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COLUNA DO JAECI

Novos tempos da Seleção

Ser técnico também é administrar egos. E nos tempos atuais essa é uma tarefa difícil

postado em 31/08/2017 10:16

AFP

Porto Alegre – Brasil x Equador – nos bons tempos do futebol brasileiro, uma goleada seria inevitável. Nos tempos atuais, importamos jogadores de lá, coisa que jamais fizemos. Nos bons tempos, jogadores de Seleção Brasileira desciam ao hall do hotel, batiam papo, davam entrevistas exclusivas, eram amigos dos jornalistas. Eu me refiro a Pelé, Zico, Rivelino, Romário, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e tantos outros. Hoje, o hotel é fechado aos jornalistas. Seguranças para todo lado, como se esses jogadores não fossem de carne e osso. E eles são. Aliás, alguns tomaram de 7 a 1 da Alemanha. O Brasil está classificado para o Mundial da Rússia, mas segundo o técnico Tite, nada de moleza. Além de querer chegar em primeiro lugar, mesmo não ganhando troféu, ele quer o máximo dos jogadores, pois sabe que se relaxar o sonho do hexa pode ficar mais distante.

Os últimos jogos pelas Eliminatórias Sul-Americanas e os amistosos servirão para que Tite tire as últimas dúvidas, reveja algumas peças e encaixe as que não estão neste grupo. A 10 meses até o Mundial da Rússia, muita coisa pode acontecer.

Pelo que vimos no treino de ontem, o Brasil vai começar com Willian no lugar de Philippe Coutinho. Discordo. Poria Luan na função, pois é melhor que o jogador do Chelsea, recompõe melhor e seria mais eficaz ao lado de Neymar. Não concordo, mas entendo Tite. Como Willian vem no grupo há mais tempo, se ele põe Luan perde a confiança de Willian. Ser técnico também é administrar egos. E nos tempos atuais essa é uma tarefa difícil. Muito jogador milionário, achando que dinheiro compra tudo e que é a única coisa que importa na vida. Não é culpa deles, pois berço, respeito e educação a gente aprende até os 10 anos. É o que você vai levar para o resto da vida, e a história da maioria dos jogadores é sofrida. Não pela origem pobre, pois 90% dos brasileiros são pobres, mas pobreza não significa falta de berço, e sim de condições financeiras.

Não é fácil para um atleta sair da miséria – alguns passaram até fome –, atravessar o Atlântico, conhecer o Velho Mundo e se adaptar, aprender a ser culto. A maioria prefere os “parças”, os pagodes, sem se interessar por nada do que a Europa oferece. É uma pena. Jantando ontem com meu amigo de 30 anos Gilmar Veloz, um dos empresários mais respeitados no meio, ele me contou várias histórias de atletas que ajudou, que ganharam muito dinheiro, não souberam administrar e hoje estão na miséria. Um dia, quando eu escrever meu livro, vou contar, em detalhes.

Sou de uma época também em que jogar pela Seleção era orgulho. O torcedor comemorava a convocação do jogador do seu clube porque era difícil vestir a amarelinha. Hoje, ela está banalizada, haja vista o número de jogadores sem qualidade que a vestiram ou a vestem. São os novos tempos, em que o dinheiro vale mais que a paixão. Certa vez, conversando com Dirceu Lopes, o maior jogador que eu vi com a camisa do Cruzeiro, disse a ele que ele atuou na época errada, pois pelo gênio que era, se jogasse hoje não haveria dinheiro para pagá-lo. Ele então me disse: “Joguei na época certa. Eu não trocaria o amor pelo clube, nem por meus companheiros, por dinheiro algum”. Isso é maravilhoso. E ele tem razão. Jogou, nos encantou e nos mostrou, de verdade, o que era o futebol. E olha que “o Príncipe”, como era conhecido, foi um injustiçado em Copa do Mundo, pois não teve a chance de disputar uma. Se jogasse, atualmente, seria o “Pelé”, e ganharia como melhor do mundo todos os anos. Quem é Messi perto de Dirceu Lopes.

Bem, é isso que temos para hoje. Brasil x Equador, com esses jovens, descompromissados ou não; alguns craques, como Neymar; outros bonzinhos, como Renato Augusto, mas que têm a inteira confiança do treinador. E sabemos que há jogador de clube e de Seleção. Tite discorda de mim, mas, ao longo dos tempos, vimos esse filme várias vezes. Que o Brasil desenvolva o melhor futebol que tiver, afinal, como disse o técnico, já é Copa do Mundo.

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