Gustavo Nolasco
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DA ARQUIBANCADA

De Joãozinho ao Facebook

Em 1997, comemorei o primeiro bicampeonato de tantos do Cruzeiro e Ronaldinho Gaúcho nem sonhava em fundar um clube em Minas Gerais

postado em 06/03/2019 08:00 / atualizado em 06/03/2019 11:56

<i>(Foto: Arquivo EM/D.A Press)</i>
Há exatos 43 anos, estávamos às vésperas do maior jogo da história do futebol das Américas. Também era estreia pela Copa Libertadores. Entramos no gramado sem nosso camisa 10, mas com um escrete reforçado, moldado pelas mãos bentas de Felício Brandi. No dia 7 de março de 1976, na Toca da Raposa 3, desfalcado do gênio e Príncipe, Dirceu Lopes, mas com um Joãozinho possuído por todos os deuses da bola, vencemos o poderoso Internacional por 5 a 4 (foto).

Ter história, Felício, passado, Joãozinho e multicampeonatos conquistados é uma dádiva celeste. Quando isso é transplantado para o clube do coração, nos vem o alívio e o agradecimento a quem nos escolheu sermos Cruzeiro. Eu mesmo, todas as vezes em que o Cabuloso me faz brilhar os olhos, os fecho e penso no meu pai. Digo a ele - seis vezes - em pensamento: “Obrigado, velho! Obrigado por me fazer Cruzeiro e não me destinar ao sofrimento.”

A lembrança é algo tão inerente ao ser humano que até no mundo da virtualidade e das redes sociais, ela virou uma ferramenta importante de interação entre as pessoas. Hoje, por exemplo, consultei o Facebook e ele me trouxe a recordação de uma crônica que escrevi há exato um ano. Nela, denunciei a história deplorável de um torcedor monocromático, calçado de sapatênis, que havia humilhado uma aeromoça porque a companhia aérea desejava uma “semana azul” aos passageiros.

Outro espaço interessante das redes sociais é quando elas traçam a nossa linha do tempo. Claro que para o torcedor do Cruzeiro, tempo, história e vida não começam com o advento da internet ou do Ronaldinho Gaúcho. Por exemplo, não existia Facebook em 1976, quando o eterno capitão Piazza levantou a primeira Libertadores das Américas após a batalha do estádio Nacional, em Santiago do Chile.

Quando Wilson Gotardo ergueu a segunda, em 1997, a internet apenas engatinhava no Brasil. No barracão do “Prédio 13” da PUC.Minas, eu batia os dedos na velha máquina de escrever ainda ao ritmo da festa azul. A tinta da letra moldada em ferro surgia do escuro, escorrendo no papel, lenta e chorada como o gol de Elivélton contra o Sporting Cristal.

Assim, naquela temporada, comemorei o primeiro bicampeonato de tantos que o Cruzeiro viria a me dar. Ronaldinho Gaúcho estava com 16 anos de idade na base do Grêmio. Nem sonhava, que outros 16 anos depois, fundaria um clube em Minas Gerais.

O mesmo Facebook, após se tornar a febre mundial do século XXI e conquistar milhões de seguidores, mostrou as garras nefastas da internet. Deixou de ser um ambiente democrático de troca de informações, histórias e lembranças, para se tornar um mercado obscuro, onde quem tem mais dinheiro pode patrocinar seus produtos travestidos de opinião. Foi quando criou o tal “post patrocinado”. É mais ou menos o que a Conmebol fez com a Copa Libertadores a partir de 1998, quando para encher os cofres em detrimento ao bom futebol, inchou a competição lhe transformando num “espaço gourmet”. Incorporando não só os campeões e vice campeões nacionais de cada país, mas também clubes medianos, convidados ou classificados em seletivas.

Mas não só de lembranças boas ou ruins vive o ser humano e as redes sociais. Somos também o agora, o instantâneo. E hoje, 6 de março de 2019, estamos novamente às vésperas de começar mais uma edição da Copa Libertadores.

Não será daquelas “raiz”, mas terá o seu maior gigante brasileiro, o Cruzeiro La Bestia Negra. O nosso “post patrocinado” não é nem de perto milionário como o dos agiotas do Palmeiras. O time não está jogando por música como se esperava no início da temporada, quando nos reforçamos com Rodriguinho e Cia. Seremos obrigados a assistir aos jogos como visitante via transmissão do Facebook, ou seja, com um atraso entre o lance real e a imagem próximo de um jogo narrado pelo Rubens Barrichello. Mas não há porque compartilharmos o desânimo quando no nosso peito estão as cinco estrelas.

Sendo assim, estamos aqui roendo as unhas de ansiedade, contando os minutos para o início da partida contra o Huracán. Quinta-feira, quando a camisa azul estrelada adentrar o gramado do Estádio El Palacio, vamos evocar Joãozinho para driblar a desconfiança, pois o tricampeonato está aí para ser conquistado.

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