São três mineiras no time titular: a ponta Gabi Guimarães, a central Carol e a líbero Camila Brait. As duas primeiras nasceram na capital Belo Horizonte, enquanto a terceira é de Frutal, no Triângulo. O trio foi fundamental na tensa vitória brasileira sobre o Comitê Olímpico Russo por 3 sets a 1, na manhã dessa quarta-feira (noite japonesa), na Ariake Arena.
Na defesa, Brait foi consistente como sempre. Carol fez dez pontos e contribuiu de maneira decisiva no bloqueio. Já Gabi foi a maior pontuadora do time no jogo, com 18 pontos. "Estou muito feliz pelo que a gente vem fazendo. Está muito nítido para o mundo inteiro que o que tem feito a diferença para o Brasil é o time e acreditar o tempo inteiro. Sabíamos que não éramos as grandes favoritas, mas que juntas podíamos fazer coisas incríveis. E é o que estamos fazendo", comemorou a ponteira após a virada sobre as russas.
Apenas Ana Cristina, a caçula do grupo (17 anos), e a levantadora Roberta não têm ligação com o vôlei de Minas Gerais. Outras sete atletas do grupo defendem atualmente ou já passaram por clubes mineiros (veja no quadro). No banco de reservas, o auxiliar Paulo Coco, muito ativo durante as partidas, é o treinador do Praia.
Em quadra, uma das atletas que atuam em solo mineiro foi a grande personagem da vitória brasileira após um início apático e com dificuldades na recepção. O começo adverso e o clima "hostil" em quadra - com muita gritaria e festa das russas, que simulavam a torcida em quadra - pareciam prever o pior para a Seleção Brasileira. Foi quando entrou Macris, do Minas.
Titular do time, a levantadora iniciou como reserva nessa quarta e já havia ficado fora das duas partidas anteriores por uma lesão no tornozelo direito - a primeira dessa gravidade na carreira da jogadora de 32 anos, justamente nos Jogos Olímpicos. Nos dias que antecederam as quartas de final, Macris fez fisioterapia até a madrugada para retornar. E foi fundamental na virada.
"Eu estou nas mãos de Deus (risos). Eu estou bem. É claro que tenho dor, mas está progredindo. Até a véspera do jogo, eu não tinha saltado em bloqueio ainda no treino. É realmente incrível essa progressão da melhora dia a dia. Confiei que na hora certa Deus ia prover com o que fosse preciso e a energia do grupo toda fez a diferença para que a gente pudesse sair da dificuldade e conseguir a vitória", comemorou.
Pilha de nervos
Não foi nada simples superar as russas em Ariake. A intensidade adversária no início do duelo abalou psicologicamente o Brasil, que fez campanha perfeita na primeira fase, com cinco vitórias em cinco partidas. O fator mental se agravou com o começo ruim nos fundamentos. O saque adversário entrou, e o time do técnico José Roberto Guimarães sofria para parar Arina Fedorovsteva e Irina Voronkova nos ataques.
O revés no primeiro set reverberou no início do segundo, que também teve predomínio russo. Foi quando a comissão técnica brasileira resolveu colocar Macris no jogo. Titular do time, a levantadora ainda não está na plenitude da forma física após sofrer uma lesão no tornozelo direito na partida diante do Japão, na primeira fase. Mas entrou mesmo assim.
Ela, Gabi e Rosamaria - que também saiu do banco de reservas - foram fundamentais para o crescimento da Seleção Brasileira e a consequente vitória no segundo set numa virada impressionante. Nesse momento, cresceu também a participação da torcida brasileira, que contou com uma presença especial: a nadadora Ana Marcela Cunha, que poucas horas antes havia conquistado a medalha de ouro na maratona aquática.
A tensão das arquibancadas passou para a quadra. Treinador do Comitê Olímpico Russo, o italiano Sergio Busato foi muito criticado por torcedores brasileiros pelo comportamento na área técnica. Em 2019, ele já despertou a ira de outras adversárias por um motivo grave: um gesto racista, imitando olhos puxados, após uma vitória sobre a Coreia do Sul. Nesse ambiente tenso, o Brasil manteve a cabeça no lugar e venceu o terceiro set.
E o quarto começou de maneira favorável também. O Brasil abriu vantagem logo no começo e parecia encaminhar uma vitória tranquila para fechar o jogo. Só parecia. As russas se recuperaram no ataque e contaram com erros adversários para virar a parcial: 17-15. Mas no fim deu tudo certo. Triunfo e vaga na semifinal garantida - para festa (e alívio) das arquibancadas brasileiras e - por que não? - mineiras.
A ligação com Minas Gerais das jogadoras da Seleção Brasileira de vôlei
Bia: jogou no Praia Clube
Camila Brait: é mineira e jogou no Praia Clube
Carol: é mineira e joga no Praia Clube
Carol Gattaz: joga no Minas Tênis Clube
Fernanda Garay: passou pelo Minas Tênis Clube e joga no Praia Clube
Gabi: é mineira e passou pelo Minas Tênis Clube
Macris: joga no Minas Tênis Clube
Natália: passou pelo Minas Tênis Clube
Rosamaria: passou por Minas Tênis Clube e Praia Clube
Tandara: passou por Minas Tênis Clube e Praia Clube
*Só Ana Cristina e Roberta não nasceram em Minas ou jogaram por clubes mineiros