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Brasil bate Espanha na prorrogação e ganha bi olímpico no futebol masculino

Em jogo tenso em Yokohama, Malcom sai do banco de reservas para marcar gol salvador e garantir a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio

07/08/2021 11:04 / atualizado em 07/08/2021 13:44
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Malcom marcou o gol da vitória sobre os espanhóis, na prorrogação
foto: AFP

Malcom marcou o gol da vitória sobre os espanhóis, na prorrogação



O palco da final olímpica já era sagrado para a Seleção Brasileira. Afinal, em 2002, o Estádio Internacional de Yokohama foi o cenário do título mundial contra a Alemanha. E, sob as bênçãos dos pentacampeões, o Brasil voltou a comemorar um título no local quase 20 anos depois. Na manhã deste sábado (noite no Japão), a equipe olímpica derrotou a Espanha por 2 a 1, em partida definida na prorrogação, e conquistou o bicampeonato em Jogos Olímpicos. O ouro da Olimpíada de Tóquio foi o segundo seguido, cinco anos após a vitória nos pênaltis diante dos alemães, no Rio de Janeiro.

O Brasil abriu o placar nos acréscimos do primeiro tempo, com Matheus Cunha. Mais cedo, Richarlison havia perdido um pênalti. Na volta para a etapa complementar, a Espanha melhorou e logo buscou o empate com Oyarzabal. O gol do ouro saiu no segundo tempo da prorrogação, em contra-ataque magistral definido com perfeição por Malcom.

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Bicampeonatos seguidos


Antes do Brasil, só quatro seleções haviam conquistado dois ouros seguidos no futebol masculino: Grã-Bretanha (1908 e 1912), Uruguai (1924 e 1928), Hungria (1964 e 1968) e Argentina (2004 e 2008).

A modalidade passou a integrar o programa olímpico na segunda edição do evento na Era Moderna (em Paris, 1900) e nunca teve um tricampeão. A Seleção Brasileira se credencia a buscar o feito inédito nos Jogos de 2024, que serão disputados novamente na capital francesa.

Ganhar dois ouros consecutivos é raro para o Brasil em qualquer modalidade. O país conseguiu a sequência dourada apenas quatro vezes. A primeira foi com o lendário Adhemar Ferreira da Silva, campeão no salto triplo nos Jogos de Helsinque (1952) e Melbourne (1956).

Depois, foi preciso mais de meio século para um novo bicampeonato. Em Pequim (2008) e Londres (2012), a Seleção Brasileira Feminina de Vôlei levou o título contra os Estados Unidos. Em Tóquio, tentará o terceiro ouro olímpico justamente contra o mesmo adversário, no domingo, a partir de 1h30.

A dupla da vela formada por Kahena Kunze e Martine Grael também conquistou o ouro em duas edições consecutivas de Jogos Olímpicos: no Rio de Janeiro (2016) e em Tóquio (2020, disputada em 2021). Agora, a dobradinha se completa também com o futebol masculino, que tanto demorou a ganhar o primeiro título, mas já emendou dois.

Maiores campeões


O Brasil é o país com mais medalhas olímpicas no futebol masculino (sete), duas a mais que Hungria, União Soviética e Iugoslávia. Em Paris, o país tentará igualar os maiores campeões.

3 ouros: Hungria e Grã-Bretanha
2 ouros: Argentina, União Soviética, Uruguai e Brasil
1 ouro: Iugoslávia, Espanha, Polônia, Alemanha Oriental, Nigéria, Checoslováquia, França, Itália, Suécia, Bélgica, México, Canadá e Camarões

A volta do 9


O silêncio até amedrontador no suntuoso Estádio Internacional de Yokohama deu espaço para os gritos de incentivo tão logo a bola rolou, às 8h30. A arena é a casa do Yokohama Marinos, segundo maior campeão da J-League, com quatro títulos - a metade do poderoso Kashima Antlers -, e tem capacidade para 72 mil torcedores. São quatro mil a mais que o Estádio Olímpico de Tóquio, palco escolhido para as cerimônias de abertura e encerramento.

Nas arquibancadas quase totalmente vazias do gigante erguido em meio aos prédios da segunda maior cidade japonesa, brasileiros credenciados para os Jogos Olímpicos pelo COB e pela CBF faziam as vezes de torcedores, ausentes por conta da pandemia de COVID-19. Ao longo da partida, o clima se estendeu para os jornalistas que ocupavam as tribunas ao lado. Os espanhóis, então, responderam em incentivo à talentosa geração olímpica.

Mas o ambiente das arquibancadas foi o que de mais quente se viu até os 15 minutos, quando Diego Carlos evitou um gol adversário ao cortar em cima da linha. A partida continuou morna e parecia se encaminhar para um 0 a 0 bastante estudado ao fim do primeiro tempo.

