Alison dos Santos, o "Piu", nem parecia estar em uma final. Ao pisar na pista em que se consagraria pouco depois, o brasileiro de 21 anos levou a mão ao ouvido direito em pedido para que a torcida (formada por atletas) gritasse mais alto no Estádio Olímpico de Tóquio na madrugada desta terça-feira (tarde no Japão). E se divertiu. Em 46s72, fez um tempo que lhe garantiria o ouro em qualquer edição dos Jogos nos 400m com barreiras. Mas ficou com o bronze em uma das provas mais impressionantes da história centenária da Olimpíada.
O que Piu fez nesta prova foi impressionante. Histórico demais ter três atletas na casa dos 46s. Significa muito um brasileiro estar entre os medalhistas numa das provas mais importantes da centenária história olímpica.
Feliz, leve e descontraído, Piu - o "Malvadão" para a torcida brasileira - levou as mãos à cabeça sem acreditar no que havia conseguido fazer. Bateu o recorde sul-americano pela sexta vez neste ano e foi protagonista ao conquistar a primeira medalha olímpica individual do Brasil nas pistas de atletismo desde o bronze de Robson Caetano nos 200m em Seul, 1988.
O segredo para uma performance tão impressionante? Aproveitar o momento. Ou melhor: "xavecá-lo". "Sempre me dei muito bem aquecendo descontraído, levando tudo na leveza, escutando música, me divertindo e realmente 'xavecando' o momento", contou Piu, em declaração que tirou risadas dos jornalistas que o entrevistavam.
O medalhista de bronze ficou alguns segundos atônito antes de ir ao chão depois de ver no telão o tempo que havia conseguido. À frente dele, apenas o norueguês Karsten Warholm (45s94, novo recorde mundial) e o estadunidense Rai Benjamin (46s17). Depois de levar as mãos à cabeça em incredulidade, pegou uma bandeira do Brasil e correu em direção às tribunas para abraçar quem o havia incentivado durante a prova.
Mas engana-se quem pensa que Piu não sentiu a pressão. O jeito descontraído é justamente uma forma de aliviá-la. "Eu estava muito ansioso, muito nervoso, com medo, porque tem pessoas que estavam assistindo. Queria dar orgulho para elas, porque tem o trabalho de pessoas, que estavam na pista comigo, e eu não poderia decepcioná-las", admitiu.
Pressão aliviada
Nas semifinais olímpicas, Piu chegou ao estádio ouvindo o funk "Vulgo Malvadão". Na pista, dançou. E a brincadeira lhe rendeu um novo apelido. Na final desta terça, porém, o "Malvadão" mudou a trilha sonora.
"Hoje eu escutei bastante rap, músicas com letras muito boas, que me faziam pensar, querer ser melhor. Escutei a música do Kyan, 'O Menino que Virou Deus'. Eu aconselho", disse.
"Na música, ele fala que eu trouxe esperança para dentro de casa, sossego para dentro de casa, e que eu só voltaria pra casa quando cumprir a missão que foi dada. E hoje a gente cumpriu a missão. Dia 5 estou em casa e esquece!", completou.
Ao chegar em casa, o paulista de São Joaquim da Barra já tem um programa marcado: tomar uma tubaína, já que ganhou a aposta feita com uma amigo (correr abaixo de 47s). "Tomar na Itubaína e esquece. Estou louco por ela. Não aguento mais", riu e partiu para a festa.