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Cruzeiro: entenda o que está em jogo na votação do projeto clube-empresa

Conselheiros participam de Reunião Extraordinária que definirá os rumos do clube

03/08/2021 10:04 / atualizado em 03/08/2021 11:14
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Votação no Conselho ocorrerá nesta terça-feira
foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro

Votação no Conselho ocorrerá nesta terça-feira


O dia 3 de agosto pode ser uma data histórica para o Cruzeiro Esporte Clube. Na noite desta terça-feira, o Conselho Deliberativo vota o projeto clube-empresa, que abre a Raposa para investidores externos e divide o clube em dois: a associação e a Sociedade Anônima do Futebol (SAF). A diretoria entende que esse é o caminho mais curto para tirar o clube da crise em que se encontra.

O novo modelo clube-empresa (projeto de lei 5516/2019) já foi aprovado no Senado e na Câmara dos Deputados, mas ainda precisa da sanção do presidente Jair Bolsonaro, que se mostrou favorável à mudança.

Com a SAF, o clube irá constituir uma empresa para gerenciar as atividades do futebol. Essa empresa terá, obrigatoriamente, a associação Cruzeiro como acionista majoritária e poderá vender até 49% de suas ações no mercado.

Para isso, a SAF precisa de um estatuto. A diretoria já formulou o documento, que será analisado e votado pelo Conselho. Em entrevista ao Superesportes, o conselheiro Anísio Ciscotto explicou este processo. "Quando a SAF é constituída, 100% do capital fica com o clube. Neste estatuto da fundação, tem que ser explicitado que o Cruzeiro vai emitir ações e pode vender até 49% das ações, além de um arcabouço de normas que garantam seu pleno funcionamento", disse.

"Na hora que vierem os novos investidores, é feita a reforma do estatuto da SAF. Chegam os empresários e fazem um acordo de acionistas. Apesar de o Cruzeiro ser o acionista majoritário, os investidores podem pleitear a administração e a indicação do presidente do Conselho, esse é o momento no qual os acionistas se reúnem e definem como será a administração da SAF", disse o conselheiro.

As atividades de futebol profissional serão administradas pelo conselho de administração da SAF (a composição será discutida no acordo de acionistas), responsável por nomear um CEO e uma diretoria. Assim, quase todo o dinheiro do Cruzeiro (direitos econômicos de atletas, direitos de transmissão, programa de sócio, publicidade e patrocínio) ficará sob gestão empresarial. Os imóveis e clubes de lazer continuarão como patrimônio da associação.

O valor das ações da SAF será definido com auxílio da consultoria norte-americana Alvarez & Marsal. O Cruzeiro entende que, apesar das crises financeira e esportiva, a marca do clube é muito atrativa e pode gerar grande potencial de valorização.

De acordo com o Cruzeiro, os recursos arrecadados com a venda de participação na SAF serão destinados prioritariamente para o pagamento de dívidas mais onerosas do clube, além de investimento no elenco e na infraestrutura dos centros de treinamentos.

A proposta da diretoria do Cruzeiro diz que 20% dos rendimentos da SAF serão destinados ao pagamento de dívidas do clube. O plano de amortização da dívida será feito em um acordo de acionistas. "Conforme previsto no Projeto de Lei, o time que constituir uma empresa para gerir o futebol poderá dissociar suas dívidas da associação. Desta forma, uma dívida do clube não irá interferir no futebol, como acontece atualmente", diz parte do documento enviado pelo Cruzeiro aos conselheiros.

Acordo com corretora


A XP Investimentos ficará responsável por captar investimentos para a futura Sociedade Anônima do Futebol (SAF) que o Cruzeiro espera criar e também abrir o capital na bolsa de valores.

Em entrevista ao podcast Superesportes Entrevista, no último dia 16, o economista e consultor do Banco Itáu BBA, Cesar Grafietti, alertou que a abertura de capital na bolsa de valores ainda deverá levar algum tempo.

"Para virar uma S.A., ação em bolsa, vai levar mais tempo ainda. Você precisa organizar a estrutura, você precisa ter três anos de um balanço bem auditado, você precisa ter um período de reestruturação da companhia, para fazer sentido você ir para a bolsa de valores", explicou.

"Quando você vira uma empresa de capital aberto, você tem custos maiores do que de uma LTDA, ou de uma SAF de capital fechado. Precisa ter uma estrutura robusta para ir para a bolsa. Não pode ser qualquer um que resolve abrir capital e ir para lá. É um processo que deve levar muito mais tempo. Pensar em capital aberto, em bolsa, é um processo mais longo, de três, quatro anos", alertou Grafietti.

O economista apontou o que ele acredita que acontecerá até que o Cruzeiro esteja de fato estruturado para abrir o capital na bolsa de valores.

"O que deve acontecer, uma suposição bem otimista, é que em seis meses, oito meses, o clube consiga estruturar a SAF, encontrar o investidor e, aí sim, se transformar efetivamente em empresa. Até lá, o máximo que vai acontecer é criar a SAF e separar os ativos dos passivos. O que vai ficar de um lado (associação) e o que vai ficar de outro (SAF). Depois, que vai atrás do investidor. É prematuro acreditar que o Cruzeiro vai terminar 2021 como uma empresa, com sócio e tudo mais, exceto se for uma grande ação entre amigos, com empresários cruzeirenses".
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