Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

O apressado come cru. Se esperar, come o Cru e quem mais vier

"A diretoria fez a coisa certa: trouxe Roger, Elias, reforçou a zaga. Apoiar, agora, é ter paciência"

postado em 04/02/2017 12:00

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Pra tudo nesta vida, do casamento à separação, do parto aos aparelhos desligados numa sala de UTI, pra tudo há de se esperar um pouco – dar um tempo, deixar que o pensamento se acomode e que a razão prevaleça. Tempo Rei, ah, tempo rei. E eu, menino, me emocionava achando que o Gil tinha feito essa pro Reinaldo.

O que teria sido de nós se um apressado John Kennedy tivesse apertado o botão vermelho durante a crise dos mísseis? O que teria sido de nós se Victor, igualmente apressado, tivesse pulado antes e a bola de Riascos morrido lá dentro, matando o nosso sonho? O que teria sido desse sonho se não tivéssemos tido a paciência de esperar por 42 anos? Deus criou tudo em 7 dias. Vocês estão vendo no que deu.

No clássico João e Cruzeiro (sem trema) da última quarta-feira, Roger Machado completou 28 dias de Atlético – não deve saber ainda onde fica a cantina da firma. O que se faz em 28 dias de um novo emprego, capaz de transformar de imediato os resultados? Basicamente nada, a não ser que você seja Trump e não se avexe de parecer um líder que só passa o fax, que só faz o número 2.

Levir Culpi é um tipo que gosta de chegar chegando. Sua tática é tretar com a estrela do time logo de cara. No Galo, foi um burro com sorte: brigou com Tardelli, afastou Ronaldinho e acabou campeão. No Fluminense de Fred foi apenas burro.

Roger está preparando o terreno. Está fazendo o que deve ser feito: observando, aplicando seus conceitos, vendo quem melhor se adapta a eles. Roger não chegou para dar continuidade a um esquema vencedor, como chegaram Levir Culpi, Aguirre e até Marcelo Oliveira – todos, de alguma forma, herdeiros do Galo Doido de Cuca. Sua tarefa requer mais tempo: Roger foi contratado para reinventar a maneira de jogar do time mais vencedor do Brasil desde 2012, repleto de estrelas e corneteiros a dar com o pau.

Perder para o Cruzeiro nunca será uma coisa corriqueira. Sobretudo para aqueles que, como eu, cresceram na década de 80, quando o time do barro preto (fala, Riascos!) era uma espécie de sparring contra o qual treinávamos para desafios maiores. Mesmo no período das vacas magras – anoréxicas, pode-se dizer –, vencíamos com um golaço de Maradona assinalado por Dinho, o lateral-direito que fazia tudo errado. O Cruzeiro multicampeão queria ver o Galo pelas costas, mas aconteceu o contrário. E o Wanderley não perdoou.

A despeito de toda a freguesia, a derrota de quarta me pareceu normal. O Cruzeiro manteve técnico, elenco e esquema de jogo. Há dois anos a Libertadores deles é ganhar do Galo (e entregar a rapadura a qualquer outro); já a nossa Libertadores é a Libertadores mesmo, e essa só começa em março. Duas lições se tiram do jogo, além das observações do Roger: torcida única é ideia de jerico; o Mineirão é nosso, tem que respeitar. Galoucura BH!

A televisão hoje não suporta mais do que 1 ou 2 segundos da mesma imagem na tela – é preciso uma sequência frenética, ou o espectador, impaciente, muda de canal. As redes sociais não suportam o textão – ninguém tem paciência pra ler mais do que os 140 caracteres do Twitter. Nossas crianças sofrem de ansiedade. Como os adultos, elas não conseguem mais esperar.

A diretoria fez a coisa certa: trouxe Roger, Elias (foto), reforçou a zaga. Apoiar, agora, é ter paciência. O apressado come cru. Se souber esperar, come o Cru e quem mais vier.

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