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Erros, dívidas, arrependimento e fim da linha no Sport: Arnaldo Barros faz balanço da gestão

De saída do cargo, presidente assume que errou ao mudar diretoria várias vezes e revela erros em conduções; apesar disso, se diz orgulhoso de passagem

postado em 28/12/2018 17:20 / atualizado em 28/12/2018 18:34

Bruna Costa/Esp. Dp
Em silêncio desde que o Sport foi rebaixado, o presidente Arnaldo Barros, enfim, resolveu falar. Durante uma hora, deu explicações sobre seu biênio à frente do clube que se encerra no próximo dia 31 de dezembro. No discurso, o mandatário voltou a relatar um racha político no clube, assumiu erros nas conduções de negociações com atletas e empresários e admitiu que terminará com contas pendentes da gestão. Ele também revelou que hoje se arrepende da declaração que afirmando que o Rubro-negro “não cabe em Pernambuco”.

Com a fala incisiva de costume, ríspido em certos momentos, Arnaldo Barros ainda admitiu que não se vê mais ocupando um cargo diretivo dentro do clube rubro-negro futuramente e que agora pretende voltar a se dedicar ao escritório de advocacia do qual é sócio. Confira a entrevista completa abaixo.

Sem arrependimento de ter assumido o clube

“Não me arrependo. Todos sabem que eu não fui preparado para ser presidente do Sport. Meu nome surgiu como um novo de conciliação àquela época e aceitei o desafio. Todos sabiam que seria difícil. Aliás, todos já diziam que o clube estava rachado em duas correntes. Tinha um corrente que abrigava quase todos os ex-presidentes. Do outro lado, estava, (João Humberto) Martorelli, Gustavo Dubeux e José Moura. Depois, Homero Lacerda chegou. Lutei bastante para mudar isso. Depois da eleição, desmontei o palanque, mas entendo que isso é política. Não posso reclamar. Posso reclamar de algumas deslealdades (...).

Isso tudo tem um componente novo para se acostumar, que são as redes sociais. Está aí a eleição do novo presidente do Brasil, onde as redes sociais foram praticamente determinantes. Na minha gestão, começou-se uma atuação muito forte e incisiva (nas redes) e a imprensa tem que refletir isso porque o mundo reflete (...). 

Apesar das dificuldades e das intempéries que passamos, digo que não me arrependo. Estou muito orgulhoso do período que estive aqui como presidente, do primeiro ao último dia do mandato.”

Abertura de contas para sucessor e auditoria 

“Desde a quarta-feira, 19 de dezembro, o presidente Milton Bivar, junto comigo, começou a interagir nessa transição. Passamos todas as informações possíveis. Inclusive, abrimos toda a contabilidade. Alocamos  uma sala aqui para que ele pudesse trabalhar mais à vontade. Selecionamos as documentações com rubricas de transmissão, de fornecedores, com atletas, e passamos para que ele pudesse fazer a mais profunda avaliação possível. 

A imprensa veiculou que haveria  e quero dizer que sou plenamente favorável. Não por nada, mas porque acho que tem de fazer isso mesmo. Para das duas, uma. Encontrar alguma coisa para apontar algo ilícito com eventuais sanções aos responsáveis ou mostrar que a gestão foi bem nisso e não encontraram nenhuma ilicitude. Nós fazemos auditoria periódica com a BDO, que é uma das cinco maiores do mundo. Nesse último ano, eu encurtei o período e ela foi foi feita de quatro em quatro meses. Fizemos porque queremos detectar eventuais falhas. Primeiro porque o Sport é um universo. A quantidade de papéis circulando aqui dentro é monstruosa e você se ater a isso com olhos técnicos. Segundo porque temos que ter a tranquilidade para sair como entramos: de cabeça erguida. Vamos deixar o clube com contas a pagar, mas também com receitas a entrar e com condições de se resolver.”

Saída de jogadores na Justiça

“Desses atletas, posso falar do que fui notificado e tive conhecimento que é de Jair. Até antes mesmo da eleição, Milton falou comigo. E que fique claro: tenho excelente relacionamento com Milton. No Sport, não existe inimigos. Existe pessoas que pensam diferentes. 

O presidente me procurou para me procurou para saber da situação de alguns jogadores e privadamente passei algumas informações. Disse que nós estamos cuidando, que não temos condições de sanar tudo, mas que podemos deixar numa situação que não permita que saiam do Sport sem dar um retorno. Jair estava entre eles. Não acredito no sucesso dessa investida dele. Pode até acontecer, mas, honestamente, não acredito. Até porque depois foi resolvido com aportes do presidente Milton. E é preciso dizer isso. Não foi com aporte da minha gestão. Foi através de Milton que nós sanamos essa situação de Jair antes de sermos notificados. Fora isso, existem outras questões processuais como o foro em que entrou a ação, que é incompatível.”
Bruna Costa/Esp. Dp

Erros das gestão

“Do ano passado, faço uma análise positiva. Ainda que nosso título tenha sido apenas do Campeonato Pernambucano. Tivemos excelente performance, dentro do possível, no futebol. Chegamos a ser vice-campeões da Copa do Nordeste. Tivemos o melhor avanço na Copa do Brasil depois de 2008. Tivemos um inédito avanço na Sul-Americana. Chegamos a bater o recorde de um clube nordestino na Série A. Eu não posso dizer que o futebol não teve sucesso. Poderia ter feito mais? Poderia. 

