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Gilvan diz que gestão de Wagner no Cruzeiro teria condições de pagar dívidas na Fifa

Ex-presidente afirma que deixou bons ativos ao seu sucessor

01/07/2020 10:30 / atualizado em 01/07/2020 14:40
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Gilvan disse que gestão de Wagner teve condições de pagar dívidas na Fifa
foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Gilvan disse que gestão de Wagner teve condições de pagar dívidas na Fifa

As dívidas acumuladas pelo Cruzeiro na Fifa são referentes a jogadores contratados na gestão de Gilvan de Pinho Tavares, que administrou o clube de 2012 a 2017. Para o ex-presidente, o seu sucessor, Wagner Pires de Sá, teve totais condições de resolver os problemas, visto que recebeu um elenco com muitos ativos quando iniciou o mandato, em 1º de janeiro de 2018. A explicação do antigo dirigente foi dada em entrevista ao canal e-Live Sports, do jornalista Afonso Alberto.

“A dívida do Cruzeiro, pelas contas que foram prestadas, era de R$ 350 milhões, se não me engano. Mas essa dívida estava equacionada no Profut, você não tinha que desembolsar nada para pagar, pois pagaria durante 20 anos. Tinha uma dívida de curto prazo que eram as dívidas na Fifa. Mas eu deixei o suficiente no Cruzeiro para ele quitar essas dívidas. Por exemplo: não vendi nenhum jogador para deixar o presidente que veio me substituir passar pelo que passei em 2012. Deixei o time campeão da Copa do Brasil de 2017 montadinho, com os mesmos jogadores, para o presidente que me substituiu, o Wagner. O time era tão bom que foi campeão da Copa do Brasil de novo em 2018, e com os jogadores valorizados”.

Impreciso ao mencionar números, Gilvan falou que o dinheiro da venda de Arrascaeta ao Flamengo, em janeiro de 2019, seria “suficiente” para encerrar as pendências na Fifa - o que, na prática, não procede. O Cruzeiro teria direito a R$ 55,3 milhões, mas se comprometeu a passar R$ 10 milhões ao Supermercados BH, que auxiliou o clube na aquisição do ex-camisa 10, em janeiro de 2015. Além disso, R$ 17 milhões estão bloqueados na Justiça por conta de dívida de imposto de renda com a Fazenda Nacional. Já os débitos por contratações não pagas, de acordo com a Raposa, superam R$ 80 milhões.

“Só com a venda do Arrascaeta o Cruzeiro arrecadou o suficiente para pagar toda essa dívida da Fifa. E ele vendeu vários outros jogadores. Tenho aqui o cálculo de venda de jogadores. O Cruzeiro teve mais de R$ 100 milhões em vendas de atletas depois que eu saí. R$ 110 ou R$ 120 milhões, se não me engano”, frisou o ex-presidente, citando, em seguida, os ganhos com premiações em torneios.

“O Cruzeiro recebeu de premiação da Copa do Brasil (de 2018), somando todas as fases, mais de R$ 70 milhões. Só da última etapa, R$ 50 e tantos milhões. O Cruzeiro recebeu, ainda, uma premiação pela colocação no Campeonato Brasileiro e mais uma quantidade enorme de premiação na Copa Libertadores. Então, o Cruzeiro recebeu R$ 100 e tantos milhões de premiação nas competições”, continuou Gilvan.

“Somando, R$ 200 e tantos milhões de premiação e venda de atletas. Era mais que suficiente para pagar todas as dívidas que tinha no Cruzeiro. As outras eram de longo prazo, inscritas no Profut. Imposto de renda em dia, todos os impostos em dia. Mas só que em um ano e pouco de gestão, acabaram com tudo isso. Não sei como passaram uma dívida de R$ 300 e poucos milhões para mais de R$ 600 milhões. Não sei onde puseram tanto dinheiro”, complementou o ex-dirigente.

