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Paulo Junior: Palmeiras celebra título de 1993 com antídoto à fila

Campeões de título que tirou Alviverde da fila foram homenageados em mais uma noite brilhante de equipe que cozinhou sua maturidade em vitórias

06/06/2023 06:00 / atualizado em 06/06/2023 01:28
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Campeões do Paulistão de 1993 foram homenageados pelo Palmeiras no último sábado
foto: Mauricio Rito

Campeões do Paulistão de 1993 foram homenageados pelo Palmeiras no último sábado

Quando os campeões do Paulista de 1993 surgiram no campo no intervalo para a homenagem de três décadas do título mais icônico da história do Palmeiras, o jogo contra o Coritiba já apontava uma ordinária vitória por 2 a 0, conquistada ao natural pelo time que aperta para recuperar a bola, amassa o adversário contra a área e roda até encontrar o cruzamento de gol. Terminou 3 a 1 na rotina cumpridora que é a marca desse elenco, um voo padrão, sem firulas nem sustos.
 

Não era bem assim o retrato de 30 meses de junho atrás. O time comandado por Vanderlei Luxemburgo perdeu o jogo de ida da final estadual para o Corinthians, no cruzamento de Neto que encontrou Viola se jogando na segunda trave, pronto para imitar o porco. Perdeu também Amaral, jovem titular do meio-campo, expulso, e ainda lidava com Evair voltando de lesão. Acima de tudo tinha o peso de um Parque Antarctica nas costas, quase 17 anos sem títulos, uma geração toda ouvindo o eco no vazio da sala de troféus.

Aquele time foi montado com muito investimento e escolhas com base no talento. Era o primeiro grande planejamento feito pela Parmalat, cogestora do futebol alviverde, que chegou ao jogo decisivo com um pôster que tinha oito titulares no radar da seleção brasileira. A diferença de escala é evidente e chega a ser injusta a comparação com o contexto atual. O clube fundado por imigrantes italianos e a empresa de laticínios da província de Parma se juntaram pela elite dos jogadores da época.
 

Subiram os degraus do Morumbi, com as meias brancas sugeridas a Vanderlei pelo médium Robério de Ogum, quatro futuros campeões do mundo, Mazinho, Roberto Carlos, Edílson e Zinho, mais dois vices, César Sampaio e Edmundo, e outros dois que poderiam estar nesse bolo, Antônio Carlos (atual técnico do Coxa) e Evair. A goleada por 4 a 0 sobre o maior rival no dia dos Namorados fez do 12 de junho a data memorável do palmeirense.

O time de hoje não foi forjado na seca de conquistas. Abel Ferreira chegou para as fases decisivas dos torneios de 2020 e encontrou remanescentes do título brasileiro de 2018 com Luiz Felipe Scolari, além de jovens recém-campeões estaduais com Luxa, logo as duas grandes referências no comando do clube, ainda que numa certa nostalgia dos anos 90. Não era um momento de corda no pescoço, pelo contrário. Fase de protagonismo dos garotos, de radical mudança na rota das contratações ao trocar o agressivo Alexandre Mattos pelo moderado Anderson Barros, e de aposta num jovem técnico estrangeiro para um trabalho de longo prazo (por pouco não foi Miguel Ángel Ramírez, então no Independiente del Valle, do Equador). 

Aconteceu exatamente o contrário: esse Palmeiras cozinhou sua maturidade não na fila de títulos, mas na sequência de vitórias. Abel ganhou as duas Copas em que estreou nas oitavas de final, a Libertadores da América e a do Brasil, e foi modelando seu time já com quadros na parede. Primeiro em finais, é verdade, com o auge num épico em Montevidéu contra o Flamengo para ganhar a América em dobro no mesmo ano. Mas na última temporada, com os temperos que só meses e anos de casa podem ajeitar, veio a consistência de uma liga por pontos corridos vencida praticamente de ponta a ponta, liderada desde a rodada 10 e de longe até meio insossa – para os rivais.
 
Com Abel Ferreira, Palmeiras tem se estabelecido como favorito em todas as competições que disputa
foto: Iconsport

Com Abel Ferreira, Palmeiras tem se estabelecido como favorito em todas as competições que disputa

 

Foi aí que essa assinatura ganhou força, a de um time programado para ganhar, que parece protegido de qualquer risco de longo jejum de resultados. Nos últimos meses, você conta as derrotas nos dedos, a volta para o Fortaleza com vaga encaminhada, o time reserva em La Paz, uma ida para o Água Santa que terminou em virada por goleada, o jogo no Beira-Rio já campeão brasileiro, a semifinal da Libertadores para o Athletico-PR, em agosto do ano passado... E só (!). É também por isso que se olha para mais uma vitória protocolar e acaba se imaginando que, mais uma vez, é dali que poderá vir uma constância de título. 

Essa série de taças fez com que Ademir da Guia, maior ídolo da história do clube, surgisse num vídeo institucional no final do ano passado para batizar o momento como a Terceira Academia, se juntando a dos anos 60, a primeira, e depois a dos anos 70, a segunda, cravando na pele desse elenco a alcunha máxima do clube. Há quem considere o termo mais adequado para o time dos anos 90, e então, se é para contar as Academias, que essa seja a quarta. A tão falada era Parmalat contribui para o salto, vinculando aqueles anos à marca estampada no peito que gerenciava a coisa toda. No clube, tem quem prefira era Allianz Parque, em referência à fase inaugurada com o novo estádio, uma máquina de faturamento e um símbolo da nova comunhão com a torcida, independentemente do status da patrocinadora atual que unificou as cadeiras e sentou também na presidência.

Em campo, a grande notícia é Artur, pela velocidade e facilidade com que se igualou em protagonismo a Veiga e Dudu com só metade de um turno, encaixado ao rígido jogo coletivo ao mesmo tempo que à vontade para fluir como nos seus melhores momentos de Bragantino. Na semana, a falta é Gustavo Gómez, suspenso para o jogo contra o São Paulo e desfalque logo no estádio em que esse time menos joga bem. Curioso que foi numa ausência do paraguaio há quase três anos que Luxemburgo perdeu a invencibilidade no Brasileiro, passou três jogos sem ganhar e acabou demitido. Faz muita falta na proteção da área e na autoridade que o time tem na bola aérea, inclusive na frente.
 


A dois pontos do líder, o Palmeiras agora tem margem para superar os números do Botafogo na próxima rodada e, quem sabe, acordar na ponta do Brasileiro em pleno 12 de junho. Será mais um aniversário em que a torcida irá debater qual gol foi mais comemorado, o de Zinho ou o de Veiga, o de Evair ou o de Deyverson. Outra boa: ganhar a Libertadores supera a emoção de vestir a faixa depois de tanto tempo, para muitos de forma inédita, naquele domingo em 1993? As perguntas de sempre. Enquanto isso, na memória o time do encanto e do alívio, no campo o time que ganha e não larga. O futebol, afinal.

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