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Hipismo lida com dois vírus durante Olimpíada; Brasil sonha com medalha

Equipe não é favorita, mas pode brigar por um pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio

Marlon Zanotelli, principal nome do hipismo brasileiro atualmente, compõe o time nacional de saltos por equipe
foto: Behrouz Mehri/AFP

Marlon Zanotelli, principal nome do hipismo brasileiro atualmente, compõe o time nacional de saltos por equipe

Enquanto o planeta sofre há quase dois anos com o coronavírus, os atletas do hipismo têm tido que lidar também com um outro vírus: uma nova variante da herpes equina (EHV-1) que matou pelo menos 18 cavalos na Europa nos primeiros meses de 2021. A propagação da doença influenciou decisivamente no calendário da modalidade - especialmente no Velho Continente - e ainda reverbera nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Em meio a esse complexo contexto, o Brasil inicia a disputa de saltos por equipes a partir das 7h desta sexta-feira com chances de surpreender e brigar por medalha.

"A gente certamente não é o favorito, mas tem uma equipe com um cavaleiro experiente (Rodrigo Pessoa), com cavaleiros que estão em boa forma. Então, a gente pode surpreender. Mas a gente claramente não é favorito. Tem equipes como Bélgica, Inglaterra, Alemanha, EUA, que são sempre mais favoritas do que a gente. Mas acho que a nossa melhor chance seria realmente na prova de equipe", analisou Pedro Paulo Lacerda, ex-atleta e chefe da equipe de hipismo do Brasil no Japão.

A preparação brasileira para os Jogos Olímpicos foi afetada, especialmente para quem passa mais tempo na Europa. Em Valência, na Espanha, o vírus foi detectado pela primeira vez. Países como Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Suécia e Suíça também identificaram a doença nos cavalos.

O vírus é transmitido pelo ar e não afeta humanos. Os animais podem ter febre, distúrbios respiratórios e até neurológicos. Grávidas podem sofrer aborto. "Nos casos mais severos, os cavalos perdem estabilidade e não conseguem se manter em pé. Minha preparação para os Jogos Olímpicos certamente foi afetada", relatou a cavaleira francesa Morgan Barbancon.

Para conter a disseminação, as federações de hipismo da Europa cancelaram todas as competições ao longo de dois meses e recomendaram uma quarentena - estratégias bem semelhantes às adotadas para frear o avanço da COVID-19 entre pessoas.

"É uma doença muito amedrontadora, porque não é uma gripezinha. Vários cavalos morreram por causa disso. É realmente perigoso, é preciso ter cuidado", analisou a cavaleira sueca Juliette Ramel.

Competições em 12 países foram canceladas. "O hipismo mundial foi impactado no último ano pela pandemia e no início deste ano pelo herpes vírus. Então, a gente não teve muita oportunidade de competir. O pessoal que estava nos EUA conseguiu saltar mais, mas na Europa ficou parado por dois meses", avaliou Pedro Paulo, carioca radicado em Minas Gerais.

Ações tomadas rapidamente como isolar cavalos contaminados, mantê-los sob quarentena e paralisar os concursos foram fundamentais para conter o avanço do vírus. As competições voltaram com rígidos protocolos de segurança.

"Foi bom porque segurou a pandemia, mas foi ruim porque impediu alguns eventos. Mas todo mundo passou pelos mesmos problemas, então a gente vai chegar em boas condições aos Jogos Olímpicos", completou Pedro Paulo.

Medalha à vista?

O conjunto brasileiro chega ao Japão sob a capitania do experiente Rodrigo Pessoa, três vezes medalhista olímpico nos saltos (ouro no individual em Atenas, 2004, e bronze com a equipe em Atlanta, 1996, e Sydney, quatro anos mais tarde). Ele disputa os Jogos Olímpicos pela sétima vez - recorde entre brasileiros ao lado da jogadora de futebol Formiga e do velejador Robert Scheidt.

"É uma grande honra ter representado o Brasil em sete Jogos Olímpicos. Espero poder fazer ainda mais pelo meu país, mas participar de sete edições honrando a nossa bandeira já é uma grande honra para mim", comemorou o único campeão olímpico do hipismo brasileiro. O país tem três medalhas no hipismo, todas com participação de Rodrigo Pessoa.

Ele vai montar no cavalo Carlitos Way. Completam a equipe Pedro Veniss (Quabri L'Isle) e Marlon Zanotelli (VDL Edgar), sétimo colocado no ranking mundial e principal nome brasileiro da modalidade atualmente. O reserva será Yuri Mansur (QH Alfons Santo Antonio).

É a primeira vez que as equipes na Olimpíada contam com quatro atletas. O substituto pode competir mesmo com o torneio em andamento. Não haverá descarte de resultados - os três valerão para o resultado. Anteriormente, o pior desempenho não era considerado.

O Brasil será o 15º de 19 equipes a competir na semifinal desta sexta-feira, no Parque Equestre. A expectativa é alcançar uma vaga na final de sábado (marcada para o mesmo horário) e, quem sabe, fazer valer um ciclo olímpico com tantas atribulações.

Medalhas do Brasil no hipismo olímpico

Rodrigo Pessoa (saltos individual) - ouro em Atenas (2004)

Saltos por equipe (Doda Miranda, André Johannpeter, Luiz Felipe Azevedo e Rodrigo Pessoa) - bronze em Sydney (2000)

Saltos por equipe (Doda Miranda, André Johannpeter, Luiz Felipe Azevedo e Rodrigo Pessoa) - bronze em Atlanta (1996)

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