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Cruzeiro x Palmeiras: a rixa entre organizadas de times de origem italiana

Apesar dos laços históricos, já que foram fundados por imigrantes italianos no início do século XX, Porco e Raposa têm torcidas rivais

28/09/2022 14:24 / atualizado em 28/09/2022 17:23
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Briga tomou conta da Fernão Dias, em Carmópolis de Minas
foto: Reprodução

Briga tomou conta da Fernão Dias, em Carmópolis de Minas

Cruzeiro e Palmeiras têm laços históricos, pois foram fundados por imigrantes italianos que vieram tentar uma vida nova no Brasil, no início do século XX. Apesar disso, as torcidas organizadas dos dois clubes são inimigas. 



Nesta quarta-feira (28/9), uma briga entre a Máfia Azul e a Mancha Alviverde, que contou com armas de fogo, barras de ferro e bastões de madeira, entre outros objetos cortantes, resultando em feridos, fechou a Rodovia Fernão Dias (BR-381), em Carmópolis de Minas, de 10h30 ao meio-dia desta quarta-feira (28/9).

A violência entre as torcidas chamou a atenção do Brasil, virando o assunto mais falado nas redes sociais.

Origem italiana


O clube paulista nasceu primeiro, em 1914. Sete anos mais tarde, nasceria o time mineiro. Ambos com o mesmo nome: Palestra Itália.

No início, documentos dos clubes e diálogo entre os jogadores eram apenas em italiano. Com a declaração de guerra entre Brasil e Itália, em 1942, o governo brasileiro obrigou os times a mudarem de nomes e cores.

O professor Rogério Othon, do Departamento de Educação Física e do Desporto da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), lembra que o Cruzeiro nasceu tendo como inspiração o Palmeiras.

"O contexto da fundação do Palestra mineiro é composto por imigrantes italianos que foram ficando em BH após a fundação da cidade (1987) - a ideia era que eles fossem embora após 1897", pontuou.

"Esses italianos foram se desenvolvendo economicamente na cidade, no comércio e nos serviços, e, inspirados nos paulistanos que haviam fundado o Palestra Itália/Palmeiras (1914), a colônia fundou o seu próprio em 1921. Nasceram fortes, com notoriedade social e, por que não, também elitistas", completou.


Entenda a rivalidade


O Superesportes ouviu sob condição de anonimato uma ex-liderança da Máfia Azul - ele pediu para ter o nome ocultado com receio de violência.

De acordo com essa fonte, as torcidas Máfia e Mancha eram 'amigas' até meados dos anos 1980. Nesse período, a violência entre as organizadas no Brasil aumentou e grupos aliados foram formados.

Não há nenhum episódio marcante que tenha definido as alianças. "Eles (Mancha Alviverde) se aproximaram mais da Galoucura e a gente fechou com a Independente".

Naquele momento, a Mancha Alviverde se associou à Galoucura, do Atlético, e à Torcida Jovem, do Vasco, formando a União Sinistra.

Já a Máfia Azul é alinhada à Independente, do São Paulo, e à Jovem, do Flamengo, entre outras.

"Pela lógica, a afinidade maior da Mancha deveria ser com organizadas do Cruzeiro, já que tanto Palmeiras quanto Cruzeiro levavam o nome de Palestra Itália. Mas esse tipo de argumento nem sempre ocorre no futebol", disse o professor Felipe Tavares Lopes, da Universidade de Sorocaba, em entrevista ao Estadão, em agosto deste ano.

O professor explica que não há critério claro para as alianças. "Além dessas afinidades entre clubes, as relações ocorrem em função de uma rede de amizades própria, fazendo parte de um universo autônomo das organizadas. Elas buscam uma rede de proteção, apoio logístico nas viagens, segurança e apoio em algum confronto. Vale nestes casos a ideia de que o amigo do amigo é meu amigo", analisa.

Provocação


A rivalidade entre as maiores torcidas organizadas de Cruzeiro e Palmeiras esquentou ainda mais em 1988, quando o então presidente da Mancha, Cleo Dantas, foi assassinado em São Paulo.

Em um jogo no antigo estádio Palestra Itália entre os clubes, a Máfia Azul começou a ofender o morto: "Cleo, ***ão, vim aqui no seu caixão". Outros cânticos provocativos também foram entoados. Uma briga foi evitada pela Polícia Militar (PM-SP).

"Depois disso, eles nunca mais nos perdoaram. Aí, virou guerra mesmo", disse o líder da Máfia Azul ouvido pela reportagem. "Hoje, foi mais uma batalha dessa guerra que não vai ficar por isso mesmo", projeta.

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