
A vida, porém, é essa roda-viva – tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. E quem morreu com a Chape renasceu com os 40 mil colombianos no Atanasio Girardot e as outras dezenas de milhares que não conseguiram ingressar no estádio e lotaram seu entorno num abraço de amor e fé, faca amolada no ceticismo da gente.
Não há Libertadores’2013, não há nada que eu tenha visto na história do futebol que se equipare àquela gente maravilhosa, generosa e solidária, exaltando a Chape campeã. O Brasil, cheio de ódio e desesperança, não entendeu como foram capazes de tamanha grandeza, porque com este artigo raro não mais trabalhamos aqui deste lado da floresta.
É, grande Chico, o Raul é que tava certo, o prato mais caro do melhor banquete é o que se come cabeça de gente que pensa – e os canibais de cabeça descobrem aqueles que pensam.
É, meu caro amigo, faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há. Mas eis que chega a roda-viva e carrega a roseira pra lá.
Enquanto os colombianos ensinavam pra gente uma preciosa lição da qual havíamos nos esquecido, os canalhas faziam a festa em Brasília, na calada do luto e da tragédia. Uma maioria de corruptos votando medidas “anticorrupção”. Milionários velhacos, quase todos velhos e brancos, impondo principalmente aos jovens pretos e pobres uma educação e uma saúde ainda pior do que essas que lhe são ofertadas e que constituem, na prática, a senzala da qual nunca puderam sair.
Gângsteres votando o nosso futuro e bebendo champanhe enquanto pobres e pretos da PM bombardeavam e espancavam outros pobres e outros pretos. E a gente abduzido pelo amor, a generosidade e a solidariedade do nosso vizinho, invejando quem sabe a humanidade que a gente perdeu.
Nos comunicados dos clubes em favor do socorro à Chape, nas camisas verdes, no belíssimo encerramento do Jornal Nacional, houve uma estranha nostalgia de união – a saudade de um país que se foi, esfacelado pela hipocrisia, o egoísmo e a ignorância. Mas, Chico, foi tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou. No peito a saudade cativa faz força pro tempo parar. Mas eis que chega a roda-viva e carrega a saudade pra lá.
Eis que chega o diretor do Inter queixando-se do adiamento da rodada, porque afinal seu time também vive uma “tragédia particular”. Eis que os jogadores de seu clube, que já manifestou desejo de ir ao tapetão contra o rebaixamento, declaram não querer jogar. Supostamente em respeito ao luto, mas suspeitamente em favor de melar o campeonato e se safar. Eis que a CBF quer que Atlético e Chapecoense entrem em campo para o derradeiro compromisso porque seu presidente, o inviajável Marco Polo, planeja para o jogo “uma grande festa”.
Outro dia, nossa jurista e cover do Iron Maiden Janaína Paschoal denunciou em seu Twitter os planos de Putin para a invasão russa ao Brasil. Não poderia ser a Colômbia?