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América, Atlético e Cruzeiro: jogadores de futebol podem declarar voto?

O Superesportes apurou que Coelho, Galo e Raposa não censuram os atletas em relação a postagens políticas nas redes sociais, mas fazem alerta

02/09/2022 06:00 / atualizado em 05/09/2022 08:54
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Jogadores podem declarar voto nas eleições de 2022
foto: Alexandre Guzanshe / EM DA PRESS; Pedro Souza / Atlético; Staff Images / Cruzeiro

Jogadores podem declarar voto nas eleições de 2022


Poucas vezes uma eleição foi tão polarizada e tão marcada por discurso de intolerância política quanto o pleito presidencial deste ano. Em função disso, o envolvimento de jogadores de futebol com esse tema pode trazer desgaste para as imagens deles e dos clubes, avaliam fontes ouvidas pelo Superesportes nos times da capital. 

A reportagem apurou que América, Atlético e Cruzeiro não censuram os jogadores em relação a postagens políticas nas redes. O que é feito é um trabalho de orientação para preparar e alertar o grupo de atletas sobre os riscos de entrar em assuntos polêmicos. 

Maurício do Vôlei como exemplo negativo



O departamento de comunicação do América realizou, durante a temporada, um curso de media training para instruir os atletas com informações gerais sobre o posicionamento em entrevistas e nas redes sociais. O clube entende que o jogador tem liberdade para postar o que quiser, mas deve assumir a responsabilidade de representar as marcas do Coelho e dos patrocinadores.

Durante esse evento no clube, foi utilizado o exemplo do atleta e hoje candidato a deputado federal Maurício Souza (PL). Em outubro do ano passado, ele fez comentários de teor homofóbico sobre o filho do personagem em quadrinhos 'Super-Homem'. A DC Comics anunciou que o herdeiro do super-herói seria bissexual. "Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar...", disse o jogador.

Maurício gerou problema de imagem para Minas, Fiat e Gerdau
foto: Minas/divulgação

Maurício gerou problema de imagem para Minas, Fiat e Gerdau


O caso ganhou grande repercussão na imprensa e nas redes sociais, desencadeando pressão sobre os patrocinadores do Minas Tênis Clube. A equipe pediu para que o jogador se retratasse, mas isso não foi o suficiente. Ele acabou demitido. Depois desse episódio, Maurício continuou fazendo postagens com teor homofóbico nas redes. 

Assim como outros clubes, o América não quer um episódio parecido que exponha negativamente os apoiadores e a imagem da própria instituição.

Regulamento interno no Galo


Na Cidade do Galo, o regulamento interno cita o bom senso e o cuidado no momento da exposição da imagem do atleta, do clube e dos patrocinadores nas redes sociais e na imprensa. Além disso, há o alerta para que os jogadores evitem assuntos que possam trazer prejuízo à instituição.

Atlético informa que não há nenhum tipo de censura aos jogadores, mas sim a precaução na abordagem de assuntos polêmicos, como a política. O clube crê que, mesmo as redes sociais sendo particulares, os atletas também são porta-vozes do time em muitos momentos.



O fato de o Galo viver uma crise dentro de campo, com duas vitórias nos últimos dez jogos, além de quatro derrotas e quatro empates, deve afastar ainda mais os atletas de outros assuntos que não o futebol. O clima nas redes sociais já está pesado para o elenco, que tem sido cobrado por melhores resultados. 

A avaliação é que o grupo alvinegro deve evitar se colocar em uma posição de vulnerabilidade, já que, nas redes sociais, os atletas podem ser atacados e ameaçados por perfis falsos, além da possibilidade do cancelamento, quando um grupo questiona e condena algum famoso por determinadas atitudes.

Cruzeiro faz recomendação


Na Toca da Raposa II, o Cruzeiro conversou com o elenco meses atrás sobre a polarização envolvendo a disputa eleitoral e recomendou que evitasse tocar no tema para não haver indisposição com parte da torcida. 

O Cruzeiro acredita que os funcionários são livres em sua vida privada para apoiar candidatos, inclusive com postagens nas redes sociais, mas proibiu manifestação partidária com a camisa da Raposa e durante o momento do trabalho, seja em um jogo, seja durante uma entrevista no qual o jogador figura como representante do clube.

Sócio majoritário da SAF do Cruzeiro, com 90% das ações, o ex-jogador Ronaldo disse que não pretende se posicionar politicamente sobre as eleições. Em entrevista ao jornal 'Folha de S. Paulo', em junho deste ano, ele tocou no assunto e mostrou certo arrependimento do passado.



"Em 2014 (quando apoiou o candidato Aécio Neves na eleição presidencial), apanhei demais, como se eu fosse o culpado de tudo. Vou votar, mas não vou me posicionar publicamente sobre o meu voto", disse.

Especialista


Vice-presidente de comunicação e marketing da Federação Paulista de Futebol e sócio da Press FC, empresa que assessora clubes e atletas, Fernando Mello avalia que os jogadores podem declarar apoio político, mas entende que há riscos.

"Como indivíduo, eu acho bacana o atleta se posicionar, defender bandeiras. Mas eles correm risco de uma rejeição dependendo da posição partidária. Ele pode afastar as marcas patrocinadoras, pode gerar uma rejeição, mas como indivíduo eles têm o direito de se manifestar. Eu não impediria um atleta de manifestar sua opinião, só diria que há riscos, que ele pode deixar uma parte dos seus seguidores irritada".

Mello acredita que existe um certo afastamento entre a opinião dos jogadores e o que pensam as marcas e os clubes que eles representam. "Eles podem ser vistos como representantes dos clubes e das marcas, mas eu diria que é um pouco exagerado. Entendo que, um atleta expressando a sua opinião individual sobre um tema, ele não se confunde com a opinião dos clubes ou das marcas. Mas ele tem que saber que o que ele diz tem repercussão. Dependendo do que ele disser, se falar alguma coisa despropositada, certamente ele vai ter problema com os clubes e com as marcas".

Por fim, o especialista opina que é necessário um trabalho profissional nas redes sociais dos jogadores. "As redes sociais são um campo minado, qualquer coisa que se fala, você vai ter haters e lovers. Com um post, você pode perder patrocinadores, seguidores, pode desagradar muita gente, então, acho que o cuidado com a rede social é fundamental. Todo atleta tem que ter o apoio de profissionais especializados em comunicação para que, no mínimo, esses profissionais possam alertá-lo sobre o risco de fazer ou não uma publicação".

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