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COLUNA DO JAECI

Wagner Ribeiro diz que dirigente e técnicos levam dinheiro

Sugiro ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal que entrem nessa seara e investiguem a fundo as transações feitas no futebol brasileiro de duas décadas para cá

postado em 17/07/2017 12:00 / atualizado em 17/07/2017 08:14

REPRODUÇÃO


Em entrevista a um site, o empresário Wagner Ribeiro, considerado o mais importante do país, declarou, entre outras coisas, o seguinte: “Antes, quando o agente tinha um jogador da base do clube e queria fazer um contrato, um percentual de direito econômico ficava para o jogador e para algum investidor. Muitas vezes, os dirigentes da base colocavam o investidor deles para receber o percentual. Não era do clube, mas pessoal. Você pode ver que em todos os clubes do Brasil acontece isso”. E vai além: “Tem muito dirigente que não é correto. Mas tem muito treinador que quer levar vantagem também. Criam dificuldades para vender o atleta se não forem levar alguma vantagem. Principalmente treinador da base. Isso é o Brasil, e não é de agora. É coisa bem antiga”. O empresário diz que conhece muito dirigente e técnico que levaram dinheiro por fora, mas se recusa a dar nomes. “Conheço muitas histórias,  todos nós conhecemos, mas é claro que ninguém vai dar nomes, mesmo porque a gente tem medo de sofrer alguma represália, ou por não ter como provar”. Senhoras e senhores, está escrito que há muito dirigente ladrão, técnico corrupto. Quem diz é Wagner Ribeiro, agente das principais estrelas de futebol negociadas para o exterior, que vive isso há anos.

Venho batendo nesta tecla há tempos. Por que o Ministério Público não abre um caminho de investigação para pegar os dirigentes que ficaram ricos, e deixaram os clubes quebrados, e os técnicos que fazem armações e pilantragem, levando grana na contratação e venda de jogadores? Ribeiro não mentiu. Ele falou coisas que viveu nesses anos todos em que entrou para o mundo do futebol. Acho que é uma conta simples: peguem o dirigente antes de entrar no clube, vejam sua declaração de renda e confirmem o que ele tem atualmente. Se a conta não fechar, é porque nesse angu tem caroço. Recentemente, o ex-presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, foi pego com a boca na botija em negociação de um jogador levando grana, por meio de sua namorada. Tanto que foi escurraçado do clube. Não sei se devolveu o dinheiro e nem se responde a processo. Provavelmente, ficou por isso mesmo. Assim como Aidar, há outros que precisam se explicar. Por isso, sempre fui a favor de dirigentes remunerados, pois, como os clubes do Brasil não são empresas, como na Europa, e os dirigentes são considerados amadores, sem receber nada pelo trabalho, há os que metem a mão.

Em 2000, fui à Europa, fiquei dois meses por lá, principalmente no Leste Europeu, e fiz a duplamente premiada matéria Meninos do Brasil, que ganhou os prêmios Ayrton Senna de Jornalismo e Imprensa Embratel. Documentei e provei que empresários inescrupulosos levavam os garotos para jogar no exterior, os abandonavam por lá, pegavam a grana e iam embora. Uma escravatura branca. Em uma série de 11 reportagens, contei o drama dos garotos. Fui convidado a depor na CPI do Futebol, dei nomes aos bois, e, graças a minha matéria, o governo brasileiro criou um dispositivo que obriga a ida de algum membro da família com jovens que vão para o exterior jogar futebol. Além dos prêmios que ganhei, esse foi meu maior troféu e meu maior orgulho. Por que as autoridades não fazem o mesmo e entram firme nessa questão de dirigentes corruptos, que quebram os clubes e saem ricos? Tem dirigente que levou a renda de um jogo de seu time para casa e disse que foi assaltado. Isso é o fim!

Infelizmente, como disse Wagner Ribeiro, é difícil provar. Normalmente, o empresário entra em contato com o dirigente dizendo que tem proposta pelo jogador ‘X’. Pede a autorização para negociá-lo e combina a comissão que receberá com o presidente. Nessa hora, os dirigentes desonestos combinam com o empresário e ambos dividem a comissão, normalmente depositada em conta no exterior. O dirigente não está roubando o dinheiro do clube e sim participando da comissão do empresário. Por isso é difícil provar, como disse Ribeiro. Dizem que isso não é ilegal, mas que é imoral, ah isso é!

Sugiro ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal, instituições nas quais confiamos, que entrem nessa seara e investiguem a fundo as transações feitas no futebol brasileiro de duas décadas para cá. Tenho certeza que vão pegar dirigentes e técnicos envolvidos em negociatas escusas e nebulosas. A entrevista de Wagner Ribeiro é muito grave e séria. Sei que o Brasil tem muitos casos de corrupção com o dinheiro público para ser resolvidos, mas não custa dispensar um tempo para dar uma limpada no esporte bretão, tão doente dentro e fora das quatro linhas. O assunto é tão grave que preferi abordá-lo em vez de falar sobre a rodada do Brasileirão disputada ontem.

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