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Presidente do Atlético cita 'caso Cuca' ao justificar interesse em Pavón

Alvo do Galo, atacante do Boca foi denunciado por abuso sexual na Argentina; treinador chegou ao clube alvinegro, em 2021, sob críticas por episódio na Suíça

25/03/2022 06:00 / atualizado em 25/03/2022 00:35
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Atacante do Boca Juniors, Pavón desperta o interesse do Atlético
foto: Alejandro Pagni/AFP

Atacante do Boca Juniors, Pavón desperta o interesse do Atlético

O Atlético tem conversas avançadas para se reforçar com o atacante Cristian Pavón, em fim de contrato com o Boca Juniors. A provável contratação, porém, desperta críticas de torcedores, porque o argentino de 26 anos foi denunciado por abuso sexual.

Em fevereiro de 2021, Gisela Marisol Doyle o acusou de tê-la violentado na Argentina e levou o caso à Justiça. O jogador nega as acusações.

Diante do cenário controverso, o Atlético designou um profissional para buscar informações sobre o caso. O departamento jurídico do clube entende que não há nada que possa macular a imagem do atleta, apesar da investigação.

Questionado sobre o tema, o presidente alvinegro, Sérgio Coelho, foi cauteloso. A princípio, não quis falar sobre a negociação, já que Pavón tem contrato com o Boca até junho. A partir de julho, está liberado para reforçar o Atlético.

"Falar de um jogador que tem contrato com outro clube eu não me sinto confortável. O Pavón tem contrato até o meio do ano com o Boca. É um jogador que pertence ao Boca neste momento. Seria deselegante da minha parte falar sobre ele", iniciou, em entrevista ao Superesportes.

Em seguida, falou sobre as críticas à diretoria por tentar contratar um jogador acusado de abuso sexual. Sérgio Coelho, então, citou o 'caso Cuca'. Em 2021, o clube foi cobrado por torcedores por contratar um treinador condenado por violência sexual contra pessoal vulnerável.

"Sobre a questão das críticas, o Cuca quando veio para cá recebeu mil e uma críticas. Nós fizemos nossa avaliação e achamos que deveríamos contratar. Especificamente as críticas em relação ao Pavón que a gente tem visto, é um jogador que não foi condenado, não tem nenhuma condenação, me parece até que o processo está sendo extinto. Vamos aguardar tudo, para um dia lá para frente voltar a falar sobre ele. É mais um bom jogador do Boca, mas ele ainda é jogador do Boca", completou Sérgio Coelho.

Suposto estupro


O caso de suposta violência sexual ocorreu na Argentina, em fevereiro de 2021, logo após o retorno do atleta dos Estados Unidos, onde defendeu o Los Angeles Galaxy por empréstimo. Gisela Marisol Doyle deu detalhes da acusação nas redes sociais.

"Essa pessoa (Pavón) não merece estar no clube (Boca Juniors), pois por seus maus atos terá que responder à Justiça. Por que eles fazem ouvidos moucos? Há um ano venho enfrentando muitas situações e tentando curar feridas e fazer a Justiça agir. O que está acontecendo com o clube do qual sou torcedora? Eles deveriam agir... Não aguento mais tanta hipocrisia... Espero e desejo que levem esse tipo de atitude em consideração", disse.

"Eu só quero que a Justiça seja justa. Porque o que essa pessoa fez comigo não tem nome. Um ano de sofrimento, um ano para avançar, um ano para me fortalecer. Eu não terei piedade como você não teve piedade de mim", acrescentou Gisela Marisol Doyle.

A defesa de Pavón alegou que a acusação era falsa. "O senhor Pavón e toda sua família estão muito tranquilos, confiando que a Justiça agirá e a verdade e os interesses ilegítimos por trás dessa falsa denúncia feita contra ele serão demonstrados", destacou.

A Polícia de Alta Gracia, em Córdoba, na Argentina, realizou a investigação. Por meio do profissional que cuida do caso, o Atlético obteve parecer informando que as provas não comprovam que houve violência sexual. Além disso, houve um suposto acordo entre a mulher e o jogador para o caso não ter outros desdobramentos midiáticos. O Galo não teme que esse vire um novo caso Robinho.




Episódios anteriores


O Atlético contratou Robinho, em fevereiro de 2016. Naquela época, o atacante já respondia a um processo na Justiça por 'violência sexual em grupo' contra uma albanesa que na época tinha 29 anos. Em novembro de 2017, ele foi condenado em primeira instância a nove anos de prisão.

O Atlético disse o seguinte naquele momento: "O clube mantém a postura de não comentar um assunto que é particular do jogador e que ainda está sendo discutido judicialmente".

Um coletivo de torcedoras denominado "Feministas do Galo" afixou faixas em frente à sede administrativa do clube, no Bairro de Lourdes, pedindo ação da diretoria.

"Robinho foi condenado por estupro e o Galo se calou diante disso, assim como o futebol se cala para o fato de acontecer um estupro no Brasil a cada 11 minutos. Acumulamos histórias de violência de jogadores contra as mulheres e não vamos mais permitir esse silêncio ensurdecedor. Ele já foi condenado e, ainda que caiba recurso, isso não isenta o jogador e o clube de realizarem um profundo processo de reflexão e autocrítica acerca do processo de banalização da violência contra a mulher. Além de acharmos inaceitável a diretoria do Galo não se posicionar, esperamos que não renovem o contrato com o jogador", disse o grupo.

Um outro grupo de atleticanas fez manifestação de apoio a Robinho naquela época.

Em dezembro de 2017, Robinho deixou o Galo. Em janeiro deste ano, o atacante foi condenado em última instância, na 3ª Seção Penal da Corte de Cassação de Roma, a nove anos de prisão. Por morar no Brasil, a possibilidade de prisão do jogador ainda é considerada remota por seus representantes.

O caso de Cuca e de outros três jogadores do Grêmio, Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, condenados por abuso sexual da jovem Sandra Pfäffli, de 13 anos, na Suíça, em 1987, ficou nas sombras por décadas e voltou aos holofotes em março do ano passado, quando o treinador foi contratado pelo Atlético.

Em agosto de 1987, o Grêmio fez uma excursão à Suíça. Os quatro atletas foram presos no Hotel Metropolitano, em Berna, por terem abusado de Sandra Pfäffli, que tinha ido com amigos ao quarto dos jogadores para pedir uma camisa do clube gaúcho.

Eles ficaram presos durante quase 30 dias e voltaram ao Brasil ao fim da fase de instrução do processo, ainda em 1987.

Em 1989, Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de prisão e multa de 8 mil dólares cada um. Fernando foi penalizado por ter sido cúmplice com três meses de prisão e multa de 4 mil dólares.

Nenhum deles foi ao julgamento - o Grêmio enviou o advogado do clube -, nem cumpriu a pena, já que o Brasil não extradita seus cidadãos.

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