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Ipatinga deve desistir do Módulo II do Mineiro e pode encerrar atividades

Sem recursos para arcar com os salários dos atletas, clube do Vale do Aço vive situação financeira delicada após promessas não cumpridas do investidor

21/04/2022 11:43 / atualizado em 21/04/2022 12:35
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Ipatinga pode encerrar as atividades após 24 anos de sua fundação
foto: Divulgação/Ipatinga

Ipatinga pode encerrar as atividades após 24 anos de sua fundação

A menos de uma semana para o início do Módulo II do Campeonato Mineiro, o Ipatinga se depara com a possibilidade de desistir da competição. Com poucos recursos financeiros, o clube trabalha até mesmo com a possibilidade de encerrar as atividades. 
 
A informação foi divulgada inicialmente pelo portal Plox e confirmada ao Superesportes pelo presidente do Tigre, Nicanor Pires.

Segundo o dirigente, o clube do Vale do Aço tem um acordo com o empresário Raúl Cardona, que garantiu o pagamento da folha salarial, mas até então não cumpriu com a promessa. 

"Este ano eu já tinha decidido não disputar (o Estadual), antes mesmo de ter o arbitral, porque se você desiste antes, o clube é rebaixado, mas não tem multa nem punição. Porém, o Raúl apareceu, e nós nos reunimos várias vezes para tentarmos desenvolver uma parceria, que no papel foi muito boa para o Ipatinga. Só que ele começou a não cumprir com o combinado. Inclusive, foi uma proposta até dele, de que ele pagasse toda a folha salarial e que o clube ficasse responsável pelas outras despesas, como alimentação, viagem e borderô”, relata Nicanor.

Raúl Cardona faz parte Elite Football, empresa fundada em 2010 e que tem escritórios na Colômbia. Ele é agente de jogadores colombianos conhecidos no futebol brasileiro, como o meio-campista Víctor Cantillo, do Corinthians, e o atacante Jonathan Copete, ex-Santos e atualmente no Avaí.

A reportagem tentou contato com o empresário, mas não recebeu resposta até o momento. 

Ainda de acordo com o presidente, Raúl prometeu há vários dias que iria transferir o dinheiro, mas até o momento, isso não ocorreu. A folha salarial de março já venceu, e o clube não tem como solucionar o problema. 
 
Ao saber da situação do Tigre, o técnico Gustavo Brancão também ficou com receio de prosseguir no cargo e solicitou o desligamento do clube. Para seu lugar, foi contratado Jorge Castilho.
 
O Ipatinga trabalha com 26 atletas para a disputa do Módulo II, mas nenhum foi registrado no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF porque eles se recusam a assinar contrato diante da falta de pagamento dos salários. Nicanor revela que os valores trabalhados pelo clube são acima do padrão da competição, devido às promessas feitas pelo empresário. 
 
"Eu não o conhecia. A história é muito bonita para nós, o melhor cenário possível. Ele prometeu uma folha salarial absurda, valores que nem são praticados no Módulo II. Tanto que ele trouxe um jogador que em 2019 estava no Flamengo (Thiago Santos)”, explica. 
 
Diante do problema financeiro, o Ipatinga dispensou, na terça-feira (19), os atletas da categoria Sub-20, que contava com vários jogadores agenciados por Raúl Cardona. Ainda de acordo com Nicanor, o empresário também levou colombianos ao grupo profissional do clube, mas não arcou com os custos.
 
"Ele trouxe colombianos, que estão na cidade sem receber. Os colombianos que ele trouxe, estão aqui desde de 17 de fevereiro, e, segundo me relatam, é que o Raul não cumpriu nada do que foi prometido com eles. Só estão comendo porque têm alimentação no clube”, afirmou o presidente. 
 

Fim do Ipatinga? 

 
A estreia do Ipatinga no Módulo II está marcada para a próxima quarta-feira (27), às 19h30, contra o Tupi, no Ipatingão. O Regulamento Específico da Competição (REC) prevê que somente os atletas e técnicos registrados até o dia útil anterior à realização da partida podem participar dos jogos.  
 
Além do imbróglio envolvendo o empresário colombiano, o time do Vale do Aço não tem patrocinadores que o ajudem a arcar com os salários. Nicanor explica que os problemas financeiros do clube são de longa data. 
 
"Isso é só mais um capítulo da história toda. O problema do Ipatinga vem de longos anos, de dívidas trabalhistas muito grandes, não conseguimos receber patrocínio, a Justiça está sempre penhorando e bloqueando tudo, devido ao histórico do clube. Aqui, na região do Vale do Aço, é muito difícil resgatarmos a credibilidade e a confiança dos empresários para que eles apoiem novamente por tudo que aconteceu em gestões passadas”, relata. 
 
Sem esperanças de receber qualquer valor de Raúl Cardona, o presidente ainda tenta movimentações na cidade, com empresários e até mesmo o prefeito. No entanto, pelo prazo ser curto, ele não acredita que irá reverter a situação a tempo. 
 
Caso a desistência do Módulo II se confirme, o Ipatinga será automaticamente rebaixado à Segunda Divisão do Mineiro (na prática, a terceira). Além disso, vai estar sujeito a uma multa de até R$ 200 mil  e suspensão de dois anos de todas as competições chanceladas pela Diretoria de Competições (DOC) da Federação Mineira de Futebol (FMF).  
 
Com isso, Nicanor Pires revela que o Ipatinga pode até mesmo fechar as portas após 24 anos de fundação. "A esperança é que alguém na cidade apoie, não deixe o Ipatinga acabar. Acredito que se não disputarmos (o Módulo II), o Ipatinga fecha as portas. O clube com R$ 30 milhões de dívidas trabalhistas, cheio de bloqueios judiciais, tomar uma punição de ficar dois anos sem disputar e uma multa de R$ 200 mil da FMF, acredito que ninguém irá querer 'pegar' depois”, lamenta o dirigente. 

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