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Renovada, natação brasileira terá 16 estreantes na Olimpíada de Tóquio

Mesmo que sejam iniciantes olímpicos, os nadadores já carregam uma bagagem internacional

26/06/2021 13:43 / atualizado em 26/06/2021 13:50
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Caio Pumputis, um dos grandes nomes da nova geração, soma 42 torneios internacionais
foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Caio Pumputis, um dos grandes nomes da nova geração, soma 42 torneios internacionais

Dos 31 nadadores brasileiros que vão competir nos Jogos de Tóquio, considerando-se natação, saltos e maratona, 19 são estreantes em Olimpíadas. Isso significa 61% da equipe. Só na natação, a equipe tem 26 nadadores com 16 novatos. Nos saltos ornamentais, a renovação é ainda maior. Dos quatro competidores, apenas um já esteve numa Olimpíada. É um momento de transição, em que uma geração está tirando a touca e os óculos enquanto a outra se prepara para cair na água. Novatos e veteranos vão nadar contra a corrente a partir do dia 23 de julho: ele lutam para recolocar a modalidade no pódio depois da falta de medalhas nos Jogos do Rio.

As maiores esperanças dos esportes aquáticos estão no revezamento 4 x 100 masculino, nos 50 m masculino e na maratona aquática. Embora seja um fenômeno comum, a renovação deste ciclo olímpico está mais acelerada. A equipe olímpica do Rio 2016 tinha 33 nadadores, com 19 novatos, ou 57%.

Mesmo que sejam iniciantes olímpicos, os nadadores já carregam uma bagagem internacional. Muitos já participaram do Campeonato Mundial, Pan-Americano ou os Jogos Olímpicos da Juventude. Caio Pumputis, um dos grandes nomes da nova geração, soma 42 torneios internacionais. "A renovação tem de existir. Nos Estados Unidos isso é constante. Sempre tem molecada que aparece com força. Nunca tive problema com pressão. A bagagem vai ajudar a manter o controle", diz o nadador de 22 anos, medalha de prata nos Jogos Panamericanos nos 200 medley e dono do índice olímpico na mesma prova - ele também vai nadar os 100m peito.

"A maioria dos atletas já tem vivência internacional. Isso é importante para a nova geração. Ver que atletas mais novos na primeira Olimpíada motiva os atletas da base", opina Viviane Jungblut, classificada para os 1500 m livre com o recorde brasileiro de 16m14s00.

Renato Cordani, chefe de equipe da Natação em Tóquio, afirma que o objetivo mínino dos nadadores é alcançar a final. Depois, será a hora de pensar nas medalhas que não vieram na última edição dos Jogos. Em 2016, o País conquistou o recorde de finais na história olímpica - oito - participou de dez semifinais. Foram quebrados quatro recordes sul-americanos e um brasileiro. Mas ficou faltando subir ao pódio. !Nos Jogos do Rio, a natação ficou sem medalhas, e vamos em busca de voltar ao pódio e povoar as finais e semifinais", diz o dirigente da Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos (CBDA).

Uma das maiores apostas de medalha está no revezamento 4 x 100 livre masculino, que deve ser disputado pelos quatro primeiros colocados da seletiva olímpica (a equipe ainda não foi convocada oficialmente). São eles: Pedro Spajari, Gabriel Santos, Breno Correia e Marcelo Chierighini.

Nessa prova, Correia é o estreante. Considerado um dos melhores do País, o nadador do Esporte Clube Pinheiros sempre vai bem quando fecha revezamentos. Foi assim no Mundial de Guangzhou, na China, dois anos atrás. No 4x100m livre, ganhou o bronze na batida de mão contra o time italiano. Nos 4x200m livre, ele fez melhor parcial da prova com 1min40s98 e garantiu a medalha de ouro para a equipe e o recorde mundial. "A responsabilidade é proporcional aos resultados. Consegui chegar à seleção em 2018 e estou no meu primeiro time olímpico. Quero ser melhor do que sou e sei que preciso ajustar algumas coisas", diz o atleta de 22 anos.

Outras esperanças de medalha estão em donos de braçadas conhecidas: Bruno Fratus, nos 50 m livre, e Ana Marcela, na maratona aquática (10 km). Fratus, que mora nos Estados Unidos, recebeu uma autorização especial para não precisar vir ao Rio em meio à pandemia e fez uma tomada de tempo na Califórnia. Lá ele completou a prova em 21s80. Uma das grandes estrelas da delegação brasileira, Ana Marcela vai começar nesta segunda-feira, 28, um treino especial de altitude, em Serra Nevada, na Espanha. Em seguida, ela viaja para o Japão.

A natação feminina possui vários rostos novos. Duas delas - Beatriz Dizotti e Viviane Jungblut - estão no 1.500m livre, prova que será disputada pela primeira vez na modalidade feminina. Bia teve tendinite no ombro esquerdo e contou com o suporte da equipe multidisciplinar do Minas Tênis Clube para se recuperar a tempo da seletiva. "O que mudou no meu treinamento foi a minha cabeça. A pandemia foi uma virada de chave. Consegui pensar 'é isso mesmo que eu quero'. Comecei a pensar: o que tenho que fazer para buscar o meu objetivo? Comecei a levar as coisas ainda mais a sério", observa a nadadora de 21 anos. "É a realização de um sonho", resume Giovanna Diamante, atleta do Pinheiros classificada para a prova dos 4x100m medley misto

De tão novos, alguns nadadores ainda convivem com a rotina típica da adolescente. É o caso de Stephanie Balduccini. Aos 16 anos, tem de conciliar as braçadas com as aulas do Ensino Médio do colégio britânico St. Paul's School, em Santo Amaro. A rotina diária inclui aulas, provas, musculação e piscina. Stephanie fez o terceiro melhor tempo na seletiva aquática, na Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Com isso, ela conquistou uma participação no grupo de revezamento 4 x 100 metros, ao lado de Etiene Medeiros, Ana Vieira e Larissa Oliveira.