Mas aí brilhou a estrela de Matheus Cunha. Recuperado de uma contratura muscular na coxa esquerda, o camisa 9 brasileiro sofreu um pênalti do goleiro Unai Simon (marcado com o auxílio do VAR), aos 33'. Artilheiro dos Jogos Olímpicos, Richarlison foi para a bola e isolou. O principal jogador ofensivo do Brasil não fez uma boa partida, perdeu chances e ainda recebeu cartão amarelo.

Não se pode dizer o mesmo de Matheus Cunha. O atacante do Hertha Berlim, da Alemanha, completou com grande qualidade o passe de Daniel Alves. No meio de três, resolveu a jogada e ficou com espaço para finalizar de dentro da área. Belo gol que abriu o placar aos 46'.

Queda de desempenho


"O Brasil não parece o mesmo do primeiro tempo". A análise de uma repórter espanhola que transmitia a partida para uma emissora de rádio foi a prévia do que viria aos 15 minutos do segundo tempo. A Espanha passou a ter a bola por mais tempo e, com uma jogada que saiu da direita e terminou do outro lado, empatou o jogo numa bela finalização de Mikel Oyarzabal.

O lance lembrou muito um dos pontos fortes da Seleção Espanhola principal durante a Eurocopa, concluída dias antes do início da Olimpíada. Foi comum ver o time do técnico Luis Enrique explorar as costas dos laterais rivais e abusar das inversões de jogo. E a equipe olímpica tem vários atletas que estiveram na Euro.

Daí em diante, o jogo ganhou em tensão. Nas arquibancadas, apenas os jornalistas japoneses - que se espantavam com os dribles dos jogadores dos dois times - passaram a ser ouvidos. Mesmo com o cenário adverso que se apresentou na partida, o técnico André Jardine não fez atlerações.

Aos 39', a Espanha acertou o travessão em cruzamento que encontrou a direção da baliza; só quatro minutos depois, outra bola explodiu no poste em chute de Bryan Gil. Antes, o Brasil já tinha parado na trave após finalização de Richarlison cara a cara com Unai Simon, que conseguiu o desvio. Mas o empate persistiu e o jogo foi para a prorrogação.

Gol do ouro


O Brasil melhorou na prorrogação com a entrada de Malcom na vaga do cansado Matheus Cunha. O time criou boas oportunidades no primeiro tempo, mas não conseguiu retomar a vantagem.

O gol do ouro só saiu aos 2 minutos do segundo tempo da prorrogação, em um contra-ataque fatal após cobrança de escanteio da Espanha. Antony puxou pela direita e fez um lançamento primoroso para Malcom ganhar da marcação, invadir a área e mandar para as redes: 2 a 1 e bicampeonato garantido.

BRASIL 2 X 1 ESPANHA


Brasil
Santos, Daniel Alves, Nino, Diego Carlos e Guilherme Arana; Douglas Luiz, Bruno Guimarães e Claudinho (Reinier, no intervalo para a prorrogação); Antony (Gabriel Menino, aos 6' do 2ºT da prorrogação), Matheus Cunha (Malcom, no intervalo da prorrogação) e Richarlison (Paulinho, aos 8' do 2ºT da prorrogação)
Técnico: André Jardine

Espanha
Unai Simon; Marc Cucurella (Miranda, no intervalo para a prorrogação), Pau Torres, Eric Garcia e Oscar Gil (Vallejo, no intervalo para a prorrogação); Martin Zubimendi (Moncayola, aos 6' do 2ºT da prorrogação), Pedri e Mikel Merino (Soler, no intervalo do tempo regulamentar); Marco Asensio (Bryan Gil, no intervalo do tempo regulamentar), Mikel Oyarzabal (Rafa Mir, aos 13' do 1ºT da prorrogação) e Dani Olmo
Técnico: Luis de la Fuente

Motivo: final dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020
Local: International Stadium Yokohama, em Yokohama, no Japão
Data e horário: sábado, 7 de agosto de 2021, às 8h30 (de Brasília)

Gols: Matheus Cunha, aos 46' do 1ºT, e Malcom, aos 2' do 2ºT da prorrogação (BRA); Oyarzabal, aos 15' do 2ºT (ESP)
Cartões amarelos: Guilherme Arana, aos 19', e Richarlison, aos 30' do 1ºT, Matheus Cunha, aos 19' do 2ºT (BRA); Eric García, aos 25' do 1ºT, e Bryan Gil, aos 15' do 1ºT da prorrogação (ESP)

Árbitro: Chris Beath (AUS)
Assistentes: Anton Schetinin (AUS) e George Lakrindis (AUS)
VAR: Abdulla Al Marri (CAT)

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