Em 2018, foi diferente. Tudo isso foi em decorrência de uma série de fatores. Alguns dos muitos erros que nós tivemos foi de fazer várias alterações na vice-presidência de futebol. Eu sou defensor da perenidade. Eduardo Baptista passou oito jogos seguidos sem vencer em um ano e depois passou mais 11 em outro e nós o mantivemos. Isso demonstra mais do que falar (...). 

Erramos em algumas contratações de técnicos e vão me permitir declinar dos nomes porque isso é antiético. Em 2017, nós tivemos alguns recursos que 2018 não teria. Eu falei que medidas amargas precisariam ser tomadas. Nós reduzimos a folha do futebol praticamente à metade. Nós tivemos que demitir pessoas. Tivemos que apertar o cinto. Essas medidas a imprensa e o torcedor ficam insatisfeitos e eu entendo. Mas precisávamos tomar. 

Tivemos outro problema que foi a eliminação precoce da Copa do Brasil. Sem demérito algum ao Ferroviário, mas não esperávamos. Até os 37 minutos do segundo tempo, estávamos classificados. Uma derrota que impactou atletas psicologicamente, o clube financeiramente e politicamente. Ali foi um marco.

Bruna Costa/Esp. Dp
Tivemos outros problemas com alguns atletas, que vocês acompanharam. Também teve a postura de alguns empresários de desafiarem o contrato. Também tivemos dificuldade de lidar com o assédio de clubes a alguns atletas. Nós tínhamos que fazer o melhor negócio para o Sport. Nessa luta, nós tivemos dificuldades. Cada vice à sua época, teve dificuldade quanto a isso. Isso também foi um erro que cometemos.

Jogo de cintura não faltou. Conversamos exaustivamente com os atletas. A questão é que nós tivemos que um problema de relacionamento que desagregou o clube que tentamos conciliar. Nós procuramos nos rearrumar.

Mas tem outro aspecto que você precisa colocar. Quando o clube vai bem e fomos em 2017, outros clubes com poder econômico maior assediaram fortemente os atletas e aí fizeram a cabeça dos empresários deles. Teve atleta que veio dizer: ‘quero se o clube vai colocar para treinar em separado com o salário que ele tem’”.

“Sport não cabe em Pernambuco”

“Uma das questões mais difíceis para o gestor de um clube de futebol é separar o torcedor do dirigente. Por vezes, você se toma na direção com atitudes e manifestações de torcedores. Nenhuma dessas frases foram descontextualizadas. Foi exatamente aquilo. Quando disse que quero que o Brasil se curve ao Sport e que quero disputar com Flamengo, se a gente não tiver essa mentalidade, nós sempre vamos ficar na mesmice. Nós sempre vamos ser ousados, ambiciosos, se não você não cresce. Quando disse que queria disputar com adversários como Flamengo, Corinthians e demais, é com isso que o Sport vai crescer. Não menosprezando os adversários aqui não. 

Santa Cruz e Náutico, vocês podem consultá-los, eu nunca trabalhei unicamente para o Sport. Nos embates que tive com gestores da Liga do Nordeste, na CBF e as emissoras que patrocinam o futebol sempre foi defendendo os três clubes. Quando falo que eu quero ver o Sport querendo ter o adversário como o Flamengo, continuo querendo. O Sport foi campeão da Copa do Brasil com o presidente Milton Bivar lutando com Internacional, Corinthians, com Vasco da Gama. Não foi, com todo respeito, com o Estanciano.

 Quando falo que o Sport não cabe em Pernambuco, hoje em dia eu me arrependo de ter dito isto. Mas o contexto é de que você tinha o Sport na Série A com orçamento de R$ 100 milhões e você via os nossos parceiros, Náutico e Santa Cruz, com orçamentos que chegam a 20% disso. Então, a distorção é grande. Não quero que o Sport desça do seu patamar, mas espero que Náutico e Santa Cruz subam para o patamar do Sport. Agora que há uma diferença muito grande, existe. Ou vocês vão conscientemente negar isso? Isso não tira a grandeza história de Náutico e Santa Cruz.”

Salários atrasados

“Houve vários pagamentos avulsos nesse último mês ou nesses últimos 45 dias de sorte que nós temos atletas que estão absolutamente em dia, tem atletas que a gente deve um mês e tem atletas que devemos três meses. Não há uniformidade. Quanto aos funcionários, existem os que estão em dia e os que estamos devendo dois meses.”

Fim da passagem no Sport

“O Sport é uma paixão de todos nós, eu já dei minha colaboração. Eu entrei no Sport na gestão de Milton Bivar (2007). Desde lá, eu colaborei. Me afastei na gestão de Sílvio (Guimarães). Mas, desde a gestão de Gustavo (Dubeux), eu fiquei direto. Isso traz, apesar da honra que é ser presidente do clube, tem custo elevadíssimo pessoal tremendo. Esse custo é de ordem familiar, pessoal e financeira, que até não foi tanto. Tem um custo muito grande de imagem. A emoção varia muito. Isso causa desgaste muito grande. Não tem pretensão nesse sentido (de voltar ao clube). Como também foi veiculado que teria pretensão de assumir a Liga do Nordeste, não tenho nenhuma pretensão também. Eu preciso voltar aos meus negócios.”
Bruna Costa/Esp. Dp