Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

A vida precisa do Galo campeão

"O atleticano não é cartório e não necessita de título para celebrar sua existência - basta-lhe a sorte de ter nascido Galo"

postado em 07/05/2016 12:00 / atualizado em 07/05/2016 08:42

Saja, Saja... Eu te avisei que esse negócio de falar que brasileiro “se borra” diante dos argentinos era, para não perder o ensejo, uma grande cagada. Pior que isso, meu amigo, foi hospedar-se na casa do Crüzeiro, onde o piriri é uma epidemia que se alastra sempre que o Galo vai jogar. Pelo visto, você foi apanhado por essa incontinência, porque acabou retirado do jogo um pouco antes do aquecimento. Ficou a lição: a vingança é um Pratto que te come frio.

Meu amigo de fé, irmão camarada, você que é devoto de São Victor, súdito do Rei e linha de frente no exército do General: faltam seis jogos! Coragem, meu amigo Chico Pinheiro! É chegada a hora da contagem regressiva, das promessas impagáveis e do pacto com o diabo. Hora de lançarmos mão do mesmo decreto editado em 2013: cada um de nós que comprou ingresso para um jogo do Atlético na Série B tem o direito de ver o Galo campeão. Por isso, até que finde esta Libertadores, o atleticano está proibido de morrer. Infarta, mas não morre!

Em São Paulo, já se diz que o jogo da próxima quarta é para dar o troco. Que troco? Sério que nego tá achando que a eliminação na Libertadores de 2013 já quitou a duplicata do Brasileiro roubado em 1977? Nem vem com essa! Aquilo foi dividido em suaves prestações, acrescidas de juros obscenos no melhor estilo Casas Bahia. Esse carnê, meu amigo, ele tem mais folha do que a Bíblia. E só perde para aquele que o Flamengo vem se esforçando pra quitar, do tamanho da Enciclopédia Britânica.

Na quarta-feira ganhamos um reforço que vale uma centena de Calleris: a torcida do Galo voltou a ser a torcida do Galo, medida em decibéis superiores à de uma turbina de avião pelo pessoal do Globo Esporte. A campanha “Abrace um corneta” parece finalmente surtir efeito. O corneteiro que vaia o Atlético deve ser tratado como um doente que merece o nosso carinho. Como o viciado em crack, não adianta reprimi-lo. Ele tem problemas que vão da frustração à contaminação pelo ódio, passando pelo pinto pequeno. Só o afeto pode salvá-lo.

Perguntei ao amigo Carlos Ribas, detentor de um Galo na Veia Black, se havia algum corneta em seu pedaço. “Tinha era uma orquestra sinfônica inteira”, ele me disse. Não sei se confere, mas, em todo caso, a Massa tratou de engolir essa filarmônica, mostrando como a banda toca. Desta vez as Ruas de Fogo superaram o Círio de Nazaré, colocando-se no patamar da Grande Festa que antecede o Ramadã dos muçulmanos. A chuva de papel picado nos remeteu diretamente à avalanche das serpentinas de papel higiênico que a gente fazia no velho Mineirão. As bandeiras estão de volta. Faltam agora as faixas, pra dar aquela favelizada geral. Daniel, meu querido presida: libera o chope, pelo amor de Deus.

É nessa invencível simbiose entre time e torcida que disputaremos amanhã a finalíssima do Campeonato Estadual. No lugar do tradicional João e Cruzeiro, está de volta o Clássico das Multidões: 50 mil do nosso lado, mais a Kombi do América. O atleticano não é cartório e não necessita de título para celebrar sua existência – basta-lhe a sorte de ter nascido Galo. Mas o Galo precisa ganhar porque o Galo campeão é a vitória do amor; a vitória do orgulho sobre a vaidade; a vitória da luta e da resistência. O Brasil precisa do Galo campeão. A vida precisa do Galo campeão. Pra cair a taxa de homicídio, pro povão voltar a sorrir. Pra gente olhar o futuro e ter alguma esperança.

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