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As emoções de soldados do Afeganistão que competem nas Paraolimpíadas

Alguns sucessos se explicam pelos paralelismos entre a vida militar e a de atleta de alto rendimento

04/09/2021 00:09
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Curtis McGrath conquistou o ouro na canoagem nesta sexta-feira (3) nos Jogos Paralímpicos de Tóquio
foto: YASUYOSHI CHIBA / AFP

Curtis McGrath conquistou o ouro na canoagem nesta sexta-feira (3) nos Jogos Paralímpicos de Tóquio



Os ex-soldados que serviram no Afeganistão, agora atletas paralímpicos, têm sentimentos ambíguos em Tóquio: eles viram recentemente o país cair nas mãos do Talibã, enquanto se preparavam para conquistar uma medalha.

"Tem sido um pouco difícil me concentrar no que tenho que fazer", disse o australiano Curtis McGrath, que conquistou o ouro na canoagem nesta sexta-feira (3), garantindo que tem dificuldade para escapar da situação atual.



O bicampeão paralímpico de 33 anos coloca todo o seu "coração" ao lado dos afegãos "que correm o risco de serem privados de sua liberdade".

Ele perdeu ambas as pernas há nove anos na explosão de um artefato em uma missão na zona de insurreição. Mas se diz "satisfeito" com sua contribuição para o país.

As vozes dos veteranos do Afeganistão reconhecem as semanas difíceis após a tomada de Cabul pelos talibãs. Entre eles, a velocista italiana Monica Contrafatto, que entra na competição neste sábado.



"Meu coração se partiu", disse a atleta, que perdeu a perna direita em um ataque a tiro em 2012, ao jornal Le Messaggero.

"Me senti mal assistindo as cenas (de tiroteios em Cabul), pensei nelas dia e noite. Depois parei de assistir televisão para não distrair meus pensamentos da competição", explicou Contrafatto.

O mesmo tipo de resposta de Stuart Robinson, campeão paralímpico de rúgbi em cadeira de rodas. "Para mim é uma página da minha vida passada há alguns anos", disse o ex-soldado, que perdeu as duas pernas em uma explosão em sua quarta missão, em 2013.

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"Emoções negativas"
"A notícia afegã provocou emoções negativas em muitos, lembrou-os da guerra e das coisas que ex-combatentes viram durante suas missões", disse à AFP o psicólogo Colin Preece, que trabalha com a associação de ajuda aos veteranos 'Help, for Heroes'.

Este grupo afirma ter apoiado 25.600 soldados e suas famílias, incluindo três atletas paraolímpicos feridos no Afeganistão e que ganharam medalhas: Micky Yule, Stuart Robinson e Jaco Van Gass, ouro em perseguição individual e velocidade de equipe, que perdeu o antebraço esquerdo por um lançador de foguetes.

Outros veteranos feridos no Afeganistão também conquistaram pódios em Tóquio: o ciclista americano Shawn Morelli, ouro na modalidade de ciclismo quilômetro, além de seu compatriota Alfredo de los Santos, bronze no revezamento no ciclismo de estrada.

Alguns sucessos se explicam pelos paralelismos entre a vida militar e a de atleta de alto rendimento.

"É preciso determinação e coragem", diz Preece, especialista em gerenciamento de estresse e melhoria de desempenho.

Esta é uma das razões para o número de pódios de veteranos. Um número que pode crescer. Nos 100 metros (categoria T63) no sábado, Monica Contraffato espera "uma medalha" para dois países: "No meu coração represento a Itália e o Afeganistão".

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