Diariamente, o hotel onde estou hospedado em Tóquio oferece aos hóspedes, como cortesia, a edição do The Yomiuri Shimbun, um dos maiores jornais do Japão. Ao longo dos Jogos Olímpicos, o periódico se dedica a cobrir quase exclusivamente as principais competições do dia. Na capa ficam estampados os atletas responsáveis por conquistar as medalhas para o país, as esperanças de pódio dos dias seguintes e... um pokémon.
Abaixo do quadro japonês de medalhas, aparece um Pikachu, um dos personagens principais da franquia criada em 1995 pelo japonês Satoshi Tajiri. O produto foi criado inicialmente como um jogo de videogame para o Game Boy original e, diante do sucesso, foi transformado em anime (desenho de TV) e ganhou o mundo com o protagonismo de Ash Ketchum, Brock e Misty.
A aparição de Pikachu na capa é uma chamada para as páginas internas. The Yumiuri Shimbun foi criado em 1874, publicado em Tóquio, Osaka Fukuoka e outras grandes cidades do país. Faz parte do Yomiuri Group, um dos principais conglomerados de mídia do Japão. Teve, em 2019, a maior circulação do mundo. São duas impressões diárias. Em junho de 2020, a edição da manhã atingiu 7,7 milhões de cópias.
Com toda a representatividade, o jornal de 30 páginas - número considerado alto para os padrões atuais - dá espaço à franquia como forma de atrair a audiência infantil. Em cada edição, um pokémon diferente aparece nas páginas internas. A brincadeira é encontrar o "monstrinho" - objetivo parecido com os do anime, mangá e videogames. "Procure! Pokémon!", é o que se lê na capa.
Ao encontrá-lo após folhear o jornal, o leitor, em duas das edições desta semana, teve acesso a textos curtos associando o pokémon em questão com alguma modalidade olímpica. O Blaziken, por exemplo, utiliza golpes com as pernas para derrotar os adversários na franquia. Ele foi associado ao taekwondo, que tem o mesmo princípio.
Mas a verdade é que o mais curioso de toda essa história é a tiragem impressionante do jornal impresso em um país extremamente tecnológico. Pokémon estar na capa? Nada mais natural do que um país explorar um dos seus maiores produtos culturais, que conquistou Oriente e Ocidente.