Bob Faria, colunista do Superesportes, analisa as consequências dos acontecimentos de Atlético x São Paulo, envolvendo Hulk e Daronco (Foto: Bob Faria/Superesportes)

Palavras duras, com voz de veludo. O mundo muda. Adeus velho mundo. Há um segundo tudo estava em paz... Com esses versos, Herbert Vianna sintetiza numa canção como as palavras podem ser inspiradoras ou destrutivas. Palavras que seduzem ou palavras que põem abaixo uma relação de confiança ou admiração. Que trazem oxigênio para a vida ou que simplesmente sufocam.


É preciso ter cuidado com o que se diz. porque quem ouve, não escuta só as palavras que saíram de nossas bocas. Há dentro de cada um de nós um repertório que completa de acordo com nosso estado de espírito, de acordo com nosso momento de vida ou nossa disposição para ouvir, aquilo que foi dito.

Tudo o que chega, chega para completar algo que já está dentro de nós.
Pensar na força das palavras me faz pensar na força do perdão. Porque pedir perdão é uma coisa, mas esperar genuinamente que quem foi ofendido perdoe, é outra bem diferente.

Nossas raízes religiosas, sejam de que doutrina forem, nos pregam que perdoar é sublime, que é um ato de amor e de grandeza. Nos foi ensinado que perdoar nos torna maiores do que aquele que nos ofende. Mas ninguém nos ensinou a diferença entre perdoar e esquecer. E esquecer é muito, muito mais complicado.




Quando alguém te machuca tanto a ponto de você tentar e não conseguir perdoar, você reza (e aí mais uma vez é uma figura de linguagem) para que a coisa mais próxima do perdão lhe atinja. O esquecimento.

Você quer que aquilo se apague da sua memória. O problema é que isso simplesmente não vai acontecer. Tudo vai continuar lá. E vai continuar num lugar bem pior, um lugar cujo acesso você normalmente não tem controle. O seu subconsciente. E em algum momento virá à tona.

Quem bate até releva, quem apanha não.

Palavras duras foram ditas após o jogo entre Atlético e São Paulo. E não foram palavras quaisquer. Foram palavras de intimidação, de revanchismo, de, no mínimo, má vontade de um árbitro para com um atleta.



Só relembrando, segundo o Hulk, Anderson Daronco o advertiu para que tomasse cuidado com o que iria dizer após o jogo, porque esta não seria a última partida em que eles se encontrariam.

Como Daronco preferiu não se pronunciar sobre o episódio, o que temos até agora é a palavra do jogador do Atlético. E assumindo que não foram ditas de cabeça quente, ou simplesmente um desabafo jogado ao vento, são palavras que denotam uma relação muito distorcida e contaminada entre árbitro e atleta.

Acreditem, 90% do que se diz dentro de campo é impublicável. São expressões e diálogos que se encerram no próprio jogo. É normal! Mas algumas coisas, e esse é um caso, precisam ser esclarecidas, porque mesmo que haja perdão, as palavras já foram ditas e estarão guardadas em algum lugar.

E mais cedo ou mais tarde, se não forem explicadas podem causar um estrago ainda maior.