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Mauricio Noriega: técnicos descontrolados levam o Galo à autossabotagem

Cuca e Coudet, dois dos comandantes recentes, são reconhecidamente instáveis emocionalmente

14/06/2023 06:00 / atualizado em 13/06/2023 18:03
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Torcedor do Atlético-MG mostra tatuagem de galo
foto: Iconsport

Torcedor do Atlético-MG mostra tatuagem de galo


 
"Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos."

João Cabral de Melo Neto, trecho de Tecendo a Manhã

Ao contrário do que prega a vã filosofia, galo voa, sim! Mas a apaixonada massa atleticana anda ressabiada com os voos curtos e desnorteados do seu Galo.

Para se transformar num bando coeso, forte e vingador, o Galo precisa de um caminho claro e definido.

Dono daquele que considero o elenco mais encorpado no Brasil, o Atlético se autossabota ao não sustentar trabalhos em longo prazo. Seja pela pressa em trocar de comando ou pela insistência em contratar treinadores descontrolados e incapazes de manter compromissos.
 

Desde 2020 passaram pelo comando técnico do Galo cinco treinadores diferentes: Rafael Dudamel, Jorge Sampaoli, Cuca (duas vezes), Turco Mohamed e Eduardo Coudet. Um venezuelano, três argentinos e um brasileiro. Uma salada de ideias difícil de harmonizar. No mesmo período, o Palmeiras teve Abel Ferreira e se manteve como o ganhador frequente do mais poderoso trio do futebol nacional. O Flamengo venceu com oscilação e foi derrotado duas vezes em duelos diretos com o Palmeiras.

A falta de uma linha coerente de trabalho em seu time profissional faz do Galo refém de projetos pessoais de treinadores. Dois deles reconhecidamente instáveis emocionalmente: Cuca e Coudet. Difícil projetar em longo prazo com treinadores que da noite para o dia mudam de ideia. Cuca, com um passivo complicado para lidar, parece ter adotado nos últimos tempos a tática de sair campeão para voltar como salvador da pátria. Coudet mostrou no Inter ser volúvel. Sem contar que tenta jogar a culpa em um elenco que oferece, sim, possibilidades de bom trabalho.
 
Eduardo Coudet comandou o Galo em 35 partidas
foto: Iconsport

Eduardo Coudet comandou o Galo em 35 partidas

 

Os dirigentes atleticanos parecem seduzidos pelo estilo dos treinadores argentinos. Sonharam com Marcelo Gallardo, que disse não. Os holofotes agora apontam para técnicos portugueses. Mas com qual critério? Que estilo de jogo? Qual proposta de trabalho? Ou é pura busca por repetição do sucesso de Abel Ferreira e Jorge Jesus?
 

 

Galo precisa entender seu potencial


Ao conseguir o mais difícil, que é montar um elenco recheado de boas opções, o Galo joga contra o próprio patrimônio ao submeter o bando a mudanças constantes de rumo e orientação tática. Transfere ao técnico de plantão a responsabilidade que deveria ser de sua gestão profissional de futebol: oferecer a oportunidade de consolidação de um trabalho.

Tudo isso às vésperas da inauguração de seu sonhado estádio, que pode marcar, efetivamente, uma virada de chave rumo a eras de conquistas. Foi assim com o rival Palmeiras, que se reinventou através do Allianz Parque, inaugurado em 2014. Entre 2015 e 2020, o Palmeiras teve nove treinadores diferentes (sem contar o interino) e ganhou uma Copa do Brasil, um Paulista e dois Brasileiros. De 2020 até agora, um treinador e duas Libertadores, uma Copa do Brasil, dois Paulistas, um Brasileiro, uma Recopa da Libertadores e uma Supercopa do Brasil.

Cabe ao Galo fazer uma leitura fria e racional de seu gigantesco potencial, analisar o que acontece nos principais adversários e entender o momento histórico por que está passando. A oportunidade está desenhada e as ferramentas estão à disposição.

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