Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Sobre fiofó, talismã e pé de coelho

"Na quinta-feira, veja você, o Vasco deu sorte. Mas como isso é um pouco perturbador, o duelo acabou no 0 a 0 que melhor convém ao embate entre dois próceres da ordem dos azarados"

postado em 25/08/2018 12:00 / atualizado em 25/08/2018 14:35

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Existem aqueles que querem a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida e tal. Mas para outros que, oferecendo-se a mão, desejam logo o braço, muito melhor é ter a sorte do Cruzeiro – a “sorte”, dirão os mais desconfiados. Exemplo de tamanho rabo – “rabo” – está evidente nos sorteios para a definição de quem decide em casa os confrontos eliminatórios da Copa do Brasil. Em 16 oportunidades desde a final de 2014, a sorte – “sorte” – sorriu para o Cruzeiro 14 vezes, incluindo a última, a sexta consecutiva. Parece sorteio no STF! “Sorteio.”

Digo isso porque de fato invejo esse fiofó virado pra Lua, esse pão caindo da mesa e, como um gato, virando-se para preservar o lado da manteiga. Já pensou, caro amigo atleticano, onde estaríamos todos se a sorte gargalhasse pra nós dessa maneira tão obscena? Certamente, você estaria lendo esta coluna no New York Times. No mínimo! São teorias conspiratórias, sem dúvida, a sugestão de que o rabo do cruzeirense seria menos do que obra da política – “política”, no caso. Como bom atleticano, eu acredito.

Todo este introdutório acerca do rabo deve-se ao fato de que a semana promoveu um verdadeiro encontro de titãs dos azarados: Botafogo, Atlético e Vasco. Junte-se os três e a Lua será engolida pelo Sol, jatos de manteiga cairão do céu, padarias desabarão sobre nossas cabeças. Note, pois, que nessa peleja entre o espelho partido, o relógio atrasado e a escada na passagem fomos até razoavelmente bem-sucedidos: quatro pontos em seis.

Mas e aquela bola na trave no último segundo do jogo contra o Vasco? Se o leitor me permite, e se não há crianças na sala, minha análise tática sobre aquele lance é: VAI TNC, DESGRAÇA DO CARAIO, PQP, AZAR FDP!!! Ah, não, não podemos nos conformar com esse estado de coisas... Onde está Deus nessa hora? Os direitos federativos de Deus pertencem somente ao Fábio? Onde estava a justiça divina que, como um Gilmar Mendes, não nos deu aquele livramento?

A exemplo de José Dirceu, repilo os comentários jocosos sobre o Vasco, o meu segundo time, o primeiro do Paulinho da Viola. Sim, em seis pontos disputados com eles, ganhamos apenas um, é horrível. Mas sem essa de diminuir o Vasco, algoz do Flamengo desde sempre, primeiro time do Brasil a brigar pelos negros no futebol. Mais tarde se tornou um azarado crônico, ganhando a justificada fama de “vice”. Mas jamais foi vice decorativo, e muito menos golpista – este é o Fluminense.

Na quinta-feira, veja você, o Vasco deu sorte. Mas como isso é um pouco perturbador, o duelo acabou no 0 a 0 que melhor convém ao embate entre dois próceres da ordem dos azarados. Alguém precisa avisar o Thiago Larghi que tampouco essa coisa de talismã funciona pra nós. Pé de coelho, folha de arruda, Luan entrando só no final – tudo bobagem. Teve a camiseta com a Nossa Senhora que o Cuca usava na Libertadores de 2013, mas desconfio que o título foi mais por obra de Ronaldinho, Victor, Tardelli, Jô, Bernard, Réver, Leonardo Silva. Só desconfio. Em todo caso, pode adotar a camiseta, desde que bote o Luan no começo do jogo.

Se contra o Vasco foi azar, contra o Botafogo foi competência. O Botafogo não é uma pedra no nosso sapato – é um muro de arrimo. Vencê-lo é sempre bom presságio. Um inequívoco sinal de que, a despeito de termos nascido com o fiofó virado pro Sol, algo de bom nos aguarda no horizonte.

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