
As façanhas de Izabela, que perdeu a visão aos seis anos e se tornou medalhista paralímpica:
Nascida na Vila Oeste e criada no Bairro Serrano, Izabela vive atualmente no Bairro São João Batista. É casada com Anderson Coelho, de 42, que, como ela, não enxerga. Ele é atleta de corrida, especialista em provas de fundo. Apesar das dificuldades, ela se orgulha de sua vida e do marido. Os dois moram sozinhos num apartamento que fica no quarto andar de um prédio sem elevador. Não têm a ajuda de ninguém. Todos os dias, ela se levanta às 7h, limpa a casa, lava e passa as roupas, tendo como companheiros o rádio e a televisão. Pela manhã e à tarde, treina no Centro de Treinamento da UFMG.
E não é só. À noite, ela cursa serviço social, na Faculdade Estácio de Sá, que fica próxima de sua casa. “Todo mundo pensa que ser cega é horrível, mas não é não. A gente aprende a viver, a levar uma vida normal. Escuto os jornais e as novelas todos os dias. Meu marido é vidrado em televisão, filmes. Faço supermercado e vou a açougue, padaria, sempre sozinha. Sempre aparece alguém para ajudar.”
Em entrevista ao Estado de Minas, ela fala sobre os desafios encontrados nas pistas de atletismo e na vida.
Cegueira
“Parei de enxergar aos 6 anos, quando tive sarampo. Tive a doença porque minha mãe relaxou com as vacinas, mas não a culpo. Ela não sabia, ou podia imaginar, que algo assim aconteceria. Na infância e adolescência, fiquei em casa, sendo tratada, minha família não me deixava sair. Isso fez com que eu me tornasse obesa. Cheguei a pesar 160 quilos. Até que com 18 anos fui levada para o Instituto São Rafael, para estudar. E lá fui apresentada ao esporte. Primeiro participava de corridas. Perdi peso, muito. Cheguei aos 60 quilos, mas não gostava, ficava muito cansada. Eu até tinha prazer em correr, mas havia a cobrança por resultados, inclusive de minha parte.”
O esporte
“Ia do Instituto São Rafael para o treino de carona com um dos técnicos, Cássio. Um dia, dentro do carro, peguei numa bola de ferro muito pesada, que me chamou a atenção. Perguntei para ele o que era e ele me disse que era o peso, usado no arremesso. Quis experimentar. Não sabia que havia no atletismo provas além das corridas. Do Instituto São Rafael fui para a Associação dos Deficientes Visuais de Belo Horizonte (Adevibel), para competir. Falei com a treinadora, Ana Camila, sobre meu interesse nas provas de campo e comecei a praticar. Já treinava na pista da PUC, no Dom Cabral, com o Jarbas, um amigo. Ele me apresentou o meu preparador físico, Ivan Bertelli, com quem estou até hoje.”
Dificuldades

Dia a dia
“Já tive propostas de São Paulo, mas não quis ir. Pra sair de BH seria muito difícil. Aqui já conheço tudo. Vou a lugares e pego ônibus pra tudo quanto é lado. Saio de casa, pego um ônibus até a entrada da UFMG. Outro até lá dentro e nesse último ponto meu treinador me pega e leva para o CT. Antes era pior, pois os treinos eram no Clube dos Oficiais da PM e precisava pegar três ônibus às vezes, assim como na PUC.”
Sonho realizado
“Foi com o Bertelli que comecei a desenvolver as técnicas para competir no dardo, no disco e no peso. Ele é, como diria, meus olhos. Com ele obtive a classificação para os Jogos Paralímpicos de Londres. Não consegui bom resultado, mas estava lá competindo pelo meu país. Quando comecei a treinar, se falassem comigo que eu iria para uma Paralimpíada, para um Mundial, morria de rir. Achava que não tinha qualquer chance. Olha, surpreendi a mim mesma. Quando ganhei minha primeira medalha, no peso, no Mundial de Lyon, não acreditei. Bateu uma emoção muito forte. Chorei como nunca tinha chorado. Foi uma grande vitória.”