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Jogador toma cartão amarelo ao relatar racismo a árbitro em Santa Catarina

Lateral do Marcílio Dias teria tentado identificar autor das injúrias raciais, quando foi advertido com cartão por 'retardar excessivamente a partida'

29/08/2022 09:33 / atualizado em 29/08/2022 09:54
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Lateral do Marcílio Dias teria tentado identificar autor das injúrias raciais, quando foi advertido com cartão por 'retardar excessivamente a partida'
foto: Divulgação

Lateral do Marcílio Dias teria tentado identificar autor das injúrias raciais, quando foi advertido com cartão por 'retardar excessivamente a partida'


 
O jogador Victor Guilherme, lateral do Marcílio Dias, recebeu cartão amarelo ao tentar relatar ao árbitro que foi vítima de racismo de um torcedor do Joinville na partida entre as equipes que terminou empatada em 0 a 0 na noite do último sábado (27/8), pela Copa Santa Catarina.

De acordo com nota oficial divulgada pelo Marcílio Dias (leia na íntegra abaixo), Victor Guilherme alega ter sido chamado de "negro filho da p*" pelo homem presente na arquibancada. O árbitro da partida, Igor da Silva Albuquerque, colocou a denúncia do lateral na súmula do jogo:

"Aos 35 minutos do segundo tempo, fui informado pelo atleta n° 2 Victor Guilherme da Silva Cavalcante da equipe Marcílio Dias, veio até mim árbitro da partida, relatou ter sofrido injúria racial por um torcedor que se encontrava junto a torcida do Joinville, o atleta informou que foi chamado, (seu negão filha da p*), informo que no momento a equipe de arbitragem não ouviu e deu continuidade a partida normalmente", escreveu o árbitro no documento oficial da partida.

Também em nota (confira na íntegra abaixo), a Federação Catarinense de Futebol afirmou que "irá encaminhar o caso para o Tribunal da Justiça Desportiva do Futebol de Santa Catarina". O Joinville também se pronunciou em comunicado oficial e se colocou "à disposição para qualquer contribuição e suporte".

A partida foi retomada, mas dez minutos depois de Victor Guilherme avisar sobre a injúria racial ao árbitro, o Marcílio Dias teve um lateral no mesmo local em que teria ocorrido o crime, e o jogador conseguiu identificar o autor das declarações racistas, que teria se escondido no momento da primeira denúncia, de acordo com o atleta.

No segundo momento, Victor Guilherme entra em campo para avisar e tentar apontar o suspeito ao árbitro, mas é advertido com cartão amarelo por "retardar excessivamente a execução de um arremesso lateral ou tiro livre", de acordo com a súmula.

Nota oficial Marcílio Dias


"O Clube Náutico Marcílio Dias encontra-se estarrecido e indignado com mais um ato de racismo durante a prática de futebol profissional, desta vez com um atleta do próprio Clube, o lateral Victor Guilherme.
O atleta alega ter sido ofendido de "negro filho da p*" por um torcedor do Joinville, durante a partida, antes de uma cobrança de lateral. Victor Guilherme levou o fato ao trio de arbitragem, que colocou em súmula:
"Aos 35 minutos do segundo tempo, fui informado pelo atleta n°2 Victor Guilherme da Silva Cavalcante da equipe Marcílio Dias , veio até mim árbitro da partida, relatou ter sofrido injúria racial por um torcedor que se encontrava junto a torcida do Joinville".
Minutos após o ato, o agressor - que havia se escondido de acordo com Victor Guilherme - voltou ao local das ofensas e foi identificado pelo atleta antes de uma cobrança lateral no mesmo local das injúrias iniciais. O mesmo apontou ao árbitro Igor da Silva Albuquerque, que advertiu o atleta do Marcílio Dias, vítima de racismo, com cartão amarelo, por "retardar excessivamente a execução de um arremesso lateral ou tiro livre".
Ou seja: ao tentar fazer seu direito de denúncia de um ato de racismo e que o torcedor fosse identificado e levado às autoridades competentes, a vítima do ato racista foi advertida com cartão amarelo.
É estarrecedor que estes fatos continuem acontecendo no futebol, e na sociedade como um todo, e que punições severas aos racistas deixem de acontecer. Racismo é crime inafiançável previsto na Constituição e em leis como a 7.716/89. Cabe a nós reprimir, denunciar e fazer com que o racismo seja eliminado de uma vez por todas do convívio social.
O Marcílio Dias se solidariza com o atleta Victor Guilherme. O Clube, que leva o nome de um herói nacional negro - neto de escravos - não irá se calar e irá cobrar da Federação Catarinense de Futebol e demais órgãos competentes maior rigor e punições severas a estes fatos completamente lamentáveis e indignantes.
Temos que dar um basta no racismo!".
 
 


Nota oficial do Joinville:


"O Joinville Esporte Clube tomou conhecimento e lamenta profundamente o caso de racismo relatado pelo atleta Victor Guilherme, lateral do Marcílio Dias, no confronto pela rodada de estreia da Copa Santa Catarina, neste sábado (27), na Arena. Já na manhã deste domingo (28), assim que soube do fato, o presidente do JEC, Charles Fischer, entrou em contato com o presidente do Clube Náutico Marcílio Dias, Hercílio Henrique de Mello Tristão, e com o jogador Victor Guilherme, se colocando à disposição para qualquer contribuição e suporte.
O Joinville é um clube de todos, e tem muito orgulho disso. Na nossa história estão marcas de povos de várias partes do mundo. Nosso primeiro gol foi marcado por um negro, Tonho "Cabeça de Fé". Nossa maior revelação é um negro, o volante Ramires, com participação em duas Copas do Mundo. Além de tantos outros atletas e de etnias diversas que representaram e representam a nossa camisa. Manifestamos total repúdio a qualquer manifestação de cunho racista ou preconceituoso e temos certeza de que a absoluta maioria da torcida jequeana também repudia atos dessa natureza. Preconceituosos não nos representam!".
 
 

Nota oficial da Federação Catarinense de Futebol:
 
"A Federação Catarinense de Futebol (FCF), com indignação, repudia veemente os atos racistas ocorridos na noite deste sábado (27/08) vindo de torcedores contra o jogador Victor Guilherme, do Marcílio Dias, em jogo contra o Joinville, pela Copa Santa Catarina.
É um assunto que precisa ser tratado com seriedade para que não volte a ocorrer nos estádios e na sociedade. Todos merecem respeito.
O caso foi registrado em súmula pela equipe de arbitragem e será apurado.
A FCF irá encaminhar o caso para o Tribunal da Justiça Desportiva do Futebol de Santa Catarina, a quem competirá processar e julgar o lamentável fato".


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