a final da Libertadores de 2013 sentado no mesmo ponto do estádio onde assistiu ao Galo perder o título de 1977, quando foi excluído da final pela CBF. A redenção do Galo foi sua própria redenção – e por isso ele ofereceu a R10 a coroa de rei.

Ronaldinho Gaúcho pra sempre vai ser Galoucura. Seus olhos ficarão marejados quando falar do Atlético. Ele vai pedir pra voltar. Quando morrer, a nossa bandeira estará no seu caixão. Porque você pode sair do Galo – mas o Galo não sai de você.

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