Assista à entrevista de Gilvan de Pinho Tavares ao e-Live Sports


Números


O balanço financeiro do Cruzeiro mostra receita de R$ 45,9 milhões com transferências em 2018 e R$ 108,1 milhões em 2019. Além disso, o clube arrecadou R$ 190,7 milhões com publicidade e transmissões de TV no primeiro ano da gestão de Wagner Pires de Sá e R$ 105,7 milhões no segundo. No geral, o faturamento foi de R$ 342,3 milhões, em 2018, e R$ 289,4 milhões, em 2019.

Entretanto, os custos diretos - que englobam atividades desportivas e administrativas -, saltaram de R$ 259,1 milhões, no último ano de Gilvan na presidência (2017), para R$ 327,2 milhões, em 2018, e R$ 477,2 milhões, em 2019 - com Wagner Pires de Sá no cargo.

A dívida total atual, de R$ 799 milhões, pode atingir R$ 942 milhões no fim de 2020, visto que o núcleo gestor que conduziu o Cruzeiro no primeiro semestre estipulou uma previsão de déficit de R$ 143 milhões, principalmente pela perda de receitas provocada pelo rebaixamento à Série B.

Parte do passivo de R$ 799 milhões se deve à perda do Profut. Até o início de fevereiro, o clube devia R$ 253,7 milhões em tributos e R$ 8,1 milhões em contribuição previdenciária, totalizando R$ 261,8 milhões. Gilvan de Pinho Tavares argumentou que a responsabilidade é exclusivamente de Wagner Pires de Sá.

“Totalmente em dia (Profut). Ainda me lembro que no mês de setembro do último ano da minha gestão, o Governo soltou uma medida que se o clube pagasse um valor de R$ 2,5 milhões, teríamos todos os impostos quitados até dezembro. E nós recolhemos o imposto de renda dos atletas rigorosamente em dia. Todos que estavam atrasados ou discutindo na Justiça, foi quitado com esses 2 milhões e pouco. Deixei tudo quitado, zerado, na parte de impostos e no Profut”.

Dívidas na Fifa


Quanto às dívidas na Fifa, o Cruzeiro gerido por Wagner Pires de Sá quitou em 8 de maio de 2019 dívida de R$ 18,5 milhões ao Atenas, do Uruguai, pela aquisição dos direitos econômicos do atacante Gonzalo Latorre, que jamais atuou pelo time principal. Até hoje, a negociação “casada” com a compra de Arrascaeta é motivo de polêmica no clube. E o responsável por autorizar a operação foi justamente Gilvan de Pinho Tavares.

Também por uma contratação efetuada na administração de Gilvan, o Cruzeiro foi punido esportivamente pela Fifa e iniciará a Série B de 2020 com menos seis pontos. O clube não pagou 850 mil euros (R$ 5 milhões) ao Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pelo empréstimo do volante Denílson, em julho de 2016. A confirmação da sanção ocorreu em 19 de maio.

Em 28 de maio, o Cruzeiro se livrou de outro gancho semelhante ao saldar débito de 600 mil euros (R$ 3,5 milhões) com o Zorya, da Ucrânia, pelos direitos econômicos do atacante Willian, em julho de 2014. Ainda há 1 milhão de euros (R$ 5,96 milhões) que serão discutidos pelo Tribunal Arbitral do Esporte no segundo semestre de 2020.

No dia 23 de junho, a Raposa recebeu mais duas ordens de pagamento: uma de US$ 2.286.840,00, pela compra de Rafael Sobis ao Tigres do México, e outra de 395.619,00 euros, no empréstimo de Pedro Rocha junto ao Spartak Moscou, da Rússia. Somados em moeda nacional, os valores correspondem a R$ 14,6 milhões.

Outros casos estão em análise pela Fifa, como as contratações do zagueiro Caicedo (Independiente del Valle, do Equador), do meia Arrascaeta (Defensor, do Uruguai) e do atacante Riascos (Monarcas Morelia, do México, que foi extinto e deu lugar ao Mazatlán FC), além de pendência salarial com o técnico português Paulo Bento.

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