Libertadores 1997
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LIBERTADORES 1997

Jogadores falam sobre o que deu errado na preparação do Cruzeiro para o Mundial de 97

Ricardinho, Nonato e Célio Lúcio lembram bastidores após a Libertadores e os problemas que resultaram na perda do Mundial para o Borussia Dortmund

postado em 13/08/2017 08:40 / atualizado em 13/08/2017 15:52

(Foto: Jorge Gontijo/Arquivo Estado de Minas - 13.11.1997)
Campeão da Copa Libertadores de 1997, o Cruzeiro teve, em 2 de dezembro do mesmo ano, a oportunidade de conquistar o título mundial. A decisão contra o Borussia Dortmund, da Alemanha, era a chance de apagar a decepção de 1976, quando o clube foi derrotado pelo também alemão Bayern de Munique. As coisas, entretanto, não saíram como planejadas.
 
Tão logo acabou a Libertadores, o elenco perdeu duas peças importantes. O meia Palhinha, que tinha contrato até janeiro de 1998, foi vendido por US$ 1,5 milhão ao Mallorca, da Espanha. Já o técnico Paulo Autuori – que enfrentava problemas de relacionamento com o então diretor de futebol Moraes (ex-zagueiro do clube) – aceitou convite para dirigir o Flamengo.
 
A primeira opção do Cruzeiro era o colombiano Francisco Maturana, à época treinador da Seleção do Equador. Veio Nelsinho Baptista.
 
O bom time da Libertadores quase caiu no Campeonato Brasileiro. Foram seis vitórias, 10 empates e nove derrotas em 25 jogos na primeira fase. Na competição de 26 clubes, o Cruzeiro ficou em 20º, com 28 pontos – a dois do 23º Bahia, o primeiro entre os rebaixados. A fuga da degola só veio na última rodada, no empate por 2 a 2 com o Santos, na Vila Belmiro.
 
(Foto: Arquivo/Estado de Minas)
As cobranças em cima do elenco foram fortes. Era preciso dar resposta no Mundial diante de um Borussia que havia superado a Juventus na final da Liga dos Campeões. O presidente Zezé Perrella, então, buscou quatro reforços para aquele jogo: o lateral-direito Alberto, o zagueiro Gonçalves e os atacantes Donizete Pantera e Bebeto. Já estava no grupo desde o Brasileiro o armador Palacios, camisa 10 da Seleção Peruana.
 
Dos cinco nomes citados, apenas Alberto ficou na reserva. Gonçalves substituiu Gelson Baresi e formou dupla de zaga com João Carlos. Gottardo nem sequer viajou ao Japão, enquanto Célio Lúcio foi vendido ao Braga de Portugal. No ataque, Marcelo Ramos ficou na reserva. Entrou Bebeto. E Donizete Pantera preencheu a vaga que seria de Elivélton. Porém, para manter o autor do gol do título da Libertadores na equipe, a saída de Nelsinho Baptista foi improvisar. E Nonato pagou o preço, como ele mesmo conta ao Superesportes. De acordo com o lateral-esquerdo, o clima na Toca I era tão estranho que um mês antes do Mundial nem mesmo o goleiro Dida sabia se seria ou não relacionado por Nelsinho.

"Na realidade, o que desestabilizou aquele elenco para o Mundial não foram as contratações dos quatro jogadores, mas sim a sequência do Campeonato Brasileiro que fizemos com o Nelsinho (Baptista). A 30 dias do Mundial, nem o Dida, que era titular absoluto, tinha comprado a passagem da esposa dele. Ninguém sabia quem ia viajar. O ambiente ficou de um jeito meio louco. O Wilson Gottardo, que tinha sido capitão (da Libertadores), não viajou. O Alberto, que foi contratado para jogar, não jogou e ficou no banco. Aí ele botou o Gonçalves no lugar do Gelson Baresi. E para poder colocar o Donizete Pantera e o Bebeto, ele não ia tirar o cara que fez o gol da final, que foi o Elivélton. Aí ele achou melhor me tirar e improvisar o Elivélton. Coincidentemente, os dois gols foram pelo lado esquerdo (de defesa), em cima do Elivélton".

(Foto: AFP)
O volante Ricardinho lamentou a saída de Autuori. Segundo ele, caso o treinador tivesse continuado, as chances do Cruzeiro seriam maiores. "Eu acho que naquela transição de mudança de treinador – o Paulo saiu para o Flamengo – o time se perdeu um pouco. Não sei se foi pela saída do treinador, se foi pela chegada do novo treinador, se foi a saída de algum jogador. Se a gente conseguisse manter aquela base da Libertadores e se o Autuori tivesse continuado, a possibilidade (de título) seria maior. Teríamos um time mais entrosado, um grupo na mão. E os jogadores que vieram com certeza iriam agregar e ajudar. Mas o clima de incertezas, como disse o Nonato, nos fez perder a confiança. A gente tinha um grupo bom. Mas essa transição foi mal conduzida. Não conseguimos nos ajustar rápido, fomos mal no Brasileiro e para recuperar rápido no Mundial é difícil. E nisso tem muitas coisas: pressão da imprensa, cobrança por reforços, presidente tem que arrumar o time logo. Várias situações que não deram certo para que a gente chegasse bem no Mundial. Se chegasse bem, poderia ter ganhado, pois o Borussia não estava bem na época".

Apesar do revés, o Cruzeiro começou a partida com amplo domínio sobre o Borussia. Nos primeiros minutos, Palacios bateu de fora da área e exigiu grande defesa do goleiro Klos. Elivélton arriscou de longe ainda na etapa inicial e quase complicou o arqueiro alemão. Donizete Pantera também desperdiçou chance na cara do gol. Ricardinho lembrou dos bons momentos da equipe naquela decisão. "A gente não fez um jogo ruim no Mundial. Deu para fazer um jogo até certo momento de igual para igual. Vi o jogo outras vezes. Se tivéssemos um pouco mais de conjunto, poderíamos conquistar resultado melhor", opinou Ricardinho.

O Borussia Dortmund ganhou do Cruzeiro por 2 a 0 com gols de Michael Zorc, aos 35min do primeiro tempo, e Heiko Herrlich, aos 39min da etapa final. O time alemão atuou com Klos; Reuter, Feiersinger, Júlio César e Heinrich; Freund, Paulo Sousa, Zorc (Kirovski) e Möller; Chapuisat (Decheiver) e Herrlich. A Raposa teve Dida; Vitor, João Carlos, Gonçalves e Elivélton; Fabinho, Ricardinho, Cleison e Palacios (Marcelo Ramos); Bebeto e Donizete.

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