Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Como um Cabo Daciolo, notícias me chegam ao monte

"Daqui não escuto mais do que rumores sobre Fábio e, sinceramente, espero que não tenha de novo deixado o retrovisor em casa"

postado em 18/08/2018 12:00

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Do meu exílio em São Paulo, ouço rumores sobre o nosso arquissaco de pancadas. Algo ocorreu ao Cruzeiro por esses dias, está claro, mas não sei dizer o que é. Fora os enfrentamentos com o Atlético, dos quais tiramos larga vantagem, a última vez que assisti a um jogo do “time do Barro Preto” – essa expressão me remete sempre ao dia seguinte das minhas exageradas tigelas de açaí – eu tinha 11 anos e havia entre eles um Luiz Cosme. De modo que o Cruzeiro está para mim assim como o caviar para o Zeca Pagodinho: “Nunca vi nem comi, eu só ouço falar”.

Há rumores sobre Fábio de Costas, que teria feito algo de extraordinário. Mas assim como Cabo Daciolo, encontro-me refugiado na montanha, e por isso não sei precisamente do que se trata. Verdade que essa montanha é a Avenida Paulista, onde agora labuto na redação de Carta Capital, nossa orgulhosa sucursal da URSAL – uma sucURSAL, no caso. Mas daqui não escuto mais do que rumores sobre Fábio e, sinceramente, espero que não tenha de novo deixado o retrovisor em casa.

No restaurante Mínimo – cujo dono foi maître do famoso mas já falido Massimo – ouço-o comentar com uma espécie raríssima, um cruzeirense, sobre algo do qual não sei. Ele, ao que parece santista, diz: “Foi roubado, o Gabigol ia marcar e o juiz apitou”. Com o olhar, busca entre os clientes alguém que possa confirmar sua tese. Prontamente me ofereço: “Eu vi! Fábio já tava batido! E o Gabigol ia entrar com bola e tudo, tava praticamente dentro do gol”. Antes de sair, ainda planto a semente da discórdia: “O filho do Zezé Perrella trabalha na CBF, tudo amigo do Aécio”. Era o mínimo que eu podia fazer.

Enquanto isso, notícias me chegam ao monte sobre aquilo que de fato importa a este Cabo Daciolo saído das Alterosas para o Tucanistão: o Clube Atlético Mineiro, maior partido de Minas, coligação entre a esquerda, a direita, o centro, o sul e o norte, o leste e o oeste! Portando sua rede de caçar borboletas, Alexandre Gallo (foto), aquele que não faz jus ao nome, apanhou dessa vez um zagueiro uruguaio. Poderia ter sido você, raro leitor, se estivesse passando na porta da sede. Mas foi Martín Rea, uma jovem promessa.

Em 1983, quando o uruguaio Olivera chegou ao Atlético, tinha acabado de ser campeão mundial pelo Peñarol. Raçudo e competente, barbudo como um Che Guevara, não demorou duas semanas para ganhar a posição de Batista e formar definitivamente a zaga ao lado de Luizinho – isso no meu jogo de botão. Olivera era um Otamendi melhorado. Aposentou-se dois anos depois, infelizmente acometido por uma dor no lombo. Aqui em casa, porém, jogou até 2013, quando perdeu a posição para Leonardo Silva.

Martín Rea é uma promessa. Poderá chegar um dia a Olivera? Com 20 anos e tendo vindo do pequeno Danubio, sua experiência não nos inspira a mais vaga ideia. Como atleticanos e, portanto, crentes patológicos, acreditamos que pode alcançar Luizinho e Leo Silva – ou até superá-los. Mas, no momento, Rea é uma aposta, e não era exatamente de uma aposta que a gente carecia. Gallo acredita tanto em promessas que seria prudente retirá-lo da sala quando começar a propaganda eleitoral na televisão – sob pena de ele apertar todos os números ao mesmo tempo quando posto diante da urna eletrônica no dia da votação.

Sem lamentações, no entanto, meus amigos! A vida do atleticano é dura, e se fosse fácil o filho do Kalil era diretor da CBF, o título de 37 tinha vindo no fax e o Wright tava em prisão provisória negociando sua delação premiada. Sem lamentações, porque ganhamos a última do Santos e nem precisamos acabar o jogo quando a bola já estava praticamente na linha do nosso gol, bastando ser empurrada para dentro pelo adversário. Salve, Ricardo Oliveira, o pastor que eu respeito, além do meu pastor- alemão, o Fidel Castro!

A vida é dura, senhores, e por isso amanhã há um Botafogo em nosso caminho. “Tem coisa que só acontece com o Botafogo”, dizem os botafoguenses – uma delas é atrapalhar a nossa vida. O botafoguense é sujeito supersticioso, azarado e pessimista. Joguemos com essas armas! Eu mesmo já fiz um boneco do Carlos Eugênio Simon, e estou aqui no alto da montanha a furá-lo com um alfinete. O galo é parente do corvo: pra cima deles!

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