Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Atlético negocia com Deus para 2019

"Em algum momento, Deus foi jogar no Corinthians, sempre ajudado, naquela fase que ficou conhecida como "Deus é Fiel". Por fim, acabou negociado com o Cruzeiro"

postado em 08/12/2018 12:00 / atualizado em 08/12/2018 16:21

Bruno Cantini/Atlético

O goleiro Fábio é o Cabo Daciolo do futebol brasileiro. Glória a Deus! Sua devoção é tamanha, que acabou por cometer um pecado: apropriou-se do homem lá em cima. Acha-se “o escolhido”. Se faz uma grande defesa, não foi ele, mas Ele. Quando o Cruzeiro vence, é sempre por interferência externa, uma manobra extracampo operada do além pelo sósia de Karl Marx.

Evidentemente que isso despertou em mim, um adepto da Igreja Universal do Reino do Galo, uma certa antipatia de Deus. Todo fim de jogo, lá estava o Fábio a revelar o 12º jogador, aquele que nunca esteve inscrito no BID, completamente em desacordo com as regras do ludopédio: “Foi Deus! Essa vitória é de Deus! Glória a Deus!”. Cada vez mais, foi ficando claro que Deus tinha lado, e não era o meu.

A bem da verdade, meu afastamento de Deus começou na Libertadores de 1981. Depois de termos sido roubados pelo Flamengo na final do Brasileiro de 80, veio a chance da desforra no ano seguinte. Expectativa: “Deus é justo”. Realidade: roubaram a gente outra vez. Um crime duplamente qualificado, sem chance de defesa e com requintes de crueldade. Eu tinha apenas 9 anos quando eu vi Deus. Ele vestia uma camisa do Flamengo.

Em algum momento de sua carreira, Deus foi jogar no Corinthians, sempre ajudado, naquela fase que ficou conhecida como “Deus é Fiel”. Houve também uma passagem relâmpago pelo Fluminense, quando este se tornou milagrosamente incaível. Por fim, seu passe acabou negociado com o Cruzeiro. Sabe-se agora o momento exato em que se abriu essa janela de transferência, revelado por Fábio no Pilhado, um canal de Youtube.

“Foi quando me lesionei, na final do Campeonato Mineiro, que eu me choquei com a trave e rompi o joelho. E era decisão de campeonato. Mesmo assim continuei no jogo, não tinha mais substituição. Teve o terceiro gol, que foi o pênalti, fiquei irado, e era o momento que Deus tinha preparado. Não tinha sido pênalti, mas o juiz tinha dado. Quando recomeça o jogo, eu fui pegar a bola dentro do gol, que era a do pênalti. Foi quando eu vi a outra bola passando assim, não sei de onde apareceu. Tinha que acontecer. Ia ser muito fácil só a lesão. Eu ia me recuperar, mas não ia querer saber de Deus. Então, tinha que me moldar. Ele me levou ao pó para fazer um cara novo. Esse gol rodou o mundo inteiro. Muitos falaram que eu ia ficar marcado, que nunca iria jogar, e foi nessa hora que tive um encontro com Deus.”

Ao ouvir Fábio, e certamente imbuído de algum raro espírito natalino, pensei em quantas bolas entraram no meu gol em 2018. Foram tantas e tão variadas, que eu ia buscar uma lá dentro, e nem bem a tinha alcançado, via outra passando assim, não sei de onde aparecia. Em 2018, não houve um ser humano sobre a Terra que não tenha ganhado o sobrenome de Fábio de Costas: José de Costas, Maria de Costas, Alfredo de Costas, Frederico de Costas.

O Ano Novo é uma nova janela de transferência que se abre. Bombardeados na retaguarda, ganhamos o direito de falar com Deus. Precisamos cooptá-lo imediatamente. Para que Tardelli, se podemos ter Deus? Dois novos zagueiros? Que nada, só Deus na causa. No horóscopo chinês, 2019 é o Ano do Porco. Outra vez? Os caras acabaram de ganhar o Brasileiro, estão comprando todo mundo e fazendo rios de dinheiro. Para enfrentar esse Porco capitalista vamos precisar do barbudo lá em cima, o sósia de Karl Marx.

O mais apto a falar com Ele sobre o nosso interesse é, sem dúvida, São Victor. Está autorizado. Fale sobre o melhor CT do mundo, o novo estádio, ofereça um “proxeto”. Mas diga, sobretudo, que a gente merece, que já sofremos o suficiente nesses últimos anos, e que as glórias de 13 e 14 não pagam nossas duplicatas. Explique que em 19 precisaremos do ópio do povo em estado de arte. Mas tome cuidado: há por aí um Deus falsificado pelos charlatões. Esse é igual o irmão do Anelka, não representa.

Com Deus no BID e no coração, desejo a todos os atleticanos um feliz Natal e um ano novo próspero em Conquistadores da América e Brasileirão. Volto em 2019, se ainda houver Brasil.

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