Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

Cabeça sem Cruzeiro é oficina do marasmo

Enquanto a moralidade não abre as asas sobre nós, falemos de um acerto: Murilo

postado em 26/06/2019 08:00 / atualizado em 25/06/2019 20:29

<i>(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)</i>
Até nesse maior pesadelo da minha vida como cruzeirense bruto, quando pensar no dia-a-dia do meu clube amado dentro e fora do campo só me traz tristeza e revolta, mesmo assim, uma certeza é cristalina: ficar esse tempo todo sem o Cruzeiro jogando é desesperador.

Há quem se divirta com a Seleção Brasileira repleta de jogadores com sobrenome na camisa, sem apelidos e que mal sabem falar português. Com todo o respeito à maior jogadora do mundo, a rainha Marta, a empolgação e o reconhecimento às meninas também não conseguiu preencher ou amenizar - nem de longe - esse meu sentimento de vazio.

Haja cinema, festa junina e visita à sogra para enganar as tarde de domingo sem a peregrinação para o Gigante da Pampulha. As noites de quarta-feira com as luzes do Mineirão apagadas são como pagar a sonhada viagem para a praia do Nordeste em 12 prestações, o ano inteiro, e quando se chega lá, sete dias direto de chuva.

Essas férias forçadas pela modorrenta Copa América só pioraram os sobressaltos desse pesadelo (acordado) que nós amantes da instituição Cruzeiro Esporte Clube estamos vivendo nos últimos meses.

Na próxima semana teremos mais um capítulo, que pode se tornar uma importante decisão ou uma nova vergonha. O omisso Conselho Deliberativo será obrigado (porque se assim não fosse, continuaria sentado impávido como um paquiderme) a escolher uma “chapa” para apurar as denúncias contra a atual diretoria. 

Se apuração ocorresse num mundo perfeito, teria lisura, nenhuma influência dos investigados (tampouco da oposição a eles) e traria, ao final, a paz de uma decisão límpida. Se com essa ou fora essa diretoria, não cabe a nós o julgamento, mas espera-se que – com essa ou fora essa – definitivamente o Cruzeiro repense sua política interna, seu estatuto e a forma temerária com que seguidos presidentes (e seus asseclas e cabides) geriram o único gigante do futebol mineiro. Ao ponto de colocá-lo sendo comparado a outros clubes historicamente afeitos a calotes, falcatruas (dentro e fora de campo) e valores humanos nada honrados.

Se feito isso, uma das primeiras medidas a se tomar e clamada por nós da torcida cruzeirense é um processo de refundação de nossas categorias de base, outrora, fonte de craques e recursos.

Recursos? Sim! Sem colocar nossos jovens ativos na vitrine do futebol profissional, não haverá valorização e consequentemente, não teremos receita capaz de cobrir os salários astronômicos dos medalhões, que nesse momento de decisões importante e instabilidade emocional, são sim fundamentais. E nós, reféns deles.

Muita gente vociferou contra a venda de Murilo, um jovem zagueiro formado na base. “Ah, mas ele era titular da seleção no Torneio de Toulon e poderia valer mais”. Meu amigo, quantas centenas de jogadores de todos os clubes foram titulares nas seleções de base e não deram absolutamente nada na carreira profissional? E se mesmo craque Murilo fosse, quando ele ou qualquer prata-da-casa do Cruzeiro irá valer mais se temos um técnico que nunca dá qualquer chance real para um recém-promovido aparecer e se valorizar?

Sei que nesse momento está mais fácil encontrar um gaiato da Turma do Sapatênis que não lembra do 6 a 1 ou da Série B, do que cruzeirense com motivo para elogiar a atual diretoria. Mas frente ao câncer, ao caos financeiro, com reflexos imediatos, como atrasos de salários, não havia decisão mais acertada do que “passar o Murilo nos cobres” russos.

Ironicamente, se categoria de base não fosse uma mina de dinheiro, empresário não estaria emprestando dinheiro a essa diretoria para pagar folha de pagamento em troca de percentual de atleta como garantia, não é mesmo?

Enquanto a verdadeira revolução de moral, caráter e profissionalismo de gestão não toma conta do Cruzeiro fora dos campos, é preciso resolver os problemas de curto prazo. Para mim, a diretoria acertou no caso Murilo.

Mas se essa revolução vier, por mais que a cada dia esteja mais perto de ser uma utopia, será o momento de começar a mudança também nessa política de desprezo técnico pelas pratas-da-casa.

Ou alguém tem esperança de que Popó, Maurício, Weverton, Rafael Santos, Cacá e tantas outras promessas lapidadas por tantos anos na Toca da Raposa I possam render mais aos cofres do Cruzeiro do que um Murilo, se continuarem sem chances de entrar em campo?

No mais é torcer para o dia 11 de julho chegar logo para invadirmos a nossa casa celeste contra o Atlético de Lourdes, porque cabeça vazia e coração sem Cruzeiro é oficina do diabo e do marasmo.

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