Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Eleição passa, Cruzeiro fica

Preguei boton com o rosto do Mano; balancei a bandeira 'o empate é nosso' e varei noites disparando spams com o GIF '#ManobolSim #SapatênisNão'

postado em 31/10/2018 09:00 / atualizado em 31/10/2018 09:48

Leandro Couri/EM/D.A Press
Ao contrário dos fogos da “Quarta-feira do Itaquerão”, os disparos de domingo dividiram os cruzeirenses. Uma ala aplaudiu e outra chorou. Escolhi o meu lado, eu não me arrependo, seguirei resistindo, mas para o bem geral da Nação Azul, sai a eleição e entra o ópio! Pausa o que nos divide e entra algo gigante que nos une: o amor incondicional pela instituição Cruzeiro Esporte Clube, o maior e mais popular time fora do Eixo RJ-SP.

Nesse campo de disputa, na maioria do tempo, temos a licença da passionalidade. Somos torcedores! Por isso, num dia, se ganhamos o Hexa, esquecemos a ruindade do Ezequiel e o abraçamos emocionados. Mas se no outro perdemos para o Ceará, num Brasileirão que só anda valendo mesmo para consolidar o Bi- Flanelation, aí entupimos os grupos do zap-zap com revoltas – infelizmente – momentâneas: “quem ganhou com a compra do Bruno Silva? Por que R$ 6 milhões no Mancuello? Quanto de patrimônio já devemos ao banco atleticano pelos seguidos empréstimos?”. Um chororô sem fim.

Eu mesmo virei meu voto. Fiz com a consciência e o coração azul tranquilos. Confesso: não votei no Manobol no primeiro turno dessa temporada. Questionei suas ausências no ataque e por virar as costas para a base. Mas foi só o time entrar no segundo turno vencendo debates no corpo a corpo da Copa Libertadores Raiz e da Copa Cruzeiro do Brasil, e eu me rendi ao seu plano de governo. Deixei de ser indeciso e me tornei cabo eleitoral. Preguei boton com o rosto do Mano Menezes; balancei bandeira com o slogan “o empate é nosso” e varei noites disparando spams com o GIF “#ManobolSim #SapatênisNão”.

Só que mesmo deixando a paixão levar meu coração celeste, não nasci para ser omisso. Somos multicampeões porque lá da arquibancada sempre cobramos. Sabemos a história minúscula e o 6a1 guardados para quem vive de forma doentia a obsessão por querer “destruir o Cruzeiro”. Precisamos nos lembrar sempre do que nos separa dos pequenos. Só assim não perderemos nunca a capacidade de sermos gigantes no futebol e por que não, na vida de cidadão consciente do seu papel.

Para ajudar nisso, ainda sonho com um jornalismo investigativo vencendo a era das repercussões de Twitter, Instagram e grupos de Whatsapp. Onde denúncias sejam investigadas, negócios nebulosos sejam questionados e pautas afeitas à vida do torcedor comum ganhem espaço no noticiário esportivo.

Por exemplo, quem ainda se lembra da reforma do Ginásio do Horto feita com dinheiro público na véspera da Copa do Mundo de 2014?

Quantos jornalistas, blogueiros ou twiteiros repercutiram a grave denúncia do Superesportes sobre a manobra das licenças ambientais para construir a arena gourmet dos De Lourdes, mesmo sendo num terreno comprovadamente repleto de nascentes e reservas de biodiversidade?

Quantas vezes nas eleições, o novo governador de Minas foi perguntado sobre o destino que dará à Toca da Raposa 3? Afeito ao liberalismo, como se vivêssemos na Suécia, a quem ele entregará o estádio? O Cruzeiro se preocupou com isso?

No campo da defesa do torcedor comum, ainda acredito no diálogo e na boa vontade da diretoria e do conselho do Cruzeiro. Espero deles que não relevem ao esquecimento a demanda pelo voto dos sócios do futebol ou da criação de um setor com ingressos populares na Toca 3.

Depois do leite derramado, não adianta pregar no carro adesivo com “a culpa não é minha, eu não bati palma para o Ariel Cabral” ou “a culpa não é minha, eu não vaiei o Ariel Cabral”.

Na eleição, quem venceu não foi o candidato do “Cálice” ou candidato do “Cale- se”. Revelou-se, silenciosamente, foi a esperteza para conquistar os omissos do “cale-se, cálice, assim você me deixa louco!”.

Portanto, para o bem do futuro do futebol e do nosso Cruzeirão Cabuloso, o momento é de total união, mas sem nunca perder o senso crítico para nos mantermos gigantes.

(Todos nós) Amamos o Cruzeiro, é o que interessa.

 

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