Libertadores 1997
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LIBERTADORES 1997

Treinador e psicólogo: a importância de Autuori no bicampeonato da Libertadores

Grupo de 1997 foi unânime ao comentar a participação do treinador

postado em 12/08/2017 08:02 / atualizado em 16/12/2020 23:03

(Foto: Estado de Minas)

O tempo passa e certas coisas não mudam. A dificuldade em ganhar uma Libertadores é uma delas. O Cruzeiro sabe bem o que é isso. Em 1997, a Raposa iniciou a competição com três derrotas e, quando muitos já não acreditavam na classificação na fase de grupos, o time reagiu e emplacou sequência vitoriosa que culminou no título continental. Nessa conquista heroica, um nome é unanimidade entre os jogadores como responsável pela reação: Paulo Autuori.

O treinador chegou ao Cruzeiro após a saída de Oscar Bernardi, ex-zagueiro da Seleção Brasileira de 1982, que nunca havia comandado um time na carreira. Oscar assumiu a equipe no começo da temporada, mas foi demitido após perder na estreia da Libertadores para o Grêmio, no Mineirão, por 2 a 1. Autuori, então, entrou em cena. O começo do técnico foi complicado. Em Lima, no Peru, enfrentou o Alianza Lima e o Sporting Cristal, pela segunda e terceira rodadas. Perdeu os duelos por 1 a 0 e se complicou ainda mais no torneio.

Aí veio o momento de reflexão. Hora de corrigir os erros e colocar o sentimento para fora. Autuori e seus comandados regressaram ao Brasil e tiveram 11 dias de folga. O treinador aproveitou o "descanso"' no calendário para conhecer melhor seu grupo. A delegação se concentrou em um hotel-fazenda localizado em Santa Rita do Passa Quatro, no interior de São Paulo. O ex-atacante Elivélton, autor do gol do bicampeonato da Libertadores, relembrou o tempo de 'refúgio' do grupo e a importância de Paulo Autuori naquele momento. 

"O nosso 'respiro' naquela época foi quando ele chegou e fez uma reunião. Colocou os jogadores para cima, elevou nosso moral. Todos os jogadores gostavam dele, na forma de trabalho. Foi um ponto fundamental para a gente sair daquela situação ruim até chegarmos no título", disse.

Apesar de fazer o estilo 'psicólogo', Autuori sabia orientar o grupo de maneira mais franca e enérgica. Até nos momentos de cobrança ele não perdia a categoria. "Dava 'dura' com classe, sem expor o jogador", contou o ex-atacante Marcelo Ramos.



Com a confiança renovada, o Cruzeiro partiu para Porto Alegre. Era apenas a quarta rodada da fase de grupos. Para a Raposa, porém, o clima foi decisivo. Pouco antes dos 30 segundos da etapa complementar, Elivelton cruzou na área e Palhinha marcou o gol do renascimento celeste na Libertadores.

A partir de então, o Cruzeiro embalou na competição. Classificou-se em segundo lugar no Grupo 4, com nove pontos, e ganhou o zagueiro Gottardo e o atacante Marcelo Ramos como reforços a partir das oitavas de final. Naquela Libertadores, Paulo Autuori utilizou 22 jogadores diferentes. Era um dos motivos de união do grupo, já que cada atleta naquele elenco tinha sua parcela de importância.

 "A cada treinamento ele incentivava quem não jogava. Alex Mineiro me substituiu contra o Grêmio e foi super decisivo (marcou o segundo gol na vitória por 2 a 0 no Mineirão, nas quartas de final), Donizete Oliveira que não era tão utilizado e jogou a final no lugar do Cleison... Ele tinha jogadores que entrariam no jogo e faziam a diferença", afirmou Marcelo Ramos.

O resultado do incentivo dado por Paulo Autuori chegou na noite do dia 13 de agosto de 1997, diante de um Mineirão que recebeu 95.472 pagantes (106.853 presentes) no duelo contra o Sporting Cristal: o bicampeonato do Cruzeiro na Copa Libertadores da América. 

