Libertadores 1997
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LIBERTADORES 1997

Solano e Julinho, destaques do Sporting Cristal em 97, lembram derrota para o Cruzeiro na final da Copa Libertadores

Dupla participou de lance que poderia ter dado o título aos peruanos

postado em 15/08/2017 08:00 / atualizado em 14/08/2017 20:38

Reprodução/Peru.com
Para dois jogadores do Sporting Cristal, a perda da Copa Libertadores de 1997 para o Cruzeiro foi mais dolorosa. Na etapa final da grande decisão, eles estiveram perto de abrir o placar para os peruanos no Mineirão, o que poderia ter mudado o desfecho daquela edição. Numa cobrança de falta frontal, o meia Nolberto Solano bateu rasteiro, a bola desviou levemente na barreira, e Dida defendeu parcialmente. Na sobra, o atacante brasileiro Julinho bateu cruzado, rasteiro, e o goleiro cruzeirense fez o seu grande ‘milagre’ daquela conquista. Com a perna direita, evitou o gol que tornaria a final dramática. Para a sorte do Cruzeiro, Elivélton balançou as redes aos 30 do segundo tempo e decretou o bi continental.

Duas décadas depois, já consagrado justamente por ter sido um exímio cobrador de faltas, Nolberto Solano, de 42 anos, confessa que sente um misto de orgulho e de frustração. Se por um lado ele ajudou a levar o Peru pela segunda vez a uma decisão de Copa Libertadores – o primeiro finalista foi o Universitário, em 1972 -, por outro ficou o gostinho amargo do vice. O Sporting Cristal já havia eliminado rivais de peso, como o Vélez Sarsfield nas oitavas e o Racing nas semifinais. A confiança na final era enorme.

”Nós fomos passo a passo. Sabíamos que há muito tempo equipes peruanas não chegavam às últimas instâncias da Libertadores. Mas fomos de menos a mais, de jogo a jogo, e passamos a acreditar no título quando ganhamos do Vélez na Argentina, por 1 a 0, nas oitavas. E fomos acreditando, fomos passando de fase, e foi uma experiência muito legal. Foi uma pena não ganhar. A gente não pode celebrar um segundo lugar, mas sem dúvida foi algo impressionante ter feito um grande resultado, chegar à final. Foi uma desilusão. Foi uma decepção. Depois, olhando o passado, sabendo que nenhuma equipe peruana foi campeã na história, acabou servindo de consolo”, conta Solano ao Superesportes.
Depois daquela Libertadores, a carreira de Solano deu um salto. Atuou no Boca Juniors dois anos ao lado de Maradona e Claudio Caniggia. Em seguida, fez carreira de sucesso na Inglaterra jogando por Newcastle, Aston Villa e West Ham. Passou ainda por Larissa da Grécia e os ingleses Leicester, Hull City e Hartlepool United. Em 2006, foi eleito o melhor cobrador de faltas do mundo pela Fifa.

Julinho


Arquivo pessoal/Julinho

O baiano Julinho, hoje com 51 anos, lembra com detalhes do lance que poderia ter mudado a história do futebol peruano. O chute à queima-roupa em Dida, na sobra da falta de Solano, foi fruto de treinamento e análise. “Vinhamos trabalhando muito sobre a definição diante do Dida. Eu já tinha feito um gol de cabeça no Dida em Lima, na vitória por 1 a 0 sobre o Cruzeiro pela fase de grupos daquela Libertadores. E nós já tínhamos conversado sobre como superá-lo, inclusive treinamos. Se tivéssemos um cara a cara com Dida, era melhor definir por baixo, cruzado, porque o Dida é muito alto (1,96m), não definir por cima. Então foi o que fiz exatamente naquele dia na final. Foi uma jogada muito rápida, adoraria ter feito aquele gol. Bati cruzado, o Dida para um lado e a bola bateu no pé dele do outro lado. Ele era muito alto e eu estava muito perto dele. Hoje, mais veterano, acho que quanto mais longe do gol, melhor para definir. Foi duro porque pouco tempo depois sofremos o gol e perdemos a Copa Libertadores”, lamenta o brasileiro.
Especificamente para Julinho, o ano de 1997 foi de extremos. “Foi um momento difícil pra mim, muito difícil. Naquela final contra o Cruzeiro, fazia apenas 15 dias que meu pai tinha falecido. Quando eu tinha oito anos de idade, meu pai sonhava que eu fosse jogador de futebol. E falei para ele, ainda criança em Salvador: vou ser jogador, vou jogar uma final da Libertadores, vou fazer um gol na decisão e te dar o carro Toyota como melhor jogador. E tudo que tinha prometido a ele estava acontecendo. Só faltava a final e dar o carro para ele. Não houve tempo, meu pai morreu 15 dias antes, e fui para aquela final muito abalado, muito abatido, mas mesmo assim tive aquela oportunidade de fazer o gol”, lembra.

As decepções não pararam por aí. Além da morte do pai e da perda do título continental, que seria inédito para o futebol peruano, Julinho teve uma frustração com a Seleção Peruana nas Eliminatórias da Copa de 1998. “Num só mês perdi três coisas importantes que valeram muito na minha vida: primeiro, meu pai; segundo, a final da Copa Libertadores; e terceiro, nós estávamos nas Eliminatórias, já praticamente classificando para o Mundial, era histórico também, e perdemos para o Chile na última rodada. Ficamos fora da Copa”.

Arquivo pessoal/Julinho

Julinho conta que jamais ficou marcado no Peru como o jogador que perdeu o gol do título da Libertadores. Ao contrário. A recepção aos vice-campeões foi calorosa em Lima. A trajetória no Sporting Cristal foi até 2003 e durou dez anos. No período, ele fez 137 gols. ”Ter perdido aquele gol não gerou problema nenhum pra mim. Lógico que os torcedores diziam: ‘Nossa, se você tivesse feito aquele gol, seríamos campeões’. Inclusive fomos bem recebidos, passeamos num ônibus pela cidade, todo mundo gritando o nome da gente. Mas foi uma Copa maravilhosa pra mim, fui escolhido entre os melhores jogadores, tinha feito muitos gols decisivos, tinha ajudado o Cristal a chegar onde chegou, então sabíamos que era muito mérito levar um time peruano numa final. Tem medalha de prata que vale ouro. Sempre me agradeceram e reconheceram todo o trabalho do time, foi um esforço tremendo”.

Hoje, Julinho continua morando em Lima e trabalha como treinador do time sub-16 do Sporting Cristal. Sua meta é assumir um dia o time profissional. “Prefiro começar nas divisões menores para ir ganhando experiência. Prefiro começar de menos a mais, apesar da experiência que a gente tem no futebol”. Com 21 anos, Lucas Monteiro Moura, filho mais velho de Julinho, segue os passos do pai e é jogador do Cristal. “Ele começou nas divisões menores do Cristal. Foi contratado para jogar no Arsenal da Inglaterra, esteve quatro meses lá. Depois, jogou um ano e meio no Tottenham. Voltou, veio para o Sporting Cristal e agora é jogador de futebol profissional”.


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