Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

A hora é de calçar as chuteiras da humildade

"O cruzeirense não aprende - leva duas na corcova, fora o baile e a freguesia, e segue arrotando superioridade"

postado em 15/11/2014 11:30 / atualizado em 15/11/2014 17:14

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press


A grande vantagem do Atlético sobre o Cruzeiro na finalíssima da Copa do Brasil nada tem a ver com os dois gols marcados no Horto. A maior das vantagens é que o atleticano, tendo sofrido o que sofreu, é um sujeito desprovido de arrogância. E mesmo levitando feliz sobre o milho ao fim do primeiro jogo, ainda encabulado com o destino dos sabugos, passava batido por um vendedor de faixas anunciando o Galo campeão.

Em 1985, disputando a prefeitura de São Paulo, o favorito Fernando Henrique Cardoso sentou-se na cadeira do mandatário para uma foto de jornal. Claro que o Jânio ganhou a eleição – e ainda mandou desinfetar o assento antes de colocar nele o seu traseiro. Se FHC fosse atleticano, não sentaria no trono antes da hora nem pra passar um fax.

O cruzeirense é o oposto – fia-se em seus títulos como se fosse um conde ou um barão do século 19. Até que vem um 15 de novembro como hoje, nego instaura a República, e aquela fleuma toda vai pro saco.

Ainda assim, o cruzeirense não aprende – leva duas na corcova, fora o baile e a freguesia, e segue arrotando superioridade. Mesmo ciente de que a contagem histórica mostra que, se quiser ver o Cruzeiro à frente do Atlético algum dia, deve fazer como Roberto Marinho e Michael Jackson e começar a dormir dentro de uma daquelas bolhas que prometem prolongar a vida até os 200 anos. Mas, como se vê nesses dois casos, nem assim é garantido.

Fábio de Costas é o melhor representante dessa arrogância. Saiu de campo na quarta-feira dizendo que "cada um tem o estádio que merece" – sugeria, assim, ser o Cruzeiro maior que o Atlético. Dou-lhe um desconto, porque não deve ser fácil passar 90 minutos com uma multidão no cangote lembrando que "eu vi o gol do Vanderlei, e o Fábio lá de costas a chorar". Mas, meu caro, que culpa temos nós se você deixou o retrovisor em casa naquele dia?

Nesses tempos em que já ando duvidando do meu próprio ateísmo, fazendo três vezes o sinal da cruz antes de cada tempo do jogo e deixando umas oferendas aos pés da minha estátua de São Victor, começo a crer piamente no castigo de Deus. O cruzeirense acha que o homem lá em cima não viu toda aquela comida sendo desperdiçada e apenas o sabugo tendo alguma serventia. O cruzeirense espera ser perdoado por sua arrogância em 26/11, o dia do juízo final. Só não contava com os 2 a 0, a senha para o atleticano falar com Deus no Disque Denúncia.

Isso tudo pra dizer, amigo atleticano: não caia nessa falácia. Se te ocorrer a ideia de comemorar antes da hora, corra para o chuveiro e tome um banho frio. Se achar que pode ser conveniente adquirir a faixa de uma vez, com desconto, saiba que isso é coisa do diabo e que ela virá como roupa de brechó, repleta de encosto. Resista! Calce as chuteiras da humildade e ofereça-se para catar no gol da pelada. Até o apito final, no dia 26, o atleticano não é maior que ninguém – e agradece a Deus o fato de ter um estádio pra jogar, seja ele qual for.

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