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LUTO

Morre Humberto Ladeira, ícone do basquete mineiro

Ex-jogador do Ginástico enfrentou Harlem Globetrotters na primeira vez que o time espetáculo veio a Belo Horizonte, em 1951

postado em 20/06/2020 12:01 / atualizado em 20/06/2020 14:22

(Foto: Arquivo Pessoal)
Uma vida dedicada ao basquete. Esse era Humberto Ladeira, que faleceu aos 91 anos no fim da noite dessa sexta-feira, no Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte. Ele estava em tratamento de um câncer e foi vítima de apneia e parada cardíaca. O corpo será velado neste sábado, na Santa Casa de Misericórdia. O sepultamento ocorre à tarde, no Cemitério do Bonfim.
 
Ladeira, como era chamado, foi um ícone do Ginástico e uma referência do basquete mineiro. Ele integrou o primeiro time da agremiação, em 1947, e sua história se confunde com a do clube pelo qual era apaixonado. Com o Ginástico, foi diversas vezes campeão mineiro. Defendeu também a Seleção Mineira.
 
No ano de 1951, o Harlem Globetrotters esteve em Belo Horizonte pela primeira vez para enfrentar o Ginástico. Não havia um ginásio na cidade à altura dos gênios do basquete mundial. Por isso, foi montado um tablado e uma quadra a céu aberto no gramado do Estádio Otacílio Negrão de Lima, também conhecido como Alameda, antiga casa do América, no Bairro Santa Efigênia

O jogo foi muito disputado e, ao final, a vitória dos Globetrotters por apenas 12 pontos de diferença. E Ladeira estava lá. O Ginástico formou com Zé Luís, Tuca, Vavá, Ladeira e Dinho.
 
Depois de encerrar a carreira de jogador, Ladeira se tornou técnico do Ginástico e dirigiu também a Seleção Mineira. A sua paixão pelo basquete era enorme. Sempre às quartas-feiras e domingos, comparecia à pelada dos ex-jogadores do clube.
 
Até adoecer, com um câncer na bexiga, há três anos, Ladeira ia todos os dias no clube de seu coração, para acompanhar os jogadores das equipes de base. Não se limitava a assistir aos treinos, sendo também um incentivador da garotada. Muitas vezes, chamava um menino, o levava para a quadra e ia ensiná-lo a arremessar a bola à cesta.
 
(Foto: Arquivo Pessoal)

A maior homenagem


No ano de 2017, na última vinda do Harlem Globetrotters a Belo Horizonte, o jogo aconteceu no Ginásio do Marista Hall, no Bairro São Pedro. E lá estava Ladeira. Foi um dia inesquecível. Sem que soubesse de nada, Ladeira foi levado para dentro da quadra. Assistiu o jogo de uma cadeira perto da mesa de arbitragem. No intervalo, a surpresa maior. Ele é chamado pelo alto-falante do ginásio e é recepcionado por dirigentes e jogadores do Harlem Globetrotters. Recebe um cartão e uma camisa do time norte-americano.

Ele se emocionou e disse, à época. "Não poderia deixar de vir.  “Tive o prazer de jogar contra eles e não posso deixar de prestigiar o espetáculo. Foi espetacular. Eles jogavam demais A gente só conhecia de ouvir falar.  Fizemos o time deles suar, pois o jogo terminou com só 12 pontos de diferença". 

Amigos e ex-companheiros lamentam


Alexandre Soares, ex-jogador

"Ladeirão partiu. Mais um Ginastino, que vai reforçar o time do Céu! Muitas lembranças maravilhosas me passam pela cabeça que marcou momentos da minha infância frequentando sua casa na Rua Caraça para jogar basquete no quintal com seus filhos, os amigos Bruno e Leo, enquanto ele dedilhava um piano na maior competência. Almoços, jogos, viagens, muitas. Ele teve um Aero Willis, depois um Galaxie, que nos levava para treinos e jogos. Lembranças da pelada. Ele era símbolo de raça, exemplo de afeto, de carinho, e de alegria com sua gargalhada... Vá com Deus, mestre". 

Humberto Gontijo, ex-jogador

"Um exemplo. Ladeira foi um pai para todos nós ginastinos. Um carinho ímpar. Quando alguém adoecia ele ia visitar, entre outras atitudes carinhosas. Estou muito sentido, mas estava sofrendo muito.”

Marcos Cenni, ex-jogador

“Um grande Ginastino, uma grande pessoa com coração enorme. Partiu para ter o merecido descanso. Leva o nosso carinho e respeito eterno! Deus te receba com muito amor, mestre Ladeira". 

Edgar Soares, coronel reformado da PM e ex-jogador

“Joguei uma temporada no G de Prata. Porém lembro-me dele jogando, apitando e como técnico. Uma vida vivida no bola ao cesto. Uma perda, mas fica o exemplo de dedicação. Nossas condolências". 

Emílio Caram, ex-jogador

"Amigo sempre presente. Uma vida dedicada ao basquete, encerrei minha carreira de jogador no Ginástico, em 71. Ladeira, amigo a qualquer hora, um dos alicerces do Ginástico, muito triste, vida que segue”. 

Claret, ex-jogador

"Sonho realizado. Num dos Campeonatos dos Veteranos, não lembro o ano, fizemos um time de Campo Belo e tivemos a honra de ter o Ladeira no nosso time. Foi muito legal. Nossos sentimentos da turma de Campo Belo aos familiares e aos amigos do Ginástico".