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O BRASIL NAS COPAS

E os psicólogos não queriam os negros...

postado em 23/02/2014 09:37 / atualizado em 23/02/2014 09:37

 (ARQUIVO O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS - 29/6/58)

O título mundial conquistado pelo Brasil em 1958 deixou muitas lições naquela época e representou uma resposta à altura para aqueles que não confiavam na capacidade dos jogadores brasileiros, sobretudo os negros. Por isso, a Seleção Brasileira estreou na Copa do Mundo diante da Áustria em 8 de junho, em Uddevalla, com um time composto basicamente por jogadores brancos: Gilmar; De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Mazzola, Dida e Zagallo. O único negro era Didi. Primeiro, porque era o craque daquela equipe. Segundo, porque seu reserva, Moacir, também era negro.

A escolha por brancos teria sido baseada num relatório científico chamado Ku Klux-Klan, racista e inaceitável, que teria sido feito em 1956 por uma comissão de médicos e preparadores físicos durante uma viagem da Seleção Brasileira à Europa. Esse estudo jamais foi confirmado pela CBD. A pesquisa teria apontado uma suposta inferioridade psicológica do atleta negro: ele sentiria uma espécie de banzo quando se afastava do Brasil, ficava tristes e não jogava o que sabia jogar. Por essa teoria, não conseguia suportar fortes emoções ou ter grandes responsabilidades.

O relatório teria explicações empíricas para justificar o fracasso do Brasil na Copa do Mundo de 1950, quando o goleiro Barbosa, um negro, foi responsabilizado pela derrota para o Uruguai, ou mesmo para a briga com os húngaros na eliminação nas quartas de final em 1954. A pesquisa foi seguida pelo técnico Vicente Feola nos dois primeiros jogos e fez com que o lateral-direito Djalma Santos, titular na Copa da Suíça quatro anos antes, perdesse o posto para o mediano De Sordi. O pior: com Garrincha e Pelé no banco.

EXAMES Também por isso a CBD contratou o psicólogo João Carvalhaes, rigoroso psicotécnico da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), de São Paulo, para fazer exames. Carvalhaes barrou a dupla que seria sensação do Mundial da Suécia. Os resultados de Carvalhaes não foram animadores: Pelé era apenas mediano (tirou nota 5,5 numa escala de 0 a 10). Mas o pior foi Garrincha, que tirou 3 e escapou raspando da qualificação de aparente debilidade mental.

“Pelé era infantil e carecia de espírito de luta, enquanto Garrincha não tinha a responsabilidade necessária para disputar uma Copa do Mundo”, descreve a jornalista e mestre em comunicação e cultura pela UFRJ Angélica Basthi, ao dissecar o estudo na obra Pelé: estrela negra em campos verdes. A escolha de ambos diante da União Soviética, na última rodada da primeira fase, foi uma atitude conjunta de Vicente Feola e de Paulo Machado de Carvalho, pressionados para buscar a vitória. Eles esqueceram a psicologia e puseram a dupla em campo. Felizmente para eles e para o mundo do futebol, Garrincha e Pelé deram a resposta verdadeira aos críticos e ao preconceito. Juntos, eles jamais perderam pela Seleção Brasileira, de 1958 a 1966. (RD)

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