Balduccini já fez história antes mesmo da Olimpíada. Ela é a mais nova nadadora nacional em uma olimpíada desde Ricardo Prado em 1980. Ele tinha 15 anos quando foi aos Jogos de Moscou. "Ainda não caiu a ficha de que vou para Olimpíada. E caiu menos ainda em relação a esse feito", diz a atleta do Clube Paineiras do Morumby. "Eu não achei que fosse acontecer tão rápido. A minha única competição grande foi o Sul-Americano. Agora, vou para uma Olimpíada adulta". Ela comemora que os Jogos de Tóquio vão coincidir com as férias escolares.

Uma palavra dita nos parágrafos anteriores não pode ficar solta: pandemia. A crise sanitária mundial mudou a vida de todos os atletas e trouxe desafios adicionais para os novatos. Sem piscina em casa, Stephanie trocou o treino por corrida e musculação, mas reconhece que não foi a mesma coisa. Breno Correia perdeu quatro quilos e confessa que ainda está se recuperando.

Com Viviane Jungblut, o desafio foi emocional. Ela outros três atletas não participaram da seletiva olímpica de natação, em abril, porque testaram positivo covid-19. Por isso, eles conseguiram autorização para uma nova tomada de tempos no início de junho, dois meses depois. De casa, ela viu as rivais alcançando o índice. Depois de ter tido sintomas leves, ele conseguiu retornar aos treinos. "Estava preparada em abril, quando tive a notícia que testei positivo. Aquilo me magoou muito, mas tive apoio da minha família e da equipe. Consegui levar para o lado positivo, recuperar as forças até concretizar o sonho de dizer: sou uma atleta olímpica", conta a atleta do Grêmio Náutico União, de Porto Alegre.

FONTES DE INSPIRAÇÃO

Os novatos da equipe brasileira de natação possuem muitas fontes de inspiração na história olímpica Vale lembrar que dois nadadores conquistaram seus melhores resultados logo na primeira Olimpíada. Foram eles: Cesar Cielo, que levou o ouro nos 50 m livre e o bronze nos 100 m livre em Pequim-2008, e Joanna Maranhão, que obteve, quando tinha apenas 17 anos, o melhor resultado da história da natação feminina brasileira em Jogos Olímpicos: o quinto lugar nos 400m medley, em Atenas-2004.

"Dedico esta medalha ao meu avô, aos meus pais, e a todos que me ajudaram", afirmou o nadador ao Estadão à época. Após a chegada ao Brasil, César Cielo foi colocado no carro aberto dos bombeiros e foi passear pelas principais caminhos de São Paulo, como a avenida 23 de Maio.

Um dos maiores nadadores da história brasileira, Gustavo Borges também possui um grande feito de calouros no revezamento brasileiro nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000m, na Austrália. Na ocasião, o time nacional conquistou a medalha de bronze no 4x100 metros livre, apesar de lesão sofrida por Fernando Scherer, o Xuxa.

"O Xuxa estava com um pé machucado. E tínhamos dois calouros na equipe. Foi a força do time que trouxe a medalha", lembrou o ex-atleta, em entrevista ao Estadão. O time brasileiro, na Austrália, contou também com Carlos Jayme e Edvaldo Valério, o Bala. Gustavo Borges já havia conquistado a medalha de prata nos 100m livre de Barcelona-1992 e Atlanta-1996.

Grandes conquistas também foram obtidas em momentos distintos da trajetória olímpica. Djan Madruga, possivelmente o melhor nadador de longa distância da história nacional, conquistou a medalha de bronze no 4x200m livre em Moscou-1980. "O processo de renovação é normal dentro de uma Olimpíada. Alguns veteranos vão ajudar muito, pois já vão para sua 3a olimpíada com o Fratus, Guido, Chierighini e o Leo de Deus. Até mesmo a Etiene Medeiros, que vai para sua segunda olimpíada, com certeza vai ajudar os mais jovens, passando as suas experiências e exercendo liderança", opina Madruga.

Ricardo Prado pode ser considerado um fenômeno da natação brasileira. Aos 15 anos, fez a sua estreia em Jogos Olímpicos (Moscou 1980). Dois anos mais tarde, Pradinho, como era chamado, quebrou o recorde mundial dos 400m medley. Sua trajetória como atleta foi coroada em Los Angeles 1984, quando conquistou a medalha de prata olímpica. Após abandonar as piscinas, virou técnico de natação e especializou-se em gestão esportiva, exercendo funções gerenciais nos comitês organizadores dos Jogos Pan-americanos Rio 2007 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

Na história olímpica, também foram marcantes a trajetória de Thiago Pereira, que levou a medalha de prata nos 400m medley em Londres-2012 e a de Fernando Scherer, dono do bronze nos 50m livre de Atlanta-1996.

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