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A entrevista surpresa de Djoko e o fim do 'cativeiro' em Tóquio

E se te chamassem para, em 15 minutos, estar na mesma sala de uma lenda do esporte mundial?

22/07/2021 21:55 / atualizado em 23/07/2021 04:40
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Novak Djokovic deu entrevista-surpresa no centro de imprensa
foto: João Vitor Marques/EM/D. A Press

Novak Djokovic deu entrevista-surpresa no centro de imprensa



Em Tóquio, a maior representação de Brumado, cidade do sertão baiano onde vivi por anos, não era exatamente eu, mas o intenso calor do verão japonês. Ao longo de quase todo o dia, a temperatura na capital olímpica superou os 30ºC. O céu sem nuvens era o cenário ideal para as fotos que marcaram o fim da quarentena de três dias e já faria valer a pena a possibilidade de sair do hotel. Mas uma entrevista "surpresa" do tenista Novak Djokovic tornou as coisas mais interessantes.


Deixar o quarto de "dez passos" que me abrigou nas 72 horas iniciais no Japão foi como, enfim, chegar aos Jogos Olímpicos. O primeiro dia pós-cativeiro foi restrito ao MPC (do inglês Main Press Center, o centro de imprensa), mas simbolizou a volta ao ambiente da redação, que não frequentava desde fevereiro de 2020.

Main Press Center, o centro de imprensa dos Jogos de Tóquio
foto: João Vitor Marques/EM/D. A Press

Main Press Center, o centro de imprensa dos Jogos de Tóquio



Mas a sensação aparente de retorno ao passado pré-pandêmico é passageiro. Placas espalhadas pelo local nos lembram a realidade semi-apocalíptica que vivemos há um ano e meio: use máscara, limpe as mãos, mantenha o distanciamento social e, se for torcer, apenas bata palmas - não grite, nem cante.

Clima de redação, só que com gente do mundo todo
foto: João Vitor Marques/EM/D. A Press

Clima de redação, só que com gente do mundo todo



Embora esta seja minha primeira experiência em Olimpíada, é óbvio notar como o trabalho da imprensa ficou restrito por conta das medidas sanitárias de prevenção ao vírus. O acesso presencial aos atletas é quase inexistente. Para entrevistá-los, é preciso recorrer às assessorias e, é claro, aos encontros virtuais.

Durante os dias de semicativeiro no hotel, a saída foi apostar na produção daquelas reportagens que chamamos de "frias" - que, teoricamente, podem ser publicadas em qualquer momento e não possuem o senso de urgência típico do jornalismo. A partir de agora, com o início das competições, a tendência é que o cenário mude.

O próprio acesso da imprensa às competições mudou. Entradas em eventos de alta demanda - como as Cerimônias de Abertura e Encerramento e as finais de esportes como natação e ginástica - são limitadas. O Comitê Olímpico Internacional (COI) distribui ingressos aos comitês nacionais, que os repassam aos veículos de comunicação.

A entrada em outras competições também é limitada, em função das medidas de distanciamento social necessárias em tempos de COVID-19. Nós precisamos fazer, com um dia de antecedência, a seleção de quais eventos queremos cobrir. O sistema de reserva elaborado pela organização permite a escolha de até dez opções por dia. Mas não há garantia de que os pedidos serão aprovados.

Nos primeiros Jogos Olímpicos sem público da história, o papel da imprensa se torna ainda mais importante. As dúvidas sobre a cobertura e os próprios Jogos Olímpicos pandêmicos ainda são muito maiores que as certezas. Mas a surpresa do dia - estar frente a frente a um dos grandes esportistas da história - valeu a pena.

Às 18h45 (horário japonês), os alto falantes do centro de imprensa anunciavam que Djokovic - 20 vezes campeão de Grands Slams, três deles nesta temporada - atenderia a imprensa. Ele e outros representantes da delegação sérvia. Em meio a perguntas numa língua que eu não entendia, a presença do tenista (que também falou inglês, este sim compreensível por quem lhes escreve) tornou o dia mais especial. O que, é claro, não muda as irresponsabilidades que ele cometeu durante a pandemia.

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