A derrota da Seleção Brasileira por 2 a 0 para o Chile, na última quinta-feira, na estreia das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, despertou no torcedor o temor de ficar pela primeira vez de fora do torneio de seleções. Apesar de exagerado, o sentimento é reflexo da incapacidade da CBF de encontrar respostas para a pior crise da história do time canarinho. Segundo o ex-jogador holandês Clarence Seedorf, que conheceu a realidade do futebol brasileiro ao defender o Botafogo em 2013, a entidade precisa entender que somente um planejamento de longo prazo fará com que a Seleção volte a apresentar o futebol que a consagrou como pentacampeã mundial.
“Falta planejamento, inovação e renovação. A CBF deve abrir os olhos para o mundo. Alemanha e Espanha fizeram um planejamento há 15 anos. Os resultados que conquistaram não são de agora, eles prepararam isso. Na Holanda também estão começando a pensar para os próximos dez e 15 anos”, afirmou Seedorf. “Se o Brasil acha que conquistará as coisas só com o talento, porque isso seus jogadores sempre tiveram, então acabou. Não existe mais aquela diferença técnica de antigamente. Essa diferença só voltará a existir se o Brasil se renovar com o trabalho da base nos clubes e na Seleção”.
Seedorf esteve em São Paulo para participar de um congresso que o Palmeiras promoveu para discutir as ciências do futebol. Ele discursou por cerca de uma hora e falou brevemente sobre a traumática derrota por 7 a 1 da Seleção para a Alemanha, nas semifinais da Copa do Mundo de 2014. Para o ex-jogador, os atletas não souberam lidar com a pressão que antecedeu a partida. “Talvez eles não estivessem preparados para um evento desses”, disse. “O (zagueiro) David Luiz queria subir toda a hora para o ataque, mas ele sabe jogar muito melhor do que isso. São seres humanos e estavam com o psicológico muito pressionado por jogarem dentro de casa”.
Sem ter visto a derrota para o Chile, no meio da semana, Seedorf preferiu não comentar sobre o rendimento da equipe dirigida por Dunga. Mas ressaltou que dificilmente haverá mudanças na Seleção se os presidentes dos clubes nacionais continuarem demitindo treinadores a cada sequência negativa de resultados. O holandês acredita que a prática prejudica a formação técnica dos atletas e afeta a qualidade do Campeonato Brasileiro.
“Treinadores são trocados a cada dois meses. É preciso haver uma lógica e um planejamento. Seria importante para o futebol brasileiro se os técnicos tivessem tempo para desenvolver suas ideias. Às vezes é melhor trocar se um time não dá retorno por muito tempo, mas quase todas as situações que vi no passado não mudaram muito (com as demissões). Os resultados seguem iguais e os atletas que poderiam ir para a Seleção deixam de render, porque o sistema de jogo muda e alguém que estava bem é trocado de posição. Manter os treinadores no lugar poderia ajudar”, opinou.
O ex-jogador, que se aposentou no início de 2014 para dirigir o Milan, também sofreu com a falta de paciência de dirigentes e foi dispensado de suas funções com menos de cinco meses. Ele possui um vínculo de mais sete meses com os rossoneros e estaria disposto a ouvir ofertas de clubes brasileiros após esse período. “Eu joguei aqui, né. Sou um cara que vive no mundo. Tenho esse final de contrato, depois vamos ver”.
SELEÇÃO BRASILEIRA
'CBF deve abrir olhos para o mundo', diz ex-jogador Seedorf sobre crise da Seleção
Para Seedorf, entidade precisa de um planejamento de longo prazo
Gazeta Press
postado em 12/10/2015 10:01 / atualizado em 12/10/2015 10:09