E não havia lugar melhor para a brasileira coroar a volta por cima na carreira. Feito para os Jogos de Tóquio de 1964, o Budokan é, mais que tudo, um lar espiritual. Do lado de fora, o projeto arquitetônico faz lembrar construções do Japão antigo. O espaço está localizado nas proximidades do Palácio do Imperador e do Santuário Yasukuni, centenário templo xintoísta.
São mais de 11 mil lugares disponíveis nas arquibancadas. Quase todos estiveram vazios ao longo do dia de competições. Quase. Quando chegou a hora das finais, o número de jornalistas presentes se multiplicou - os japoneses eram maioria. Do outro lado das tribunas, atletas que não competiram naquele dia vibravam pelos amigos e companheiros de delegação. O esporte é tão amado por aqui que há momentos em que voluntários, trabalhadores e até policiais deixam seus trabalhos para acompanhar as lutas decisivas.
E a trajetória de Mayra rumo ao pódio foi digna do local onde a trilhou. A brasileira avançou bem na primeira luta, contra a israelense Inbar Lanir. Depois, foi eliminada no golden score para a alemã Anna-Maria Ger Wagner - que também conquistaria o bronze. A repescagem foi diante da russa Aleksandra Babintseva. Depois, na decisão do bronze, Mayra se impôs com um ippon por imobilização sobre a sul-coreana Hyunji Yoon.
O feito é histórico. Mayra se torna a primeira brasileira com três medalhas olímpicas em esporte individual. Antes, conquistou o terceiro lugar nos Jogos de Londres, em 2012, e no Rio de Janeiro, quatro anos mais tarde. Ela agora é, de forma isolada, a recordista de pódios na modalidade mais vitoriosa do Brasil na Olimpíada. O judô tem 24 conquistas. A gaúcha tem três, acima de todos os outros.
Em Tóquio, além de Mayra, o também gaúcho Daniel Cargnin conquistou a medalha de bronze. Ele faturou o terceiro lugar ao superar o israelense Baruch Shmailov na categoria até 66kg.
Japoneses dominam
Historicamente, japoneses já dominam as premiações na modalidade durante os Jogos Olímpicos. Para esta edição, a expectativa e a pressão foram maiores sobre os donos da casa. E até agora as coisas estão saindo como o planejado. Em 12 categorias disputadas (seis masculinas e seis femininas), o país-sede levou dez medalhas (oito de ouro, uma de prata e uma de bronze).
As capas dos principais jornais japoneses estampam, quase diariamente, fotos dos campeões. Entre os ouros conquistados, chamam atenção os que os irmãos Abe conseguiram num mesmo dia. Primeiro, Uta subiu ao lugar mais alto do pódio entre as mulheres na categoria até 52kg. Minutos depois, foi a vez de Hifumi brilhar no grupo de atletas com no máximo 66kg.
"Tivemos muita determinação, esta é a razão. Este era o nosso sonho desde a infância", disse Uta, após a final. "Sim, eu vi a luta da minha irmã. Tinha certeza de que ela ganharia e que daria forças para a minha vitória. Fiquei mais determinado para vencer, não me senti pressionado, entrei com mais espírito combativo", reforçou Hifumi.
A expectativa é que o número de pódios do Japão cresça nos dois últimos dias de disputa da modalidade, que se encerram amanhã. O judô está, enfim, de volta para casa.
O budô
Artigo 1: Objetivo do budô - Por meio de treinamento físico e mental nas artes marciais japonesas, os expoentes do budô buscam construir seu caráter, realçar seu senso de julgamento e se tornar pessoas disciplinadas capazes de fazer contribuições para a sociedade em geral.
Artigo 2: Keiko (treinamento) - Quando estão treinando num budô, atletas devem sempre agir com respeito e cortesia, aderir às prescrições fundamentais da arte e resistir a tentação de perseguir movimentos meramente técnicos e, ao invés disso, buscar a perfeita união entre mente, corpo e técnica.
Artigo 3: Shai (competição) - Se estiver competindo numa luta ou fazendo formas paradas (kata), exponentes devem externalizar o espírito dominante no judô. Eles devem fazer o melhor de si em todos os momentos, ganhando com modéstia, aceitando a derrota e exibir constantemente o autocontrole.
Artigo 4: Dojô (local de treinamento) - O dojô é um lugar especial para treinar mente e corpo. No dojô, praticantes de judô devem manter a disciplina e mostrar próprias cortesias e respeito. O dojô deve ser quieto, limpo, seguro e mostrando sempre self-control
Artigo 5: Ensinando - Professores de budô devem sempre encorajar outros a se esforçar para ficarem melhores e treinarem suas mentes e seus corpos, enquanto continuam a aumentar seu conhecimento nos princípios do budô. Professores não devem permitir que o foco esteja em ganhar ou perder uma competição ou numa habilidade técnica. Acima disso, professores têm a responsabilidade de serem exemplos.
Artigo 6: Promovendo o budô - Pessoas promovendo o budô devem manter olhos e mente abertos. Eles deveriam fazer o máximo de esforço possível para contribuir com pesquisa e ensinamento e fazer o máximo para levar o budô adiante.