Libertadores 1997
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LIBERTADORES 1997

Gol do título da Libertadores de 97 ainda emociona Elivélton: 'Meu nome está gravado na história do Cruzeiro Esporte Clube'

Canhoto, atacante marcou gol de perna direita e contou com falha de goleiro

postado em 13/08/2017 08:05 / atualizado em 16/12/2020 23:01

(Foto: Estado de Minas)


'Estava no auge da carreira em 1997 e fui o felizardo de ter marcado o gol com a perna direita. De onde sobrava eu chutava. Não tinha medo. Não quero nem saber se o goleiro cooperou. O que importa é que meu nome está gravado na história do Cruzeiro Esporte Clube. Marcar um gol na final da Libertadores, todo jogador sonha com isso! O Cruzeiro é um clube que eu admiro muito. Tenho muito orgulho de ter feito aquele gol'. Assim o atacante Elivélton, hoje com 46 anos, relata o gol que deu ao Cruzeiro o bicampeonato da Copa Libertadores.


Canhoto, ele teve a felicidade de entrar para a história com um arremate de perna direita. Para completar, Elivélton contou com a colaboração do goleiro Balerio, que falhou ao saltar no canto direito. O gol tão esperado pelos 106 mil presentes no Mineirão naquele 13 de agosto de 1997 saiu só aos 30 do segundo tempo, num tenso e difícil contra os peruanos do Sporting Cristal do Peru. 

Nonato, Ricardinho e Célio Lúcio lembram gol de Elivélton:


Nessa entrevista ao Superesportes, o orgulhoso Elivélton conta outros detalhes da conquista cruzeirense. Atualmente, ele vive em Alfenas, no Sul de Minas, e orienta crianças que dão os primeiros passos no futebol.

Todos os jogadores ali tinham muitas conquistas no Cruzeiro ou em outros clubes. Isso fez diferença para o clube chegar ao bi?

"Sem dúvida. Apesar de a gente ter começado devagar, no decorrer da competição a gente foi ajustando e o time foi criando um perfil, que a gente precisava para conquistar a Libertadores".

A campanha do Cruzeiro começou com três derrotas. Houve pacto pela reação? Como foi a conversa para o time reagir e ir ganhando confiança?

"O pacto nosso era poder sair nas ruas. A gente não podia sair nem pra passear, comer fora, shopping. Éramos muito cobrados. Só iríamos reverter aquilo se conseguíssemos as vitórias. Ali era a oportunidade de a gente entrar na história. Poderíamos entrar pelo bem ou pelo mal, mas escolhemos a primeira opção. Nos unimos e conseguimos ganhar três partidas suficientes para classificarmos”.

Dida garantiu defesas milagrosas, inclusive de pênaltis na Libertadores. Na decisão ele também fez uma defesa salvadora. Qual a importância de ter um goleiro assim?

"Falar do Dida é muito fácil, porque ele era um cara trabalhador, treinava muito. Além disso, ele era fechava o gol. Ele foi na época um dos melhores goleiros do Brasil. Ter jogado ao lado dele foi um prazer enorme, porque além dele ser um cara super gente fina, ele era o cara no gol".

Qual foi a importância de Paulo Autuori na campanha campeã? Como era ser liderado por ele e quais eram principais características dele?

"A característica dele era mais família. Ele trazia o grupo pra ele. Fazia com o que o jogador jogasse para ele. Um ponto muito importante pra gente. O nosso 'respiro' naquela época foi quando ele chegou e fez uma reunião. Colocou os jogadores para cima, elevou nossa moral. Todos os jogadores gostavam dele, na forma de trabalho. Foi um ponto fundamental para a gente sair daquela situação ruim até chegarmos no título".

O que aquele título fez mudar na vida de cada jogador?

"Mudou tudo, porque a Libertadores é um título que é reconhecido mundialmente. Ele te dá a oportunidade de participar do Mundial. Queríamos ser reconhecidos e disputar o Mundial. Marcamos uma história bonita, de muito trabalho e lealdade ali dentro do clube. Eternizamos nosso nome na história".

A torcida bateu o recorde de público da Libertadores, com mais de 106 mil pessoas na final. Isso mexeu com o time?

"Quando nós chegamos ao Mineirão, já pudemos sentir aquela vibração positiva dos torcedores. Fizeram uma festa muito grande. Mineirão não tinha espaço nem para uma formiga. Daí pensamos: ‘É hoje. Não podemos deixar esse título escapar. A festa será azul e branca’. Então, a torcida foi fundamental, pois a partida foi bastante truncada. A imprensa e parte da diretoria acharam que o jogo seria tranquilo, mas encontramos uma pedreira. Uma tensão total. Quando mais precisamos da torcida, eles ficaram ao nosso lado".

Como foi enfrentar um 'azarão' na final? Encarar o Sporting Cristal do Peru na final gerou pressão a mais ou deu alguma tranquilidade?

"Respeitamos sempre a história do nosso adversário. Mesmo o Sporting Cristal não tendo muita tradição, sabíamos que eles chegaram por meio dos méritos. Mas tomamos gosto pela coisa aí e vencemos. Mas sabíamos que o jogo seria duríssimo. Isso abrilhantou ainda mais a conquista, pois o jogo não foi fácil. Eles tiveram a chance de gols e não aproveitaram".

Passados 20 anos, a emoção ainda é grande? 

"Na hora, a gente não tem a dimensão. Ficamos meio bobos na hora, pois estamos na adrenalina do jogo. Para ser sincero, só fui ver o gol mesmo na televisão. Quando chutei a bola, tinha muita gente na frente e eu não consegui ver o rumo da bola. Sei que ela foi em direção ao gol, mas não vi o desfecho. Só soube que foi gol depois da vibração da torcida. Mas só fui ver no outro dia. Fiquei arrepiado. Não tem palavras para descrever qual foi minha emoção. É uma sensação extremamente agradável e gostosa. Só quem joga e decide sabe o que estou falando".

A identificação com o Cruzeiro mudou de patamar após o gol? Você era cria do São Paulo e por lá também conquistou grandes feitos.

"Eu tenho dois clubes: um é o São Paulo, que me projetou, que me deu oportunidade para ser reconhecido. Aqui em Minas eu tenho um carinho muito grande pelo Cruzeiro. Quando me tornei atleta profissional, sempre tive uma queda pelo Cruzeiro. Hoje meus filhos são cruzeirenses, pela minha história dentro do clube. Tenho uma forte ligação com eles. Para mim foi uma satisfação muito grande vestir a camisa do Cruzeiro".

Tem algum caso engraçado daquele grupo, alguma história curiosa que vale ser contada?

"Aconteceu no jogo contra o Colo Colo. Nós ganhamos aqui de 1 a 0 e, no segundo jogo, fui cobrar escanteio e estávamos perdendo. Aí um torcedor jogou um guarda-chuva em mim. Nisso eu joguei de volta na torcida. Só que eu não sabia que esse gesto meu causaria uma expulsão. Aí pensei: ‘Agora estou frito. Eu vou ser responsável pela eliminação’. Mas graças a Deus o Cleison marcou no finalzinho, e o Dida 'livrou minha cara' nos pênaltis. Depois que classificamos virei chacota, porque fui expulso por causa de um guarda-chuva. Um episódio que quase custou minha cabeça (risos)"

Como é sua vida hoje e suas rotinas longe do futebol profissional?

"Eu moro em Alfenas. Sou empresário e tenho uma academia, quadras society que alugo. Dou aulas de futebol para meninos de 6 a 14 anos".

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