(Foto: Cruzeiro/divulgação)


Confira na íntegra o que os jogadores da época disseram sobre Paulo Autuori:

Gottardo (zagueiro)

Foi o Paulo quem solicitou minha contratação. Ele foi fundamental para o título. Deu a cara dele, deu o jogo que queria, montou o time que queria. Poderia ser outro (técnico), mas ali era o tempo dele, era o momento dele. Tinha acabado de ser campeão brasileiro (pelo Botafogo, em 1995). E antes, pelo Marítimo de Portugal, classificou-se para a Copa da Uefa, que hoje é a Liga Europa (terminou o Campeonato Português de 1993/1994 em quinto lugar, com 13 vitórias, 12 empates e nove derrotas). Era um trabalho de muita confiança, de muita experiência. A passagem que tive sob o comando dele no Botafogo foi muito boa também.

Gelson Baresi (zagueiro)

Ele foi parte fundamental na conquista, assim como todos. Eu digo que uma conquista é marcada por uma série de detalhes. São engrenagens que fazem com que você chegue lá. Tem a importância do treinador e dos jogadores, que ficam expostos, mas também tem o pessoal da preparação física, o roupeiro, os massagistas. Todos foram importantes para que a gente chegasse a essa conquista. O Autuori foi mais uma dessas pessoas.

A coisa do Autuori que mais me marcou, é que ele via o jogador como ser humano e não como uma máquina. Ele via primeiro o nosso lado humano. Daí em diante entrava as partes táticas, técnicas e físicas. Mas acho que o fundamental é que ele valorizava o lado humano do jogador. Valorizava o pai de família. Situações que as pessoas acabam esquecendo. Isso foi fundamental para resgatar os jogadores que estavam desacreditados naquele momento, até mesmo sendo vaiados pelos torcedores.

Vitor (lateral-direito)

A gente sabia que tinha toda a confiança do treinador, de poder conversar com ele sobre individualidades e sobre a equipe também. É um treinador que eu tiro o chapéu. É inquestionável. Ele teve uma paralisia na infância e passou para a gente o seu exemplo de vida. É um cara extremamente humano. É um cara que fez toda a diferença perante o grupo qualificado que a gente tinha.

Fabinho (volante)

Juntou tudo em um só profissional: ele é bom treinador e foi um psicólogo. Fez treinos mais específicos, com campo reduzido, apertou a parte física, trabalhou muito a mente. Ele dava dura quando ficava nervoso, mas era inteligente.
O jogador conhece quando a pessoa chega e você vê se é bom, se não é. Ele tinha bagagem, tinha feito boa campanha com o Botafogo. Tinha passado por Portugal.

Palhinha (armador)

A característica marcante dele é que te trata com respeito, te valoriza. Até mesmo o nosso gandula ele chamava pelo nome. Respeitava a todos igualmente, tanto reservas como titulares. Você se sentia parte do grupo. Trabalhei com ele no Cruzeiro, Flamengo e no Alianza Lima. Sou suspeito de falar dele. Tive vários privilégios na vida pessoal e profissional. Ele é o suprassumo de comportamento, de defender o grupo. Ele sempre foi demais.

Elivélton (atacante)

A característica dele era mais família. Ele trazia o grupo pra ele. Fazia com o que o jogador jogasse para ele. Um ponto muito importante para gente. O nosso 'respiro' naquela época foi quando ele chegou e fez uma reunião. Colocou os jogadores para cima, elevou nossa moral. Todos os jogadores gostavam dele, na forma de trabalho. Foi um ponto fundamental para a gente sair daquela situação ruim até chegarmos no título

Marcelo Ramos (atacante)

Como pessoa, você dificilmente vê algum jogador criticando ele. Claro, as vezes aparece um atleta que não está jogando muito e aproveita para criticar o treinador, mas ele conseguia deixar todos em condições de jogo. Era um ambiente muito saudável. Mesmo quem não jogava, dava força para o outro. Eu mesmo cheguei e encontrei Alex Mineiro, Reinaldo e Elivelton no ataque. Ele conseguia passar serenidade para o grupo. Dava 'dura' com classe, sem expor o jogador. Tem treinadores mais enérgicos que dão bronca em jogador e ele acha que vai render. O Paulo era diferenciado. Foi escolhido para ganhar a Libertadores. Ele tinha o grupo nas mãos. A cada treinamento ele incentivava quem não jogava. Alex Mineiro me substituiu contra o Grêmio e foi super decisivo, Donizete Oliveira que não era tão utilizado e jogou a final no lugar do Cleison... Ele tinha jogadores que entrariam no jogo e faziam a diferença.

* Colaboraram Bruno Furtado, Guilherme Macedo, Matheus Adler, Rafael Arruda e Tiago Mattar

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